Diferente de pleitos passados, esse processo eleitoral tem sido confuso para os cidadãos. Por exemplo, o eleitor votava em coligações e, hoje, temos federações. As coligações eram somente eleitorais, após o dia do pleito de outubro se extinguiam. Os partidos ainda podem se coligar para lançar candidatos nas eleições majoritárias para Prefeito, Governador, Senador e Presidente da República.
Nas eleições proporcionais, que neste ano são para os cargos de Deputado Estadual, Distrital e Federal, não há possibilidade de coligação. Os partidos que quiserem se unir antes da eleição devem formar federações, desde que assim permaneçam durante todo o mandato a ser conquistado. Assim, a principal diferença é o caráter permanente das federações.
Diante desse emaranhado de informação eleitoral – do “pode e não pode” – o eleitor que, no passado, precisava se ater apenas a tomar conhecimento de propostas e fazer escolhas, foi alçado ao nível de um alquimista para entender as mudanças a cada eleição. Está assim formada a primeira confusão.
E o cenário da divulgação das candidaturas? No passado recente, os programas eleitorais de rádio e TV eram cultuados como um divisor de águas, em muitos casos, para o conhecimento do candidato e suas propostas. Acredito que eles ainda têm a sua importância e simbolismo. Entretanto, com o advento das redes digitais, graças à leniência da legislação eleitoral no período de pré-campanha, já deveria ter começado, há muito tempo, a interação entre pré-candidatos e eleitores. Em vista disso, boa parte dos postulantes a cargos eletivos perderam a oportunidade de antecipar suas propostas e interação com o eleitor e, assim, na reta final somente reafirmar e sedimentar seus nomes e apresentar seus programas de governo.
Mas ainda há postulantes a cargos eletivos que apostam muito no horário eleitoral, que é exibido num tempo exíguo, de apenas trinta dias, quando haverá dificuldades para o eleitor se alinhar ou ter aceitação das propostas dos candidatos. Eis um equívoco. Já publiquei um texto abordando eleições digitais para candidatos analógicos e esse cenário, em muitos casos, continua estacionado.
E os profissionais do segmento têm ciência que os índices de audiência são baixos no horário eleitoral. Atualmente, o cidadão tem diversas opções além da TV aberta, como a TV por assinatura e os serviços de streaming. Inclusive, os serviços de streaming são a grande concorrência às emissoras de TV aberta. E esta pulverização diminui ainda mais o interesse do espectador pelo horário eleitoral. Eis a segunda confusão.
Já os debates começam à noite, costumam terminar até 1h00 da manhã e a maioria dos eleitores está concentrada nas classes C, D e E. Esses cidadãos pegam transportes coletivos muito cedo para a labuta diária e não podem se dar ao luxo de ficar assistindo debates até a madrugada antes de uma jornada exaustiva de trabalho. Geralmente, os debates servem para uma claque (torcida) que tem candidatos definidos e querem acompanhar seus escolhidos. Servem também para recortes de redes digitais que serão utilizados em prol dos candidatos. Os quais, aliás, a depender da edição, podem virar fake news ou memes.
Fim da festa
As eleições eram períodos festivos, de alegria, mas o processo está ficando ”chato”. Prova inequívoca disso é que as pesquisas vêm apontando que grande parte da população ainda demonstra pouco interesse pelos candidatos, especialmente às eleições proporcionais.
É o “nós contra eles”, o “um contra o outro”! Realmente, a festa acabou e no seu lugar entrou o ringue. Já chegamos ao nível de ouvir conversa de interlocutores na qual um coloca que o seu candidato é ruim, porém o do outro é pior. Isso é discussão política? E a fulanização que tira o foco do mais importante? Onde estão as propostas até o momento?
A cultura política atual é a de um Ba-Vi. Um presta! O outro não! E o contraditório inerente ao processo democrático? Pois creio que é pressuposto da democracia escutar o outro, independente da discordância.
O clima deveria ser de debate, propostas de políticas públicas de saúde, agricultura, planejamento urbano, saneamento, cultura, educação, mobilidade, emprego, economia criativa, segurança pública etc, etc, etc.
Afinal, a eleição deve, sempre, ser o ápice da democracia.
Robson Wagner
CEO da W4 Comunicação