A indústria química como a conhecemos hoje muito deve aos alquimistas e aos químicos. Os alquimistas eram intrigados pela busca da pedra filosofal, pelo elixir da vida e suas pesquisas tentavam descobrir como transformar os metais em ouro. Os químicos tiveram um papel fundamental no desenvolvimento industrial da Alemanha a partir da química derivada do carvão, a carboquímica, até a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, a indústria química norte americana, desenvolvida por engenheiros químicos, fez surgir uma gama enorme de substâncias derivadas do petróleo e gás natural, produzidas em
usinas de grande porte e de processo contínuo, denominadas de indústria petroquímica. A química do petróleo, promoveu um desenvolvimento sem precedentes na indústria em todo o mundo. Os plásticos, os fios sintéticos e artificiais, os elastômeros, os detergentes sintéticos os pigmentos, as tintas e vernizes fazem parte do dia a dia do homem contemporâneo. A aplicação de tecnologias cada vez mais avançadas, a obtenção de índices de produtividade cada dia maiores e a enormidade dos complexos industriais integrados, carregam consigo a promoção do desenvolvimento com a geração da riqueza das nações modernas.
As preocupações recentes com a redução das emissões de gás carbônico e a contaminação da atmosfera, causadoras do aquecimento global, está mudando mais uma vez os rumos da indústria química, abandonando o uso do carvão como fonte energética e substituindo o petróleo e do gás natural por outras matérias-primas. Assim, ao invés de se usar o metano (CH4) como fonte para a fabricação do hidrogênio, usa-se a água (H2O). A dissociação do hidrogênio do oxigênio da água é feita por eletrólise, a energia elétrica usada deve ser de fonte limpa, como a eólica, solar ou hídrica. Assim, o hidrogênio passa a ser produzido em escala industrial tendo como matéria-prima a água, o vento e o sol, recebendo a denominação de hidrogênio verde.
O primeiro fabrico de hidrogênio verde em escala industrial começou com a partida de unidade da Iberdrola na Espanha no dia 13 de maio deste ano. Centenas de fábricas estão sendo projetadas e construídas pelo mundo afora, contribuindo assim para a despoluição ambiental. Os países da Europa têm mais um motivo além desse, já que usam gás e óleo para geração de calor e eletricidade e por ser este importante insumo industrial importado predominantemente da Rússia através de longos gasodutos. A guerra estabelecida entre os dois maiores países da Europa, Rússia e Ucrânia, está acelerando essa mudança para que os europeus não fiquem dependentes do suprimento do gás russo, estabelecendo uma corrida para instalação dessas manufaturas.
Na Bahia, graças ao pioneirismo da Unigel, liderada por Henri Armand Slezynger, será instalada a primeira fábrica de hidrogênio verde do Brasil em escala industrial. Ela será a maior fábrica do mundo e referência para o mercado global. O convite para o lançamento da Pedra Fundamental, no dia 26/07/2022, já está sendo distribuído e deverá contar com a presença de autoridades federais, estaduais e municipais além, é claro, de representantes da sociedade, principalmente de empresários e profissionais de todos os níveis que atuam no setor. No local escolhido para sua instalação, no Polo Industrial de Camaçari, não faltarão ar, sol e água, notadamente desta última, extraída do manancial aquífero de excelente qualidade que já atraiu engarrafadoras de água mineral e fábricas de refrigerantes e cervejas.
A nova fábrica de hidrogênio verde não vai parar por aí. Ela vai ser integrada à fabricação de amônia (NH3) pela adição de nitrogênio, insumo extraído do ar atmosférico, também inesgotável como a água, o vento e o sol. No local já são fabricadas amônia e ureia, responsáveis por parte do abastecimento de fertilizantes nitrogenados indispensáveis ao agronegócio que atualmente puxa para a frente, com todo vigor, a economia do nosso País. No mesmo parque industrial a amônia já é usada na fabricação de acrilonitrila, metacrilato de metila e de sulfato de amônio, em fase de ampliação que se dará com a construção da nova fábrica de ácido sulfúrico do Grupo Unigel.
Se os ventos continuarem soprando, se o sol permanecer brilhando, se a água do manancial de Camaçari prosseguir protegida e se o nitrogênio do nosso ar seguir abundante, com certeza estaremos construindo com essa nova fábrica um excelente instrumento de geração de riqueza, trabalho, renda e fonte profusa para financiar a educação, a saúde, a segurança e a proteção ambiental, entre outras benesses que não podemos prescindir para vivermos em harmonia e com dignidade.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]