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1/3 DOS BRASILEIROS VIVEM EM CASAS DETERIORADAS NA PANDEMIA

Redação - 17/12/2020 07:15

A filha mais velha foi morar num puxadinho no quintal. A família vizinha é formada apenas pela mãe e pelas crianças. O jovem sonha em se mudar da casa dos pais, mas o salário não paga o aluguel. Os parentes ocupam pequenas unidades no mesmo terreno. O imóvel no centro da cidade foi dividido em quitinetes. O trabalhador construiu uma residência sobre o rio onde mergulhava na infância. O pescador resiste em viver longe do mar. Histórias do dia a dia mostram que a família brasileira está em mudança, movimento que foi acelerado pela pandemia. As alterações no cotidiano, nos hábitos e na renda, no entanto, nem sempre são seguidas pelas políticas habitacionais.

Dos projetos do BNH da ditadura militar aos recentes Minha Casa, Minha Vida, dos governos do PT, e Casa Verde e Amarela, da atual gestão, o País vive uma série de experiências de habitação social, mas enfrenta um déficit alto. Não é só. Ao longo de 15 meses, o Estadão percorreu cidades do Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco e Rio Grande do Sul e constatou a necessidade também de definir modelos eficientes de casas, que incluem as questões da mobilidade e do meio ambiente, e investir em áreas coletivas para valorizar as residências.

As impressões de viagens podem ser reforçadas por números. Um terço dos 72,4 milhões de domicílios brasileiros tem condições inadequadas de moradia. O levantamento feito pela Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, a partir de dados de 2019, concluiu que essas residências têm problemas de construção, falta de infraestrutura urbana e irregularidades fundiárias. O trabalho da reportagem de acompanhar as famílias, iniciado em julho do ano passado, sofreu uma alteração. Em março, a covid-19 impôs o isolamento social.

Os contatos prosseguiram por telefone e WhatsApp. Neste período, a pandemia mostrou de forma intensa ausências do Estado e também sentimentos humanos e projetos pessoais. Olhares sobre a casa se abriram e surgiram novas configurações familiares. Numa resposta da sociedade e do Legislativo ao vírus, veio o auxílio emergencial e uma corrida às lojas de material de construção para pequenas reformas e novos alicerces. A brita e o cimento tornaram-se quase sonhos de consumo, com preços elevados. Mas houve espaço também para a solidariedade entre vizinhos e para recomeços.

A propósito, o Brasil celebra 60 anos de Quarto de despejo, diário de uma favelada, de Maria Carolina de Jesus, e 130 de O cortiço, de Aluísio Azevedo, clássicos sobre moradia por excelência. Longe de uma radiografia de um gargalo histórico, esta reportagem relata que políticas habitacionais costumam lembrar a música de Vinícius de Moraes: não tinha teto, não tinha nada. Mas também histórias de moradores que correm atrás do bem-estar – um direito universal – e fazem de espaços precários um lar.

Foto: divulgação

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