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JOSÉ MACIEL – MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AGROPECUÁRIA

Redação - 20/12/2021 09:28 - Atualizado 20/12/2021
Conforme informações de cientistas brasileiros estudiosos das questões climáticas , como Carlos Nobre e Eduardo Assad, diferentemente de outros países, em que a maior parte das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente  CO2, CH4 E N20, proveem da queima de combustíveis fósseis , no Brasil, entre 45 e 50% das emissões são atribuídas aos desmatamentos. Como na próxima década a nossa produção de carnes e grãos terá de aumentar em cerca de 30% para satisfazer as crescentes demandas dos mercados, a meta de zerar os desmatamentos terá de se materializar e já consta da lista de compromissos assumidos pelo Brasil em Acordos internacionais.
Conquanto o setor agropecuário seja considerado como a principal causa dos desmatamentos , a contribuição destes para o aquecimento global mundial  é estimada entre 10 e 13 %, portanto uma contribuição relativamente pequena.
É preciso reconhecer que os esforços de mitigação   das mudanças climáticas já estão  em andamento em nosso país. Nesse contexto, a agricultura brasileira tem se tornado mais eficiente, ou seja, a produtividade por unidade de terra tem aumentado consideravelmente  e a taxa de crescimento das emissões de GEE têm sido sistematicamente inferiores aos índices de incremento do valor total da produção. No período entre 2005 e 2016, essa taxa das emissões se reduziu em cerca de 35%  e isso se deveu fundamentalmente à queda vertiginosa dos desmatamentos na Amazônia. Portanto, redução dos desmates e aumento da produtividade da agropecuária são e serão condições necessárias para a redução consistente das emissões de GEE no Brasil. Adicione-se a esses componentes as ações relativas aos programas de Agricultura de Baixo Carbono empreendidas pelo Brasil no âmbito dos Planos Safra anuais, com aportes crescentes de recursos nos últimos anos.
Portanto, do raciocínio desenvolvido até aqui se depreende que não estamos discutindo se o clima está mudando ou não , se as temperaturas estão aumentando ou não. As tabulações de alguns pesquisadores já permitem constatar acréscimos de temperaturas  desde os anos 1960, conforme estudos de Eduadro Assad, da EMBRAPA. Estima-se ter havido aumentos de temperatura média superiores a 1 º C nos últimos  100 anos.
Nessas condições, uma forma importante de abordar e melhorar a adaptação da agropecuária às mudanças climáticas consiste em  melhorar geneticamente as cultivares (variedades) de culturas para torná-las mais resistentes aos extremos de calor e estresses hídricos. Mantidos os atuais padrões de emissões de GEE, a temperatura média em algumas regiões brasileiras poderiam ultrapassar os 30º C, inviabilizando a agricultura ou alguns cultivos em algumas zonas geográficas no País , tornando imperativo adotar medidas de novos zoneamentos para algumas lavouras. Por exemplo, o café teria de ser cultivado em áreas de maior altitude ou de clima mais ameno. O mesmo se daria com a produção de maçãs em Santa Catarina.
A EMBRAPA vem executando pesquisas   de adaptação de lavouras de grãos , pastagens, fruteiras e florestas para torná-las mais resistentes ao calor . Os esforços de “tropicalização” de lavouras de clima subtropical e temperado de algum modo se inserem nessa perspectiva. Pêra, maçã , caqui , amoras e mirtilos já estão sendo objeto de pesquisas até em perímetros  irrigados no nosso semiárido, com resultados promissores. Contrariamente ao afirmado em um artigo do Professor Eduardo Assad (ver a matéria “EMBRAPA desenvolve plantas resistentes ao aquecimento global”,  Revista Veja de 30 de março de 2010) , culturas adaptadas aos climas quentes da caatinga já estão  sendo objeto de estudos pela EMBRAPA, num esforço de “domesticação”, conforme já constatado em coluna anterior de nossa autoria nesse Portal . Umbu, cajá, cajarana, umbu-cajá,  e seriguela são alguns dos exemplos das pesquisas já conduzidas no semiárido nordestino (ver, por exemplo, o trabalho Cultivo de Fruteiras do Gênero Spondias no Nordeste , de Rejane Mendonça, Eugênio Emérito Araújo, Francisco Xavier de Souza e Nelson Fonseca, da EMBRAPA e da Universidade Federal da Paraíba, apresentado em seminários da EMBRAPA em agosto de 2020).

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