No último artigo, a partir do estudo da EMBRAPA , intitulado ” 2030: o futuro da agricultura brasileira”, abordamos os principais movimentos migratórios no Brasil, com especial destaque para a chamada “caminhada dos sulistas”, considerada a mais impactante para a produção de grãos no Brasil, e que colocou o Oeste baiano e o MATOPIBA definitivamente no mapa da produção de grãos mais dinâmica do país.
Este mesmo estudo coloca a agregação de valor no agronegócio brasileiro como uma tendência de grande importância, que merece, a nosso juízo, ser priorizada entre os analistas e nas políticas públicas .
Inicialmente, o aludido trabalho reconhece que a valorização de um produto a partir de uma avaliação de qualidade e preço é um enfoque demasiado simplista. Características especiais, serviços pós-venda, experiências com marcas exitosas, dentre outros fatores, também contam e agregam valor. Por outro lado, em economias maduras, como nos EUA, Itália e França, os consumidores valorizam bastante as compras da produção local, e isso beneficia em grau importante os pequenos produtores.
Outra forma de agregar valor aos produtos do agronegócio deriva da possibilidade de sua aplicação em diferentes setores industriais, como o químico e o setor farmacêutico. Ademais dos aspectos nutricionais, o açaí, por exemplo, é empregado para a produção de antocianinas, elementos com importantes propriedades terapêuticas, e também usados como insumos relevantes em outras indústrias, como vinhos e corantes naturais. A bioeconomia , que possibilita e possibilitará a obtenção de uma infinidade de produtos a partir de recursos biológico-renováveis , já é realidade. No particular, aliás, o Brasil, com 20 % da biodiversidade do planeta, pode ter um grande futuro no contexto desses novos paradigmas industriais.
Uma alternativa adicional de geração de valor no agronegócio consiste no uso de processos e obtenção de produtos valorizados crescentemente pelos consumidores, a exemplo de alimentos saudáveis e funcionais. É preciso considerar aqui que o consumidor brasileiro e de outros países vem valorizando progressivamente ou dando preferência a produtos cuja obtenção se dá respeitando atributos de qualidade, sanidade, e os cânones das legislações ambiental e social. Produtos orgânicos, gourmet e premium, isentos de alergênicos , com teores reduzidos de sal, açúcar e gorduras Trans, sem lactose, com rastreabilidade, com rotulagem informativa e outros atributos vêm ganhando a preferência dos consumidores. Tudo isso cria oportunidades de agregação de valor no agronegócio brasileiro e mundial.
Finalmente, sem querer esgotar o universo de possibilidades, a agregação de valor pela via da “origem” ou das Indicações Geográficas é outra forma promissora de agregação de valor no agronegócio brasileiro. Os países europeus têm centenas de Indicações Geográficas registradas. A França tem mais de 700. O Brasil tem pouco mais de 60 IGs, mas temos imensas possibilidades de crescermos nesse campo, com todas as repercussões positivas a serem geradas em termos de upgrade comercial e preços dos produtos agraciados, e de aumento do potencial turístico das regiões contempladas. A IG, com o se sabe, relaciona as especificidades, o diferencial e as singularidades de certos produtos e serviços à sua origem ou lugar onde a produção se tornou conhecida. Temos aqui no Brasil as modalidades Indicação de Procedência e Denominação de Origem. Em outra oportunidade, iremos detalhar esses conceitos. Por ora, é importante ressaltar que e a Bahia tem 4 importantes IGs aprovadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI): as mangas e uvas do vale do São Francisco, a cachaça de Abaíra, o cacau dos Sul da Bahia , e, mais recentemente, o café verde do Oeste baiano.
Entretanto, a despeito do mérito indiscutível desses produtos citados acima, outros têm potencial para pleitear e figurar nesse seleto time. O primeiro que salta aos olhos é o café de Piatã, e também o de Mucugê e outros municípios da Chapada Diamantina. Todos sabem que este café é conhecido e apreciado mundialmente, desfrutando de indiscutível reputação no universo de cafés gourmet e premium no plano internacional, inclusive no Vaticano, que tem importado frequentemente o produto baiano. Pelo que se sabe, a estratégia do SEBRAE e dos cafeicultores locais é preparar os produtores para dois pleitos, ou 2 IGs: uma contemplando a Chapada Diamantina como um todo, e outra exclusiva para Piatã, que na visão dos Consultores do SEBRAE, é um verdadeiro “Terroir” do setor de cafés especiais. Colocar Piatã e a Chapada no mapa das IGs nacionais é tarefa urgente. Mas, existem outras possibilidades com bom potencial para integrar essa lista baiana, segundo técnicos do SEBRAE. Entre elas, podem ser citadas a carne de bode e de cabrito de Uauá, a carne de sol de Itororó, artesanato de sisal de Valente, doces e geléias de umbu do serão do São Francisco, o café do Planalto de Conquista, o azeite de dendê de Valença, o guaraná de Taperoá, a farinha de mandioca de Nazaré das Farinhas, a cerâmica artesanal de Maragogipinho, as rochas de Ourolândia, a banana de Bom Jesus da Lapa, o biscoito de Vitória da Conquista e outros. Nesse sentido, cabe continuar mobilizando as comunidades ligadas a esses produtos e o SEBRAE (que tem sido um grande impulsionador desses pleitos de IGs) para viabilizar a inclusão desses produtos no mapa das IGs brasileiras.