Incomodado com as críticas ao governo no combate à pandemia da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que ainda não foi convencido a mudar de postura em relação ao tema e que o Brasil tem tido um trabalho “excepcional” na disponibilização de vacinas. Em discurso no Palácio do Planalto para assinatura do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o presidente aproveitou para fazer uma defesa da sua gestão na área econômica, da saúde e da educação.
— Devo mudar meu discurso? Me tornar mais maleável? Devo ceder, fazer igual a grande maioria está fazendo? Se me convencerem do contrário, eu faço. Mas não me convenceram ainda. Devemos lutar contra o vírus, e não contra o presidente — disse Bolsonaro na cerimônia. Antes de discursar, o presidente reclamou da ausência da imprensa à Secretaria Especial de Comunicação (Secom). Segundo ele, é “inadmissível” a sua assessoria deixar os jornalistas fora do evento, que foi restrito para autoridades, porque ele tinha “coisas maravilhosas para falar”. O presidente admitiu que estava dando uma “bronca pública” em seus subordinados.
Bolsonaro voltou a dizer que o Brasil é o quinto que mais vacina contra a Covid-19 em valores absolutos no mundo. Proporcionalmente, no entanto, somente cerca de 5% da população brasileira foi vacinada até agora. — Nós somos o quinto país que mais vacina em valores absolutos. A Fiocruz entra na segunda semana com a produção semanal de 5 milhões de doses. Está faltando vacina? Queríamos mais. Mas dentro da disponibilidade do mundo somos algo excepcional. Qual país do mundo não tem problema com vacina? — questionou. “Parece que só no Brasil está morrendo gente. Lamento o número de mortes, qualquer morte. Não sabemos onde isso vai acabar, se vai acabar um dia. Vamos ficar fechados até quando?”
Bolsonaro voltou a elogiar o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que está prestes a deixar formalmente o cargo, e a dizer que o seu sucessor, Marcelo Queiroga, vai deixar o ministério “mais voltado para a questão da medicina”. O presidente também disse que setores da sociedade o pressionam a decretar lockdown e que, se houvesse comprovação de que a medida acabaria com o vírus, em 30 dias ele aceitaria: — Se ficar em lockdown em 30 dias e acabar com vírus eu topo, mas sabemos que não vai acabar.
No mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reiterou que a situação da pandemia no Brasil é “muito preocupante” e recomendou um ação coordenada para combater o vírus, com os governos estaduais e municipais, Bolsonaro citou a instituição para dizer que o isolamento total não é eficaz.
— Querem, alguns setores importantes da sociedade, que eu decrete um lockdown nacional ou um lockdown regional. Porque eu devo seguir a ciência. Então eu vou seguir a ciência. Declarou aqui David Nabarro, emissário da OMS: “e, portanto, apelamos a todos os líderes mundiais, parem de usar o lockdown como seu método de controle primário…” — disse Bolsonaro.
E acrescentou: — Diz, então, a OMS, que a única consequência do lockdown é transformar as pessoas pobres em mais pobres. E alguns querem que eu decrete o lockdown? Me chamam de negacionista ou de ter discurso agressivo. Respeitem a ciência. Não deu certo. Não estou afrontando ninguém, estou seguindo a OMS. Não podemos transformar os pobres em mais pobres.
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