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ERICK FIGUEIREDO: O PONTAPÉ INICIAL

Redação - 29/11/2018 16:14 - Atualizado 29/11/2018

Costumo iniciar minhas aulas introdutórias de economia externando um certo desprezo por definições de livros-texto. Seria simples destacar em negrito no meu slide inicial a, bem conhecida, definição da disciplina como “a ciência que estuda a alocação de recursos escassos”, e seguir a minha aula topificando o conteúdo dos livros. Mas não, não compartilho dessa metodologia. Prefiro pensar que a economia estuda o comportamento humano, suas reações ao sistema de incentivos e como as políticas   — públicas ou não — impactam no bem-estar social. Com essa idéia em mente, convido os alunos a pensar sobre o mundo que os cerca. Sobre como o pensamento racional e cientificamente organizado os tornam pessoas mais interessantes e capazes de pensar fora da caixa do senso comum.

Nessa trajetória, podemos transitar pelas idéias de Gary Becker e o papel da estrutura familiar no comportamento econômico. Demonstro que a a família bi-parental tem sido um dos pilares do capitalismo e; assim o é, porque resistiu aos diversos “testes” empíricos ao longo dos anos. Discutimos um conceito novo chamado de “função utilidade”, ou seja, algo que representa o nosso nível de satisfação obtido a partir da ponderação de bens (algo que desejamos) e maus (algo que queremos evitar). Com base nessa função, discutimos, ainda sob a companhia de Becker, a modelagem de comportamentos criminosos a partir de uma relação custo/benefício do crime. Apresento a teoria dos jogos, costumeiramente técnica e matematizada, como uma forma de entender os conflitos. Ela pode nos dizer como a interação de equilíbrio de duas nações com elevado potencial bélico é caracterizada pela escolha voluntária da paz.

Temas mais populares, como os da distribuição de renda e pobreza, são abordados mostrando que as políticas de compensação são ineficientes e, na melhor das hipóteses, o ideal seria não tentar interferir nas relações de mercado. Para tanto, preciso convidar o Kenneth Arrow para me ajudar. Ele, na figura de um dos maiores economistas da história, me auxilia dizendo: ”I therefore have a built-in belief that reducing income inequality is not in contradiction to economic freedom but part of it.” Idéias estruturalistas sobre a visão comercial? Sim, há espaço para tudo, pois, como disse certa vez o grande Homer Simpson: “nem tudo está perdido, algumas coisas podem se usadas como mau exemplo”. Após essa observação construtiva, defendo o livre mercado informando que ele não só melhora os indicadores macroeconômicos, como contribui para a redução das disparidades sociais. A política também será tema de minhas conversas. Não porque gosto dela e sim porque ela ainda possui um efeito elevado no dia a dia das economias brasileira e mundial. Melhor seria se não existissem burocratas interferindo em nossas vidas. Mas já que o temos, então devemos entender as consequências práticas de suas ações. No final da minha conversa, aqueles que ainda estão acordados são convidados a discutir o que quiserem. Desigualdade de gênero, fraude nos esportes, porte de armas e seu impacto sobre a criminalidade (…) A única exigência é que o pensamento possua um método e que as relações espúrias sejam jogadas para debaixo do tapete.

É com esse pensamento que tentarei conduzir essa coluna. Este valioso espaço cedido pelo blog Bahia Econômica servirá para análises do cotidiano. Exposições fora da abordagens comuns da ciência econômica. Aqui eu não me apegarei às análises das flutuações cambiais, dinâmicas do produto interno bruto ou a importância das metas de inflação. Neste espaço prevalecerá uma visão simples e direta sobre problemas pouco explorados na literatura de divulgação econômica. Espero que vocês fiquem acordados até o final.

 

Erick Alencar FigueIredo

Professor de Economia da UFPb

Doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pesquisador B do CNPq

 

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