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ADARY OLIVEIRA – A NOVA GEOGRAFIA DO PETRÓLEO

Redação - 09/11/2020 08:52

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) emite mensalmente um completo e bem elaborado Boletim de Produção que neste mês de novembro completou 10 anos. Ressalta nas comemorações os grandes feitos relacionados com a produção de petróleo e gás natural de alto significado para a Nação Brasileira. Importante relembrar os esforços que desprendíamos nos anos 80 para superarmos o ambiente de altas taxas de juros, inflaçãoextrema e descontrolada e as importações de petróleo ao nível de 80% das nossas necessidades. Foi um alívio quando em 2006nos tornamos autossuficientes zerando a balança dessa conta. Melhor ainda, 14 anos depois o Brasil supera a marca de 4 bilhões de óleo equivalentes (óleo + gás) produzidos por dia, tornando-se o 10º maior produtor de petróleo do mundo.

Segundo o último Boletim da ANP os campos marítimos produziram 96,8% de petróleo e 85,7% de gás natural, contrapondo-se com a produção mundial que é de aproximadamente 70% realizada em terra e 30% no mar. A produção do pré-sal já representa 70% do petróleo produzido, revelando a aposta que está sendo feita pela Petrobras operadora responsável pela extração de 94,1% desse óleo, embora os campos com sua participação de 100% representem apenas 43% do total. No mundo o petróleo de produção terrestre é tido como mais em conta, daí sua supremacia sobre o produzido no mar. Fica a dúvida se a Petrobras está fazendo a escolha certa, quase que abandonando a exploração em terra.

A decisão estratégica da Petrobras de concentrar seus ativos no Rio de Janeiro e São Paulo onde estão concentradas as atividades de maior rentabilidade, não deixa de representar um ponto vulnerável por concentrar suas ações num único lugar. Ao mesmo tempo define geograficamente a política de exploração desse importante insumo industrial, que passa a ser feito por apenas uma empresa estatal, atuando apenas nos dois estados de maiorgeração de riqueza da federação, delegando para dezenas de empresas petrolíferas privadas, de todos os portes, o restante do território brasileiro. Está sendo dada alargada, portanto, do delineamento de uma nova geografia para o petróleo.A exploração e produção do Rio e São Paulo permanece estatizada enquanto os demais estados e Distrito Federal passa a ser território das empresas privadas.

Durante os quase 70 anos que a exploração de petróleo e gás natural foi de exclusividade do estado, com monopólio que se estendia às importações e exportações, a área do território nacional pesquisada não alcançou 5% do total, o que se pode considerar como muito pouco. Espera-se agora, com esta definição de distinguir os campos de atuação estatal e privada,que essa fonte de riqueza seja desancorada do litoral e avance para o interior do nosso imenso País.

Algumas outras iniciativas deverão ganhar espaço nessa corrida. A priorização da exploração do gás natural é uma delas, pela importância que tem estamatéria prima na produção de fertilizantes nitrogenados e como combustível limpo. Quando as duas plantas de amônia e ureia estiverem funcionando a plena carga,sob arrendamento ao Grupo Unigel, estaremos importando cerca de 85% da demanda requerida pelo nosso potente agronegócio. Em segundo lugar, torna-se necessário mais amplo diálogo com os órgãos ambientais para que seja permitida a prática do fraturamento hidráulico, tecnologia que barateia a produção do petróleo e gás natural guardados em imensa massa subterrânea de folhelho.

Vale a pena o registro de que a exploração em terra é feita no interior, para onde o desenvolvimento precisa ser direcionado. A pesquisa em área das bacias terrestres do Rio São Francisco, na Bahia e em Minas Gerais, na do Rio Solimões, no Amazonas, dos campos do Amapá e dos campos marítimos de Sergipe, não podem ser adiados, e a ANP tem o dever de acelerar a realização de leilões para incentivar a vinda de petrolíferas para ingressarem nessa cruzada. Como já escrevi em um de meus artigos sobre petróleo e gás natural, muito precisa ser feito para que o petróleo passe realmente a ser nosso.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.) – [email protected]

 

 

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