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ADARY OLIVEIRA: A VENDA DA BRASKEM

Redação - 28/05/2019 07:00

Euvaldo Luz foi um dos sete empresários agraciados com a Medalha do Mérito Empresarial Conde dos Arcos pela bicentenária Associação Comercial da Bahia, devido à sua notável conduta pública e por ter prestado relevantes serviços ao desenvolvimento econômico, social e cultural da Bahia através de sua ação empreendedora. Entre outras atividades notabilizou-se prestando serviços aos americanos fazendo reparo naval em seus navios durante a Segunda Guerra Mundial, serviço que continuou oferecendo em tempo de paz. Ele me contou várias histórias e feitos de sua vida fenomenal. Certodia, estava com uma equipe realizando serviços de manutenção em um dos navios da Petrobras quando, ao indagar a um dos operários se a empresa estava encontrando petróleo nos poços que perfurava nos vizinhos Estados de Sergipe e Alagoas,foi informado que só estavam encontrando água, nada de óleo. Um dos funcionários, ouvindo a conversa, comentou: “na semana passada descobrimos uma mina de sal-gema em Alagoas, parece ter dimensões gigantescas”.

Euvaldo guardou a informação para si e não titubeou, requereu autorização do Governo para realizar pesquisas. Anos depois, formara com a americana Dupont uma joint venture para explorar o minério. Seguiu em frente construindo uma unidade industrial, a Salgema, para fabricar cloro e soda, insumos importantíssimos da indústria química. O principal produto fabricado com o cloro é o PVC, dos tubos e conexões. A soda tem inúmeras aplicações industriais. Para se fabricar o PVC em Camaçari se construiu um etenoduto de 400km até Maceió e posteriormente uma nova fábrica de PVC no Polo Cloroquímico de Alagoas.

Para se ter uma ideia da importância do achado, a Companhia Nacional de Álcalis, fabricante de barrilha e localizada em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, trazia o sal do Rio Grande do Norte. A matéria prima chegava na fábrica ao preço de US$ 42,00 por tonelada. O sal da Salgema custava apenas US$ 4,00 por tonelada. Os empreendimentos do Polo Cloroquímico passaram a ser mais importantes para o Estado de Alagoas, do ponto de vista econômico, do que a fabricação do tradicional açúcar demerara. A partir de então, os funcionários públicos de Alagoas não mais tiveram seus honorários atrasados.

Hoje a unidade da antiga Salgema está integrada à Braskem, empresa que nasceu na Bahia sendo uma das maiores petroquímicas do mundo, com mais de 40 fábricas.Sendo considerada a joia da coroa de Odebrecht, ela está sendo vendida à holandesa LyondellBasel, numatransação estimada em R$ 20 bilhões. Entretanto, o negócio que parecia ir de vento em popa parece estar ameaçado. Para o Serviço Geológico do Brasil a extração do sal-gema do subsolo estaria causando o afundamento de bairros de Maceió, por alteração da estrutura geológica, e a negociação estaria suspensa até confirmaçãoda veracidade da informação.

A notícia não é boa para ninguém, principalmente para o governo alagoano por perder importante receita de tributos com a paralisação das fábricas de cloro-soda, dicloroetano e PVC. A fábrica de PVC de Camaçari também seria afetada ehaveria redução do consumo de eteno produzido em Camaçari.

Não se tem certeza domotivo do afundamento e não se pode afirmar que a mineração é a causadora. Se for, há de se encontrar uma solução, reparando-se os danos e modificando-se o projeto de exploração. O que não se pode é perpetrar ações prejudiciais ao negócio antes da fidúcia, deferindo-se aplicação de multas, bloqueio de recursos da companhia e contingenciamento de valores. Essas provisões fragilizam a empresa e retardam a execução das providências que os profissionais da mineração vão apontar como recomendáveis.

No passado, os técnicos do meio ambiente queriam fechar a fábrica de soda-cloro por responsabilizá-la pela secagem das folhas dos coqueirais. Só foram convencidos do contrário quando a empresa plantou as palmeiras em seu terreno protegendo-as da maresia com telas plásticas. As árvores próximas da usina passaram a ser vistosas, em contraste com as plantadas nos canteiros à beira-mar.

Adary Oliveira é presidente da Associação Comercial da Bahia – [email protected]

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