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JOSÉ MACIEL – EXPORTAÇÕES AGROPECUÁRIAS PARA PAÍSES ÁRABES

Redação - 27/01/2020 11:37 - Atualizado 27/01/2020
No último artigo, destacamos alguns mercados importantes e promissores para o agronegócio nacional que devem ser olhados com atenção especial pela nossa política  externa e comercial. Algum detalhamento inicial foi apresentado para os mercados asiáticos, notadamente a China. Outros países, como Japão, , Hong Kong, Cingapura , Taiwan e Coreia do Sul, dentre outros, merecem também estar  permanentemente no nosso radar. Fizemos uma referencia rápida e preliminar aos países árabes, que já representam algo acima de 9% de nossas exportações agropecuárias, participação essa superior à registrada pelas nossas vendas setoriais para os EUA ( algo entre 6% e 7%).
O propósito do artigo de hoje é apresentar alguns dados que evidenciam a relevância dos árabes como mercados promissores para o agronegócio brasileiro.
Inicialmente, cabe ressaltar que esse universo de nações se caracteriza, de modo geral,por elevadas rendas percapita,, escassez de terras agricultáveis e/ou de recursos hídricos para irrigação, irrelevância do setor agropecuário na composição do PIB, histórico de perfil importador de alimentos , e um contingente populacional agregado de cerca de 400 milhões de habitantes, ingredientes esses que por si só já justificam uma atuação   atenta e prioritária   de nossas políticas governamentais  de exportação  e  dos agentes privados no Brasil envolvidos com comércio exterior.
Alguns países se destacam,  nessa perspectiva analítica,  a exemplo da Arábia Saudita, Emirados árabes Unidos e Irã, dentre outros, todos eles incluídos no grupo dos 30 maiores mercados ou destinos de nossas vendas externas agropecuárias.
Com mais de 30 milhões de habitantes, PIB percapita acima de 24 mil dólares anuais (mais de 2 vezes o parâmetro brasileiro) e uma irrelevante participação setorial de 2% no PIB total (dados  do Intercâmbio Comercial do Agronegócio, publicação do Ministério  da Agricultura), a Arábia Saudita importava em 2014 ( último ano de registro da citada publicação)  algo em torno  de 18 bilhões de dólares em alimentos. Desse total, o Brasil participava  com cerca de 2 bilhões de dólares ou pouco mais.  A pauta exportadora brasileira para este país inclui carne de frango (1,2 bilhão de dólares ), açúcar ( 430 milhões de dólares), soja (148 milhões de dólares ), milho  (136 milhões de dólares) e outros produtos. Em termos de futuro, os sauditas parecem pretender   aumentar as importações  de soja e milho do Brasil para  aumentar a produção interna de ração  e frango, com o propósito de diminuir as compras externas desse alimento estratégico, obedecendo possivelmente critérios  de segurança alimentar.
Menos populoso que a Arábia Saudita, os Emirados árabes Unidos têm um contingente populacional superior a  9 milhões de habitantes, mas um PIB percapita superior a 40 mil dólares anuais, o que equivale a quase 4 vezes o parâmetro brasileiro. A agricultura é irrelevante , participando com 0,7% do PIB total,  proporção esta que o configura como nação com perfil tipicamente importador de alimentos. O Brasil tem exportado habitualmente para os Emirados Árabes carne de frango, açúcar, carne bovina e farelo de soja.
Dos 3 países ora analisados, o  Irã é o que tem maior população (algo próximo a 80 milhões de habitantes) , menor PIB percapita (5,2 mil dólares anuais) e maior participação da agropecuária no PIB total  (9.1%). Os produtos de maior destaque de nossa pauta agropecuária para o Irã  são o milho, carne bovina, farelo de  soja e açúcar. Aparentemente, a exemplo da Arábia  Saudita, os iranianos, parecem invocar razões de segurança alimentar e priorizar  importar insumos para a produção interna de ração e de carne de frango. No caso do milho, o Brasil pode desfrutar de preferência  comercial do governo iraniano, por conta da tensão com os EUA. Desde , é claro, que o governo brasileiro opte  por uma posição de neutralidade no conflito Irã-EUA, posição pouco provável no momento.
Finalmente, é oportuno ressaltar que o governo brasileiro deve  procurar negociar uma diversificação da  nossa pauta setorial exportadora  em direção a outros produtos, a exemplo do acordo firmado recentemente com a China, para exportar melão para os chineses. Isso pode pode  abrir espaço de mercado para outras fruteiras, e , nesse particular, temos vantagens frente a  outros competidores,  como uma ampla “janela” temporal de produção. Voltaremos oportunamente a discutir estes assuntos.
(1) Consultor Legislativo e doutor em Economia pela USP.
E-mail:  [email protected]
Este artigo é dedicado à memória do Engenheiro Agrônomo Juarez Paiva, destacado integrante da equipe da extinta EBDA, recentemente falecido.

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