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OS FILHOS DO ALGORITMO – ARMANDO AVENA

Redação - 10/02/2022 08:27

Ainda somos filhos de Deus, mas agora quem traça nosso destino é o Algoritmo,  grafado em maiúscula pois é um novo Deus, onisciente e onipresente, e responsável por determinar nosso futuro e até nosso passado. Determina o futuro porque é  responsável pela seleção dos novos contratos de empregos, pelas compras que vamos fazer, pelas músicas e filmes que vamos assistir e por centenas de pequenas ações que pensamos estar fazendo livremente, mas que são induzidas direta ou indiretamente por ele. E determina o passado porque é ele que vai selecionar as notícias que estarão nos sites de busca e que vão contar a nossa história de acordo com sua percepção do mundo.

E, além definir o que vamos ver, o que vamos ouvir, o que vamos ler, a melhor rota a seguir e o que vamos comprar, o algoritmo tenta cada vez mais definir como vamos pensar. O algoritmo é o que chamamos de inteligência artificial, mas, na verdade, nada mais é do que uma sequência lógica de instruções  que torna  possível a um computador ou um aplicativo realizar uma ação de acordo com um fluxograma, mas então  como ele é capaz de fazer tudo isso? Ocorre que essa inteligência artificial colhe diariamente nossas informações, aprende a identificar-nos, avalia nosso comportamento e classifica e associa todas as informações com o objetivo de induzir nossas ações.

O novo deus induz você a comprar  baseado nas suas buscas e nos seus interesses na internet, passa a lhe encaminhar posts e vídeos nas redes sociais de  acordo com suas manifestações anteriores, de amor, ódio e medo,  e de tal maneira  que molda ou consolida seus gostos e preferências não só âmbito comercial, mas também suas posições politicas e sua forma de ver o mundo. Cada vez que que acessamos o celular fornecemos milhares de informações sobre nós mesmos  a um deus que tem o objetivo não declarado de vender produtos e ideias e que se vale de uma percepção do mundo que tende a ser reacionária, resistente à mudanças, pois tende a fortalecer ideias pré-concebidas.

E há muito mais.  Hoje, quando um currículo chega a uma empresa, ninguém mais avalia as habilidades ou  a experiência ali descrita, pois a vaga de emprego é definida pelo algoritmo. E no mercado de ações já existe um algoritmo investidor programado para reagir a alta ou a queda dos papéis e eles já representam mais de 40% das decisões de compra e venda. Claro, há avanços incríveis que podem beneficiar a sociedade, como, por exemplo,  o conjunto de algoritmos capaz de fazer um carro andar sem motorista e até voar nas cidades, de fazer um drone entregar mercadorias ou de montar um sistema que monitora  plantas industriais em tempo real, assumindo todas as  decisões, inclusive sobre logística, aumentando absurdamente a produtividade. Mas, é sempre bom lembrar, que o drone também pode lançar bombas no Afeganistão e que o avanço nas fábricas   significa a perda de milhões de empregos humanos, pois toda e qualquer atividade padronizável poderá ser feita por um algoritmo.

A verdade é que estamos submetidos a um novo deus que não só define o que vemos e como vemos, o que compramos e como compramos, mas que tem o poder de fazer nossa cabeça. Por isso, é imprescindível estabelecer uma política de controle e ética no mundo dos algoritmos, já que proteger nossa privacidade tornou-se impossível, afinal o novo deus é onisciente e onipresente.

                                                    OS JUROS E AS PECS

O Brasil voltou a cantar a ciranda dos juros. E a previsão já é de uma taxa Selic de 12,5% ao ano. Com uma inflação de dois dígitos, era preciso aumentar os juros, mas o Banco Central exagerou. Juros altos é receita para conter a demanda, mas a demanda  não está crescendo, pelo contrário, está estagnada, é só ver as vendas no varejo. A inflação brasileira hoje tem muito mais componentes de custos do que de demanda. Parte do aumento dos custos está no reajuste de combustíveis, que é um problema complexo que precisa ser equacionado tecnicamente. Como não há governo, esse assunto foi deixado nas mãos dos políticos e das suas PECs irresponsáveis que vão desequilibrar ainda mais a economia.

Publicado no jornal A Tarde em 10/02/2022

 

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