Após quase 30 anos de governos com perfil nitidamente social democrata e com forte participação do Estado em todas as áreas, o Brasil vai ter um governo liberal, pelo menos no que se refere à economia. Mas não se dá uma guinada dessa magnitude sem um choque, e foi esse choque liberal que o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou ao assumir o cargo. Guedes está se propondo a fazer uma reforma completa do Estado brasileiro com foco na contenção de gastos, na privatização acelerada, na redução, descentralização e simplificação de impostos e na abertura da economia.
Com franqueza exuberante, mandou um aviso ao Congresso: se reforma da Previdência não passar, o governo tem um plano B e vai mandar uma proposta de emenda constitucional para desvincular todos os recursos do orçamento, inclusive nas áreas de educação e saúde. O plano B é inexequível e sua aplicação demandaria a mudança de dezenas de pontos da Constituição de 1988, por isso o anúncio do ministro soou como uma bravata, ou uma forma de pressionar o Congresso.
No entanto, se a reforma da Previdência for aprovada, Guedes poderá implementar seu choque liberal atacando a trajetória explosiva da dívida pública, que exige do país quase R$ 300 bilhões por ano para ser financiada e que, como diz o ministro, é algo do tamanho do plano Marshall que recuperou a Europa após a 2ª guerra. A expectativa de Paulo Guedes é não permitir a expansão dos gastos do governo, mantendo o custo nominal da máquina, o que, com o crescimento de 3% da economia e a inflação de 4% ao ano, faria a dívida decrescer rapidamente. Mas, para isso, o corte terá de ser monumental.
Num país em que empresários, políticos, servidores e classe média em geral tiram anualmente seu sustento ou parte dele de todo tipo de associação com o Estado, cada corte vai gerar uma reação e essa reação será consubstanciada na pressão política das associações empresariais, das centrais sindicais, das greves e por aí vai. O governo terá de suportar pressões gigantescas, muitas delas vindas dos próprios ministérios cujo orçamento será sangrado em prol do equilíbrio fiscal. Mas se resistir a elas poderá viabilizar o crescimento sustentado e assim sepultar o modelo de Lula e FHC, ambos fundados na ampliação dos gastos estatais, embora cada um com suas nuances e prioridades.
O último presidente a tentar implementar um choque liberal foi Fernando Collor de Mello e deu no que deu, mas a situação atual é bem diferente. A inflação está contida, os juros estão baixos, as reservas impedem qualquer crise cambial e a capacidade ociosa da economia é de 25%, o que significa que o consumo pode voltar a crescer sem que haja impacto na inflação.
Guedes tem razão ao dizer que o excesso de gastos gerou “piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político”, mas é sempre bom lembrar que muitos desses algozes estavam sentados assistindo a posse do novo presidente. Guedes tem razão ao dizer que o crédito estatal e um bando de bancos privados fizeram do Brasil um “paraíso dos rentistas e o inferno dos empresários”, mas é sempre bom lembrar que são esses bancos que financiam a mastodôntica dívida interna brasileira. Em resumo: após 30 anos de reinado do Estado todo-poderoso, um barão liberal se dispõe a tomar o poder, mas ele precisa saber que esse poder não será cedido sem luta.
O MUNDO DO CHANCHELER
No mesmo dia em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um discurso focado e objetivo, de cunho liberal e globalizante, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez um discurso que, recheado de citações gregas, parecia estar falando da Grécia antiga onde cada cidade-estado defendia seu torrão com unhas e dentes. O discurso do ministro foi contra a globalização e em defesa de um estado-nação forte desalinhado das grandes questões mundiais.
O mais engraçado é que Araújo parecia estar em outro mundo, falando de um Brasil forte, que não se alinhe facilmente e que imponha seu pensamento ao mundo, esquecendo que na posse do presidente Bolsonaro apenas dez chefes de Estado se fizeram presentes, nenhum deles de importância mundial. Pode-se até compreender que o país que é responsável por mais de 20% do comércio internacional seja arrogante e diga “América First”, mas dizer “Brasil Firts”, quando este país representa 1% desse comércio, soa risível.
A POSSE DE RUI
O discurso do governador Rui Costa na cerimônia de posse do seu segundo mandato chamou atenção pelo tom moderado e pelo foco em questões estratégicas. Rui deixou de lado as querelas políticas e preferiu traçar um espécie de plano de ação no qual sobressaiu a prioridade dada à questão da educação, à promessa de mexer no sistema de regulação na área de saúde e de investir mais em segurança pública. Aliás, em relação à educação, a experiência do Ceará, que hoje está entre as melhores notas do país no Ideb, poderia ser um bom modelo, e na área de segurança será indispensável total entrosamento com o governo federal. Rui reiterou a prioridade nas áreas de infraestrutura e mobilidade urbana, que estão bem azeitadas, e que caracterizaram o governador como um fazedor de obras. E manifestou seu empenho para viabilizar a Ferrovia Leste-Oeste, obra fundamental para o futuro da Bahia. O governador também anunciou a intenção de dar prioridade a nomes mais técnicos nas mudanças que pretende fazer em algumas secretarias, o que pode melhorar a gestão em várias áreas, consolidando seu perfil de bom administrador.
GERALDO JR. E A PREFEITURA
Com um belo discurso, citando escritores e poetas, o vereador Geraldo Júnior assumiu a Presidência da Câmara de Vereadores de Salvador, após a gestão profícua do vereador e hoje deputado estadual Léo Prates. Geraldo Júnior representa mais um capítulo na renovação da política em Salvador e propõe uma gestão modernizante e focada nos resultados e na maior participação popular. O mais interessante, porém, é que na solenidade estavam presentes pelo menos quatro potenciais candidatos à prefeitura, a saber: Bruno Reis, vice-prefeito de Salvador; João Leão, vice-governador do Estado, cujo filho Cacá Leão é considerado nome forte na disputa; Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, e nome que teria espaço tanto na oposição quanto na situação; e o próprio Geraldo Júnior que, como presidente, pode se cacifar para o cargo.
NETO, DANIELA E O RÉVEILLON
A economia do Verão movimenta a cidade inteira, mas sua base é o lazer, o turismo e o entretenimento. O prefeito ACM Neto percebeu isso e acertou em cheio ao criar há seis anos um produto que reuniu tudo isso na virada do ano. Resultado: com o Festival da Virada, Salvador, que já tem o maior Carnaval do Brasil, passou a ter também o maior Réveillon. E, com a festa, a cidade passou a ter também mais serviços, mais comércio formal e informal e mais emprego e renda. E deu orgulho ver Daniela Mercury, no primeiro dia do novo ano, cantar ao pôr do sol, como sempre fez, para assim encantar a cidade da Bahia.