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SEM FESTIVAL DA VIRADA, PREÇOS DO ALUGUEL DE CASAS NO LITORAL NORTE DISPARA PARA ÉPOCA DE FINAL DE ANO

Redação - 28/09/2020 14:45 - Atualizado 28/09/2020

Sem a principal festa de réveillon do Brasil, “O festival da virada”, o publico está mesclarando seu planejamento de final de ano para as casas e hotéis no litoral norte.  Famosas por receberem baianos e turistas para o Réveillon, praias como Guarajuba, Itacimirim, Arembepe e Praia do Forte já contam com a maioria de seus imóveis ocupados para o período. Os preços do que ainda resta, segundo especialistas, estão bem maiores do que no passado, podendo ultrapassar 200% de aumento. “Esse é um ano atípico. Por causa da pandemia, muitos proprietários resolveram ficar nas casas para ter essa opção de lazer então a oferta de casas disponíveis diminuiu. O que sobrou para alugar acabou subindo bastante de preço”, explica a corretora Adriana Santiago, especialista em aluguéis de temporada no litoral há mais de 10 anos.

A profissional conta que, justamente pela mudança na quantidade de oferta, inclusive a forma de cobrança foi modificada. “Em anos anteriores a gente conseguia fechar pacotes de 5 a 10 noites e negociar um preço mais em conta. Agora os pacotes não estão sendo oferecidos, a cobrança tem sido por diária”, explica. Segundo Adriana, os valores por noite variam de R$ 1 mil a R$ 2 mil a depender da praia escolhida. No comparativo, um pacote de 8 noites em 2019 poderia ser fechado por R$ 5 mil reais e hoje pode variar entre R$ 8 e R$ 16 mil, o que representa um aumento de até 220%. Além da diminuição da procura, outra modificação é causada pelo cenário atual. “A pandemia gerou ainda um tipo diferente de cliente. Gente que por estar trabalhando em casa queria ter a opção de ir para um lugar para relaxar, para que os filhos ficarem mais à vontade. Ir para um lugar mais aberto, então além de quem tem o imóvel não estar disponibilizando, muito contrato anual foi fechado para que as pessoas tivessem essa opção de lazer”, diz Adriana, que é conselheira e diretora do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-Ba).

A mudança de comportamento extrapola o período de Réveillon e já vem sendo sentida pelas empresas do setor desde o meio do ano. A OR – braço imobiliário do Grupo Odebrecht – registrou nas diárias do seu empreendimento, o Quintas Private Residences, situado na região de Sauípe, um aumento de procura superior a 1.000% em relação ao mesmo período do ano passado para aluguel. “A pandemia acabou gerando uma mudança na forma em que as pessoas se relacionam com suas casas. Passamos da praticidade, do desejo por um apartamento funcional e prático, para a necessidade de maiores espaços, com área externa e as casas acabaram sendo muito procurada. O Litoral Norte ainda tem a vantagem de os condomínios oferecerem equipamentos como piscina, varandas, espaço gourmet, possibilitando às pessoas a viverem, dentro daquele espaço uma vida normal”, opina Daniel Sampaio, diretor superintendente da OR.

“Esse é um movimento linear que deve se estender para além do Réveillon, até que se encontre segurança e uma nova estabilidade para lidar com o vírus.   Foi algo que começou depois dos primeiros meses de isolamento, quando passou aquele susto inicial e as pessoas começaram a aprender como conviver com a situação de alguma forma com a situação e deve seguir”, completa Daniel, que já conta com ocupação alta no Ano Novo para o empreendimento de Sauípe. Usar o próprio imóvel para se isolar em um lugar mais aberto foi justamente a escolha  da aposentada Maria José Gomes, 64 anos, que tem um apartamento em um village em Praia do Forte. “Esse ano decidi que queria ter a casa a disposição da família. Como estamos todos respeitando o isolamento dá para irmos juntos ficar um pouco lá para mudar de ares. Até cogitei alugar no ano novo, mas acabamos decidindo por manter essa opção para gente também. Assim a família pode fazer algo diferente sem se colocar em risco”, explica.

Pesquisa de preços

O  Jornal Correio realizou uma simulação para o pacote que, segundo os corretores, é o mais buscado: 8 noites, desde o último final de semana de 2020 até o domingo após a virada, em duas das praias mais procuradas: Guarajuba e Praia do Forte. Em um dos principais sites de aluguel de temporada, o Airbnb, se a escolha fosse ir para Praia do Forte, seria necessário desembolsar entre R$ 926 e R$ 1.250 por noite. A busca do site, que oferece 270 opções para o período, chega a incluir na lista opções em locais próximos como Itacimirim e a sugerir buscas em Costa do Sauípe. A grande procura pelo local é destacada pela plataforma: “As buscas por essas datas aumentaram até 250% em comparação com a média dos últimos 6 meses”.

