Na coluna passada, salientamos que as exportações do agronegócio cresceram em março último em níveis significativos , sobretudo para a China e outros mercados asiáticos, permitindo uma certa expectativa de crescimento do setor para este ano, a despeito das projeções de contração econômica mundial e brasileira previstas por órgãos internacionais , bancos e consultorias. A valorização do dólar e os receios de desabastecimento manifestados por alguns países têm favorecido esta expectativa.
O FMI prevê uma retração de menos 5% para a economia brasileira em 2020 e a MBAssociados crava algo como 4,7% para o país como um todo. Neste caso, porém, o agronegócio é visto como exceção, já que a previsão é de um crescimento de 1,5%, sustentado pelas vendas externas e, em alguma medida, pela renda propiciada por alguns programas, como o Bolsa Família e o auxilio emergencial, este de caráter temporário.
No caso da demanda interna, as restrições à circulação de pessoas e o fechamento de redes de de serviços (afetando , por exemplo, a merenda escolar) e alimentação, como feiras livres , mudam os canais de consumo e podem repercutir temporariamente na demanda.
No caso das cadeias da pecuária e de carnes, as exportações tendem a impedir que se forme um cenário mercadológico adverso, mas produtos de maior valor agregado e maior elasticidade -renda da demanda, como queijos e derivados lácteos, podem ser negativamente afetados. Por sua vez, produtos, como tomate, batata , banana, verduras folhosas , carnes de frango e outros alimentos mais perecíveis também podem ser impactados. Adicionalmente ,agroindústrias mais focadas no mercado interno , como texteis, vestuário, calçados, móveis e outros tendem também a sofrer os efeitos da retração econômica projetada, segundo informações do CEPEA-Centro de Estudos em Economia Aplicada , da ESALQ/;USP.
Um segmento que tem sido afetado de modo considerável é o de flores. Fatores como o cancelamento de grandes eventos para evitar aglomerações, fechamento de floriculturas e garden centers e velórios rápidos e com impedimento da presença de muitas pessoas têm contribuído para esse cenário desalentador.
O setor sucroalcooleiro tem sido talvez um dos mais impactados pelo contexto da pandemia do novo coronavirus. O cenário adverso, magnificado pelo embate entre a Rússia e Arábia Saudita e a queda de demanda motivada pelas projeções sombrias para a economia mundial têm motivado, em larga medida, as repercussões no setor do petróleo e do etanol. Internamente, as restrições à circulação de pessoas e a recomendação das autoridades sanitárias no sentido de “ficar em casa ” também têm diminuído sobremaneira a demanda de combustíveis. A ministra Tereza Cristina tem conversado com o ministério da da Economia , mas não tem logrado êxito até o momento. Medidas como o aumento da CIDE sobre combustíveis , a postergação do pagamento do PIS/COFINS e uma linha de crédito para estocagem do etanol têm sido cogitadas , mas não obtiveram até agora a chancela da equipe econômica.