Bahia Econômica – Qual o impacto do 13° para a economia no brasil?
Samuel Torres – De acordo com uma estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o pagamento do 13º salário deve injetar cerca de R$ 232 bilhões na economia brasileira, o que representa cerca de 2,7% do PIB. Já de acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional do Consumo de Bens, Serviços e Turismo, em 2021, 78% das pessoas devem utilizar o 13º para consumo imediato, enquanto 14% devem utilizá-lo para o pagamento de dívidas. Como a maior parte do montante, que é relevante, será destinada ao consumo, o 13º pode alavancar as vendas neste final de ano. Contudo, essa estimativa já foi considerada nas projeções dos economistas e, por isso, não muda as expectativas para o crescimento da economia em 2021.
Bahia Econômica – Quais dicas o senhor dá para quem vai receber o benefício em 2021?
Samuel Torres – A minha recomendação é, antes de gastar o 13º, fazer uma revisão do planejamento financeiro pessoal para decidir de forma embasada o melhor destino para esse dinheiro. A prioridade deve ser o pagamento de dívidas, especialmente porque elas tendem a ficar mais caras com a alta da taxa Selic. As pessoas também não devem se esquecer de poupar uma parte do 13º para pagamento dos diversos gastos que podem ocorrer no final e começo de ano, como festas, IPVA, material escolar, entre outros. Sobrando dinheiro, minha sugestão é investir.
Bahia Econômica – O consumidor brasileiro tem criado o hábito de investir esses recursos extras que entram?
Samuel Torres – Não. Conforme revelam as pesquisas citadas acima, a maior parte do 13º deve ser utilizada para consumo ou pagamento de dívidas.
Bahia Econômica – Quais ativos o senhor recomendaria para quem está organizado financeiramente e esses recursos do 13° estão destinados a investir? Quais ativos o senhor não recomendaria?
Não existem ativos que eu recomende ou não recomende para todos. A parcela do 13º que puder ser destinada a investimentos deve ser investida nos ativos que fizerem mais sentido para os objetivos da pessoa, levando em conta o prazo de investimento e perfil de cada investidor.
Dito isso, o investidor deve estar ciente que com o aumento da taxa Selic e com os maiores prêmios de risco demandados pelo mercado, títulos de renda fixa, de forma geral, estão apresentando taxas bem interessantes. Contudo, com a incerteza quanto à inflação futura, títulos prefixados são, em minha opinião, os mais arriscados, devendo ser priorizados os títulos indexados à inflação e os pós-fixados.
Já para quem tem um prazo de investimento longo e está disposto a correr bastante risco, é interessante ter uma parcela da carteira em renda variável, principalmente em ações no exterior, pois a exposição cambial (preferencialmente ao dólar e/ou euro) provê maior proteção ao portfólio do investidor. Mas é preciso ter em mente que estamos passando por um momento de muitas incertezas com a aproximação da eleição presidencial e os problemas fiscais brasileiros, a nova cepa do Covid-19 e a redução dos estímulos monetários no exterior, principalmente nos EUA. Tudo isso pode continuar afetando negativamente o preço desses ativos no curto e médio prazo.
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