Em Guarajuba, a variação no preço da diária pode passar dos R$ 2 mil. É possível encontrar acomodação para cinco adultos variando de R$ 590 até R$ 2.638 a noite. Para a praia característica pela predominância de casas – que tem os preços mais caros que apartamentos – o site mostra um total de 161 opções, também incluindo imóveis nas proximidades. “Desde maio, observamos no Airbnb um crescimento da procura por casas de campo ou em cidades menores de praia em destinos a até 300 km de centros urbanos, para ir de carro com a família e ficar mais perto da natureza, sem abrir mão do isolamento”, informou a Airbnb em nota enviada ao Jornal Correio.

Período importante

O período de Ano Novo é, segundo a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia (Setur), um dos mais importantes do ano para o setor. Segundo dados recolhidos em 2019, entre o Réveillon e a primeira semana de janeiro, vários destinos trabalharam com a taxa de ocupação hoteleira entre 90% e 95%, com picos de 100% no Réveillon. A pasta reconhece, contudo, os impactos causados pela pandemia. “O vírus ainda está circulando, nos noticiários todos os dias são mostrados destinos no exterior que estão tendo que retomar os cuidados, até mesmo suspender as atividades de alguns lugares por voltar a crescer o número de pessoas infectadas após um certo período de reabertura. Há a expectativa se haverá uma vacina, então, são vários fatores que vão influenciar na decisão de viajar ou não no Réveillon”, diz a Setur também em nota. Segundo a pasta, destinos como Salvador, Porto Seguro, Praia do Forte, os resorts do Litoral Norte, Morro de São Paulo e Itacaré são sempre muito procurados durante o período. “Vale lembrar que este ano é um ano atípico, não estão previstas festas de virada de ano nos modelos que conhecíamos até hoje”, destaca a nota.

Praia do Forte

A praia localizada no município de Mata de São João é justamente uma das mais requisitadas quando o objetivo é encontrar um lugar para a virada do ano. Enquanto Arembepe atrai, segundo os profissionais da área, soteropolitanos em sua maioria, e Guarajuba acaba recebendo turistas de Minas Gerais e Brasília, Praia do Forte tem o público mais heterogêneo, recebendo pessoas de Salvador que se misturam com paulistas, mineiros, cariocas e até estrangeiros em busca de algo em comum: conforto. “Os aluguéis um pouco mais caros são os que acabam esgotando primeiro, casas onde o condomínio já tem bastante estrutura por exemplo você não encontra mais. O mercado tá realmente absorvendo esse pessoal que quer sair de casa, a procura está realmente bastante grande, tanto para o réveillon, quanto para finais de semana avulsos. Como as pessoas ficaram recolhidas muito tempo e Praia do Forte está com a praia liberada, elas têm buscado esse lazer, isso acaba sendo valorizado”, explica Vítor Hugo Knack, presidente da Associação Comercial e Turística da Praia do Forte (Turisforte).

O representante destaca, porém, que o movimento chegou com certo atraso. “Apesar da procura, foi um movimento mais lento, atrasado em relação ao ano passado porque as pessoas estavam meio aguardando o que ia acontecer, ver como a situação do vírus ia se comportar. Existe um otimismo de que a coisa já vai estar mais controlada, então em razão disso é que a procura pro Réveillon tem crescido, com alguns hotéis que já estão até lotados”, diz Vitor Hugo, lembrando que com 90 dias de antecedência, em anos anteriores, a Praia do Forte já estava completamente ocupada. Quem sentiu a  diferença foi a aposentada Maria Amorim, 64 anos, que ainda não encontrou inquilino para fechar o contrato do aluguel da virada. “O Réveillon é uma época importante para mim. Com esse aluguel eu já consigo cobrir todas as despesas fixas do imóvel, como condomínio e IPTU. Geralmente no meio do ano já tenho a cliente fechada. Como o pacote é grande, fecho com antecedência para que o pagamento fique facilitado para a pessoa. Esse ano ainda estou em negociação”, conta.

Para a prefeitura de Mata de São João, a expectativa é alta. “Dadas as circunstâncias, são as melhores possíveis. Pelo fluxo de visitantes nesse momento de retomada das atividades turísticas em nosso Litoral e dado que estamos em período de baixa estação, esperamos ser surpreendidos com um número significativo de turistas e visitantes para o próximo verão. Claro, todos respeitando os protocolos de segurança para previnir novos casos da Covid19 na cidade. Estamos estudando formatos de comemoração pela chegada de um novo ano, compatíveis com as medidas de contenção da curva de contágio aqui em Mata. Não podemos deixar de celebrar a renovação da esperança em cada ano que se inicia”, diz o prefeito João Marcelo Oliveira.

O gestor municipal acredita, ainda, que a baixa em relação ao ano anterior será menos brusca do que se previa nos primeiros meses de pandemia. “O ano passado, 2019, foi bom para o turismo aqui em Mata de São João. Este ano, carregamos o fardo dessa pandemia e, enquanto não houver uma vacina comprovadamente eficaz, tudo dependerá do comportamento da curva de contágio. Se essa se mantiver nos parâmetros atuais, acreditamos que a queda no movimento turístico pode ser menor do que o previsto”, finaliza Oliveira.

Foto: divulgação

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