Na insonsa campanha eleitoral que resultou na reeleição do governador Rui Costa, o candidato do MDB, João Santana, se destacou pela repetição de um bordão: o problema da Bahia é a falta economia. Abstraindo a intenção política, o diagnóstico estava correto: está faltando economia para dinamizar a Bahia e o governador Rui Costa vai ter de enfrentar o problema se quiser evitar que o estado continue a perder posição relativa no ranking dos maiores PIBs do país. Além disso, sem a dinamização da economia estadual, o crescimento real da arrecadação tenderá a cair e já não há mais espaço para ampliar os impostos como tem sido feito até aqui. O problema da economia baiana é que alguns dos seus principais segmentos perderam competitividade, alguns porque foram afetados pela recessão, outros por conta da obsolescência e da falta de modernização e outros pela crônica deficiência de infraestrutura.
A indústria, principal setor produtivo do estado, é o caso mais emblemático, já que seu parque industrial vem perdendo competitividade por causa da deficiência de infraestrutura – a rede portuária e ferroviária em seu entorno está a demandar investimentos e modernização há mais de 20 anos –, mas também porque a produção do seu principal ramo produtivo, a produção de petróleo e o refino de combustíveis, que representa 30% da produção industrial e 25% da arrecadação do ICMS, vem caindo há três anos consecutivos. Com isso, dezenas de empresas industriais, de comércio e serviços, que atendiam a demanda da Refinaria Landulpho Alves estão em crise. Além do problema da RLAM, há questões fundamentais, como a reformulação mundial da Ford e a questão da prorrogação dos incentivos, a possível venda da Braskem para um grupo holandês, os problemas da indústria de equipamentos eólicos, informática e outras e não há no governo do estado a definição de uma política industrial efetiva, seja para acompanhar essas questões, para atrair novos investimentos ou articular agentes econômicos.
Além do setor industrial, a falta de economia na Bahia pode ser explicado pela perda de produtividade no setor de construção civil, pela queda nos serviços industriais de utilidade pública e na indústria extrativa mineral, pelo retraimento dos negócios no setor serviços e pela perda de posição relativa no turismo, com dezenas de hotéis fechando as portas e o retraimento do turismo de negócios. Nos últimos anos, quem vem dando algum fôlego à economia baiana é o setor de energia eólica e a agropecuária, mesmo assim aquela concentrada no Oeste. A verdade é que falta economia na Bahia, falta planejamento e política industrial e isso é fundamental, afinal, tradicionalmente é o governo do Estado que lidera os ciclos de investimentos no estado.
A pouca prioridade dada à economia se revela no baixo orçamento de áreas estratégicas como turismo, desenvolvimento econômico e tecnologia; no fato de que as duas principais secretarias ligadas a planejamento e desenvolvimento econômico não estejam nas mãos de técnicos ou empresários, mas de políticos; e na constatação de que os investimentos, ferroviários, portuários e turísticos, que poderiam dar mais competitividade à atividade econômica não estão saindo do papel. E a culpa não é do mensageiro, mas de uma conjunção de fatores que precisa ser enfrentada sob pena da economia baiana cair ainda mais no ranking nacional. A verdade é que está faltando economia na Bahia, faltando quem pense e aja estrategicamente para estimular negócios, atrair empresas e dinamizar o setor produtivo.
A FORD E A BAHIA
O complexo automobilístico da Ford, um dos pilares da indústria baiana, está na berlinda. Por um lado, a matriz da empresa anuncia uma reformulação mundial, prevendo a reorganização de sua força de trabalho e a redução de suas operações comerciais, especialmente na América do Sul. Por outro, em Brasília, uma disputa com a Fiat de Pernambuco sobre a forma de prorrogação dos incentivos fez a Ford ameaçar transferir sua produção para São Paulo. Enquanto isso, a Fiat anuncia investimentos de 7,5 bilhões para duplicar sua fábrica em Pernambuco.
LULA E AS ELEIÇÕES
No atual estágio do processo eleitoral, com as pesquisas indicando a vitória do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, cabe indagar qual terá sido o objetivo e as intenções do ex-presidente Lula, ao conduzir o processo eleitoral no âmbito do PT da forma como conduziu? Parece claro que o objetivo de Lula não era ganhar a eleição pois, se assim fosse, escolheria seu substituto desde o início do processo eleitoral, para que ele tomasse corpo, ampliasse os apoios e chegasse ao segundo turno com luz própria. Parece claro também que Lula não estava preocupado com a manutenção do poder no âmbito da esquerda, pois, se assim fosse, teria apoiado a candidatura de Ciro Gomes com um vice do PT, como sugeriu o senador eleito Jaques Wagner.
Talvez o único objetivo do ex-presidente tenha sido demonstrar a sua própria força, sua capacidade de alavancar um candidato inexpressivo em menos de 1 mês e coloca-lo no segundo turno, para depois deixar a campanha por conta própria. Desse modo saiu-se bem no 1o turno e, fora da campanha, não terá responsabilidade pela derrota no 2o turno. Pode ter sido uma jogada de mestre, bem próxima das maquinações dos velhos caudilhos da América Latina, mas pode ter sido também o canto de cisne que que decreta o fim do espetáculo.
HADDAD E BOLSONARO
A forma como os dois candidatos a presidente, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, estão se apresentando na televisão está quebrando todas as regras do marketing. A primeira delas afirma que não se ganha eleição batendo forte e todos os dias no adversário, mas é isso que a campanha de Haddad está fazendo. Sempre foi consensual, por outro lado, que um candidatado jamais afirma que já ganhou, mas Bolsonaro diz em alto e bom tom que já está com a mão na faixa. Quem trabalha com marketing sabe também que ninguém compra um produto que é ou parece falso, mas Haddad está desdizendo, sem explicar porque, tudo o que disse no primeiro turno, marcando a campanha pela inautenticidade.
Até ontem Haddad era Lula e, de repente, o presidente some, o vermelho desaparece, e fica uma sensação de que “estão querendo me enganar”. O marketing sempre considerou também que o programa eleitoral e a televisão eram a melhor forma de eleger qualquer candidato, mas Bolsonaro desdenha de ambos, faz um programa simples, quase um PowerPoint, dá entrevistas por internet, com baixa qualidade de imagem e som, e não participa de debates.