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VARIANTE DELTA MUDA ESTRATÉGIA DE VACINAÇÃO EM SSA

Redação - 20/07/2021 07:45 - Atualizado 20/07/2021

O temor com a rápida disseminação da variante Delta pelo Brasil e a de distribuição de doses por parte do Ministério da Saúde fizeram a prefeitura de Salvador mudar a estratégia de vacinação contra a Covid-19. A capital antecipou em quase uma semana a aplicação das segundas doses da Oxford/AstraZeneca. No último fim de semana, a prefeitura deu início a um mutirão na cidade para aplicar as segundas doses nos cidadãos com data de retorno até sete dias antes de completar as 12 semanas de intervalo recomendadas pelas autoridades de saúde.

Com as fronteiras sem nenhum controle mais rígido, a variante já está instalada no país e a sua chegada em Salvador é considerada inevitável. A resistência da nova versão do vírus a alguns anticorpos faz com que vacinas com as da Pfizer (13%) e da Astrazeneca (9%), por exemplo, sejam pouco eficientes contra ela. Estes fatores fizeram com que a Secretaria Municipal de Saúde determinasse a antecipação da dose de reforço. “Há uma preocupação muito grande com a rapidez de contágio da variante e estamos vendo o recuo de alguns países, então, é uma questão que acelerou a nossa tomada de decisão”, explicou o secretário Léo Prates em conversa com o grupo A Tarde.

Distribuição das vacinas

O titular da pasta diz que a estratégia de distribuição das doses por parte do Ministério da Saúde causa um acúmulo de vacinas que ficam paradas por até 20 dias para aguardar a aplicação. Os lotes são divididos entre D1 e D2 (para aplicação das primeiras e segundas doses), mas o Ministério envia a mesma quantidade nos dois. Como as vacinas exigem um intervalo para aplicação das doses, sendo de 12 semanas para as da Pfizer e Astrazeneca e 28 dias para CoronaVac, normalmente acabam as D1 e as D2 ficam em estoque aguardando o prazo para serem utilizadas. Prates defende que a secretaria tenha liberdade para fazer o manejo das doses e a aplicação de acordo com o cronograma e a cobertura vacinal própria do município.

“Nossa luta é para aumentar a cobertura vacina, mas essa tese esbarra no Ministério da Saúde, que não manda doses livres para a gente fazer como quiser. Manda 30 mil doses como D1 e 20 mil como D2. Na prática, os municípios estão com doses paradas. Não pode nos mandar com tanta antecedência. A gente está preocupado com a variante Delta e não poder vacinar, não tem sentido. Vivemos uma crise sanitária, você vai ficar com doses paradas?”, questiona.

A posição da SMS contraria decisão da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que reúne os secretários e prefeitos dos 417 municípios da Bahia, e da Comissão Intergetores Tripartite (CIT), que tem representantes do Ministério da Saúde. Em reunião no último dia 14 de julho, que teve participação da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), foi reforçada a orientação para que não seja antecipada a aplicação das doses, apesar da disseminação da variante Delta, que em menos de um mês de circulação no Rio de Janeiro se tornou a segunda com mais predominância no estado.

Choque com governo

O município tem autonomia para definir o esquema de aplicação de doses, mas isso implicaria em um choque com o próprio Governo Federal e Ministério da Saúde, que faz a distribuição das vacinas para as regiões do país. A Bahia, por exemplo, deixou de receber cerca de 750 mil doses de imunizantes, de acordo com cálculos do secretário de saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, com o repasse desigual. Neste senário, somente a capital deixou de receber 200 mil doses da vacina contra o vírus Sars-Cov2.

Há um acordo para que a CIB retome o debate ainda esta semana. Enquanto isso, Salvador e outras cidades seguem com vacinas contra a Covid-19 em seu estoque, e com milhares de pessoas aguardando a sua hora de serem imunizadas.

Questão de tempo

Em nota enviada à reportagem, a Sesab reforçou que é uma “questão de tempo” para que a nova variante seja identificada em todas as regiões do país, e que a única forma de minimizar o problema é acelerar a vacinação em todo o país, “o que significa que o Governo Federal deve aumentar e acelerar exponencialmente o quantitativo e a velocidade na entrega de novas doses aos estados de modo a atender a demanda”. A pasta destacou ainda que a necessidade de manter as medidas preventivas de restrição social e de higienização.

Doutor em virologia e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gubio Soares prevê que a variante Delta chegue em solo soteropolitano em pouco tempo, principalmente com a circulação de pessoas, incentivada pelo turismo.” Tem muita gente viajando de férias, do Rio de Janeiro, São Paulo, inevitavelmente vai aparecer em Salvador, é uma questão de dias”, diz o virologista.

Ele acredita que a decisão da SMS de antecipar a aplicação da segunda dose é acertada, principalmente pela capacidade da vacina de reduzir as chances do paciente de desenvolver sintomas graves decorrentes da infecção. O professor da Ufba, responsável por descobrir o Zika Vírus no Brasil, explica que tanto o governo da Bahia quanto o governo federal deveria apostar todas as fichas na compra da vacina da Janssen, produzida pelo Johnson & Johnson, que é de dose única.

“Foi uma decisão correta, já que alguns estudos recentes mostram que a segunda dose freia um pouco mais a variante Delta. Tem que ter mais vacinas e as pessoas precisam se conscientizar de tomar a segunda dose […] a variante quer encontrar pessoas que não tomaram, para se instalar e circular intensamente. As pessoas que já tomaram a primeira dose estão pelo menos mais protegidas, vão ter uma gripe comum, um mal-estar. Mas as que não tomaram nenhuma dose, vão sofrer mais. É preciso tentar conseguir mais vacinas da Johnson & Johnson, tem que se empenhar, pois é uma dose só e agilizaria muito, daria pra vacinar todos muito mais rapidamente”, assegura.

Foto: divulgação

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