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COLUNA NO JORNAL A TARDE: ARMANDO AVENA – O CARNAVAL EM CADA CANTO DA CIDADE

Redação - 20/02/2020 07:25 - Atualizado 20/02/2020

Veneza que me perdoe, mas quem inventou o carnaval foi a Bahia. E pelo menos no quesito criatividade, nunca houve tanta como no carnaval de Salvador. Desde que a fobica do primeiro trio-elétrico foi as ruas, nosso carnaval está se reinventando e encantando o Brasil.  Já houve o tempo das caretas, dos desfiles dos blocos orientais, dos Filhos de Ghandi, que ainda hoje cobre de branco a avenida, dos Mercadores de Bagdá, sob o comando de Nelson  Maleiro, dos blocos de índios e das mortalhas, origem dos blocos de abadás. Depois veio a afirmação da  cultura negra e logo a cidade se encantou com a beleza e a força do Ilê, do Olodum e de todos os blocos afros que trouxeram nossas origens para a avenida. E a música sempre reinou, afinal desde que Caetano Veloso vaticinou que “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu,” os sons do carnaval fantasiaram-se de harmonia e ritmo para só então saírem na avenida.

E o melhor é que essa criatividade toda transformou-se em economia e hoje o carnaval é uma potência econômica que movimenta cerca de R$ 1,8 bilhão, atrai 800 mil turistas, envolve um imenso mercado de trabalho formal e informal e gera renda e oportunidades de negócios.  O carnaval é o clímax do verão baiano e o verão é a principal atividade econômica de Salvador no primeiro trimestre do ano. É bom lembrar que fazer uma festa deste tamanho é um desafio sem precedentes e  tanto o governo do Estado quanto a Prefeitura adquiriram expertise de modo que a segurança, a organização e o processo de “fazer o carnaval” merece aplauso.

É preciso, todavia, impedir que o deus da economia domine completamente o deus da criatividade. Por isso, o poder público tem continuar garantindo o desfile dos blocos afros, tem de evitar a excessiva camarotização do circuito Barra/Ondina e tem de estimular a diversidade. E, de certa forma, isso vem sendo feito, afinal as cordas que limitavam o espaço público estão escasseando, multiplicaram-se os trios que fazem a alegria da pipoca, o pré-carnaval sem cordas e sem camarotes explodiu no Fuzuê e no Furdunço e isso sem falar no singelo carnaval do Pelô. Mas uma certa homogeneização teima em passear nas ruas e nos sons do nosso carnaval, por isso tá na hora de cada folião inventar uma fantasia, organizar uma charanga e botar seu bloco na rua, não apenas na Barra ou na Avenida, mas em cada canto da cidade.

                                                  AS PREVISÕES DO COMÉRCIO

A Fecomércio-BA – Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo realizou, na última quarta-feira, sob a batuta do presidente Carlos Andrade, o já tradicional almoço com jornalistas para discutir as Perspectivas Econômicas em 2020. No evento, o economista da CNC, Fabio Bentes, mostrou que a demanda real por crédito atingiu sua maior expansão desde 2010, o que acena para elevação do PIB via consumo. Já as vendas no varejo baiano cresceram 2,1% em 2019, mas o setor de móveis e eletrodomésticos cresceu 9%, de tecidos e calçados superou 4% e as vendas de veículos elevaram-se em 1,6%. O consultor da Fecomércio-Ba, Guilherme Dietze, estima em 5% o crescimento nas vendas em  2020.

                                          O CAPITALISMO E O CARNAVAL

O carnaval de 2020 vai consolidar a força dos trios sem corda e reduzir ainda mais os chamados blocos de abadás, com corda. Só blocos com grandes artistas e, ainda assim segmentados, ou seja com predominância de um tipo de público,  terão condições de cobrar e lucrar com a venda de abadás. O resto viram blocos caça-níqueis.  Como o povo esta tomando conta das ruas, o que é um direito inalienável,  e os blocos perdendo o glamour, a classe média correu para os camarotes que, suprema ironia, a cada dia ficam mais parecidos com os antigos clubes. O Baiano de Tênis, o clube Português e a Associação Atlética vieram para rua, mas com distância regulamentar. É carnaval, mas o capitalismo é o Rei Momo.

Publicado no jornal A Tarde em 20/02/2020

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