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PAULO AMILTON: EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NA CRISE DO COVID-19 DO OUTONO PASSADO

Redação - 02/04/2020 07:54

Em 17 de outubro de 1997 foi lançado o filme “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”. Este filme se desenvolveu numa pequena cidade costeira dos EUA. Passando férias de verão, quatro adolescentes atropelam e, supostamente, matam um desconhecido. Temerosos do que podia acontecer, decidem jogar o corpo no mar com a esperança de que se fosse achado pela polícia, esta concluiria que foi afogamento. A vida seguiu para os quatro. No entanto, tempos depois, os quatro jovens se reencontram no mesmo lugarejo e um deles recebe um bilhete dizendo, “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”. A partir daí começou uma série de mortes, todas perpetradas por alguém que usava um gancho de pescador.
Pois bem, começou a ser rodado no Brasil, sob a direção da impressa livre o filme “Eu sei o que vocês fizeram na crise do Covid-19 do outono passado”. O enredo deste filme vai descrever o comportamento de certas classes durante o transcorrer da pandemia em território pátrio. Aqui vai a descrição de alguns comportamentos que já aconteceram, estão acontecendo ou ainda vão acontecer. Estes vão deste atitudes oportunistas feitas na escuridão das atitudes tomadas para enfrentar o que vai vir, como também comportamentos que são expressões do mais alto grau de solidariedade humana. Começarei pela descrição do segundo tipo.
As empresas Gerdau, Ambev e o Hospital Albert Einstein anunciaram a doação de um centro de tratamento do Covid-19 com 100 leitos à prefeitura de São Paulo. Este centro ficará anexo ao Hospital M’Boi Mirim, na periferia pobre da cidade de São Paulo. No apoio aos profissionais de saúde, o colégio Miguel de Cervantes vai disponibilizar 300 vagas de creche para os filhos desses profissionais que trabalham no Hospital Albert Einstein, já que o colégio fica próximo ao hospital.
A ÚNICA (União da Indústria de Açúcar) vai doar 1 milhão de litros de álcool 70 às Secretarias de Saúde dos Estados de São Paulo, Rio de janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Isto tudo sem custo para o poder público. Vários profissionais liberais, funcionários públicos e empresários da Paraíba estão se movimentando para doar equipamentos hospitalares, principalmente respiradores, aos hospitais paraibanos. Estes estão agrupados no grupo de WhatsApp “Frente Público Privada PB”.
Alguns hotéis de São Paulo, que não estão com seus quartos ocupados em decorrência da ausência de hospedes, estão disponibilizando suas unidades para abrigar os profissionais de saúde com o objetivo destes profissionais não retornarem para suas residências e infectarem seus entes queridos.
No entanto, a mais notória mudança de comportamento foi que as classes alta e média despertaram para o fato que no Brasil existem pobres. Quando da implantação da obrigatoriedade da assinatura da carteira de trabalho das profissionais domésticas muitos membros destas classes afirmaram que seria um absurdo. Que haveria desemprego porque o custo da manutenção dos empregos ficaria inviável com a assinatura. Quando foi exigido o recolhimento do FGTS para essas profissionais, teve gente que quase teve um enfarte. Agora com o confinamento tudo mudou, as questões são, e os empregos? Como os pobres ficarão sem uma atividade econômica? As arruaças e saques vão começar porque os pobres não terão o que comer? Ou seja, pobre passou a existir. Isto é uma revolução, pois só se resolve um problema depois que se reconhece que ele existe.
Vamos agora aos comportamentos oportunistas. Representantes políticos dos fiscais da Receita Federal na aprovação da medida provisória do contribuinte legal na câmera dos deputados introduziram um artigo que tratava do estabelecimento de um bônus de eficiência. Um aumento salarial disfarçado no meio de uma discussão sobre redução de salários do funcionalismo público. Neste quesito, o judiciário já se manifestou pela oposição a aprovação desta lei alegando inconstitucionalidade. Ou seja, solidariedade entre classes neste momento só na hora de bater panelas nas janelas e cantar musiquinha das varandas. Mais que isto é inconstitucional.
A câmara de vereadores da cidade de São Paulo colocou jabuti melhor. Com a aprovação do estado de calamidade pública estabeleceu mais um grau de julgamento por desvio de comportamento de servidores públicos municipais que tratam do manuseio de verbas. Com a decretação do estado de calamidade vários entraves burocráticos são eliminados e se pode gastar mais à vontade. Neste ambiente, em vez de aumentar a vigilância por parte do TCM (Tribunal de Contas do Município de São Paulo), os servidores ganharam ausência de responsabilização de suas atitudes.
O Barão de Rothischild dizia, “quando tem sangue nas ruas, compre propriedades”. Parece que os representantes políticos de certas classes de servidores públicos adequaram a frase para “tem Covid-19 no ar, colocasse jabutis”. Mas a impressa livre esta vendo o que vocês fizeram na crise do Covid-19 do outono passado.

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