No momento em que estamos digitando esse texto, o novo coronavirus segue infectando pessoas e ceifando vidas humanas no Brasil e no mundo. Por conta dos efeitos sociais e econômicos decorrentes da emergência sanitária, o País torna-se ´palco de um debate acirrado entre os que defendem a continuidade do isolamento social e os que advogam sua flexibilização para algumas atividades não consideradas essenciais. Nesse contexto, e um pouco mais a frente, outros temas poderão emergir, como a discussão do papel do Estado no Brasil, com espaço inclusive para a discussões de propostas incluídas e recepcionadas no “cardápio” do pensamento econômico liberal (escola essa em que o ministro Paulo Guedes se formou), a exemplo do chamado “imposto de renda negativo” e outras variantes.
A despeito do cenário sombrio projetado para a economia mundial e brasileira, com previsões de contração do PIB, por conta da paralisação econômica, o agronegócio brasileiro vem apresentando um desempenho que poderá apontar numa direção contrária, conforme veremos a seguir.
Com efeito, as exportações agropecuárias brasileiras cresceram 13% em março deste ano comparado com março de 2019, alcançando um valor de 9,25 bilhões de dólares, com destaque para as vendas de soja, carnes bovina e de frango, açúcar e algodão, dentre outros itens. A China representou 41% das nossas vendas externas setoriais , ante 34,2% observados em março do ano passado. UE e EUA vieram a seguir.
Em termos de soja, o Brasil exportou 11,6 milhões de toneladas do grão (37,7% a mais que idêntico período do ano passado), internalizando uma receita de 3,978 bilhões de dólares, ante 3,02 bilhões de dólares registrados em março de 2019. As vendas de carne bovina saltaram de 118,5 mil toneladas para 125, 9 mil toneladas , gerando uma receita cambial de 555 milhões de dólares, um avanço de 26% em relação a março do ano passado.
Um fato a destacar se refere à conquista e ampliação de pelo menos mais 8 mercados, que, motivados ou receosos de problemas de desabastecimento no cenário da pandemia, procuraram o governo brasileiro para a busca de acordos e pedidos de fornecimento e compra de produtos agrícolas , dentre os quais carnes , pescados , milho, material genético de aves e bovinos, , incluindo a ampliação da lista de empresas brasileiras a serem habilitadas em vários casos. Entre esses mercados/ países , destacam-se o Egito, Indonésia, Malásia, China (cada vez mais nosso parceiro preferencial no comércio do agronegócio), Argentina , Colômbia, Kwait e Singapura. Esse parece um fato auspicioso, fruto , em boa medida , do trabalho incansável da ministra Tereza Cristina, na busca de mercados.
No que concerne à nova safra, do ciclo 2019/2020, plantada no segundo semestre do ano passado e colhida no primeiro semestre deste ano, o prognóstico da CONAB é animador. Se o clima continuar ajudando, deveremos colher 251, 8 milhões de toneladas de grãos , novo recorde, 4% acima da safra anterior, cravada em 242 milhões de toneladas (2018/2019). Importa ressaltar que , como boa parte será realizada este ano, esta nova safra terá importantes reflexos no PIB setorial de 2020. Essa é uma das razões para se acreditar na possibilidade de crescimento do setor do agronegócio este ano , ante a contração prevista para o PIB dos demais setores econômicos. Nas projeções do economista José Roberto Mendonça de Barros, em entrevista concedida hoje ao Globo Rural, esse deve ser efetivamente o único setor a crescer este ano no no Brasil. Além das exportações, os programas de transferência de renda em vigor devem ajudar na sustentação da demanda interna de alimentos no corrente ano, segundo o renomado economista.
(1) Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: jose.macielsantoshotmail.com