Faltando cerca de 3 meses para a eleição presidencial, a disputa começa a se afunilar em torno de 6 candidatos. Jair Bolsonaro e o candidato do PT, provavelmente Fernando Haddad ou Jaques Wagner, polarizam os extremos do espectro eleitoral, enquanto 4 candidatos – Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alkmin e Álvaro Dias – tentam ocupar os espaços de centro mais ou menos à esquerda ou à direita. O mais interessante é que, apesar de praticamente definidos, os candidatos ainda não deram forma as suas ideias e cada um diz o que quer na imprensa e de acordo com a plateia e o interesse de cada um. A verdade é que, diferente de outros países onde o programa é que faz o candidato, no Brasil só há candidatos e nenhum programa.
Nenhum candidato explicita sua política de segurança pública, num país que a cada ano bate recordes em números de homicídios. Nenhum candidato diz com clareza qual será sua política com relação ao sistema previdenciário, quando se sabe que este será um tema inescapável. Tampouco se fala explicitamente sobre privatizações, desigualdades sociais, habitação, bolsa família e por aí vai. Faltando 3 meses para a disputa presidencial, os brasileiros não conhecem as propostas de governo dos candidatos.
Um exemplo é a questão das disparidades regionais e a pobreza da região Nordeste. Qual o projeto de desenvolvimento que os candidatos vão apresentar para estimular o desenvolvimento social e econômico da região mais pobre do país. É urgente que essa resposta seja dada. Os candidatos à presidente precisam dizer se e como vão estimular a indústria regional e necessitam definir se haverá algum tipo de prioridade quando o assunto for infraestrutura, rodoviária, portuária e ferroviária. Em relação ao turismo, os candidatos precisam dizer se vão continuar centralizando voos e operações no Sudeste ou se vão estabelecer uma política de céus abertos para a região, estabelecendo um mercado livre para a indústria aérea, desvinculando-a dos acordos bilaterais e acordos específicos, de modo que toda e qualquer empresa área internacional que queira estabelecer uma rota saindo do Nordeste possa ser comtemplada.
E como será a política relativa ao Bolsa Família, projeto indispensável para a região, mas que precisa ter o componente emprego atrelado cada vez mais aos benefícios/ O fato é que os brasileiros estão começando a se perguntar: cadê o programa de governo? E os temas listados aqui são apenas alguns dos que precisam ser objeto de manifestação formal dos candidatos. A hora dos arroubos e das intenções acabou e, já agora, depois da Copa, os candidatos a presidente do Brasil precisam apresentar seus programas de governo e as fontes de onde virão os recursos para viabiliza-los.
O PROJETO DE OTTO E O CARTEL DOS POSTOS
Em toda parte, quando o preço de um produto cai, as vendas aumentam e todos ganham, tanto vendedores quantos compradores. E foi com essa intenção que o Senador Otto Alencar conseguiu aprovar no Senado um projeto que permite aos produtores de etanol entregar seu produto diretamente aos postos, aumentando a competição e consequentemente baixando os preços. Mas no Brasil é diferente, aqui é o único país do mundo onde o dono de posto não quer que o preço do combustível caia. O Sindicato dos Combustíveis da Bahia, por exemplo é contra a medida, argumentando que a venda direta do produto poderia aumentar a sonegação prejudicando aqueles postos que pagam seus impostos. Ou seja, o sindicato prefere que o preços fiquem altos para ajudar o governo a combater a sonegação, sob a alegação de que se muitos fornecedores não pagarem impostos, os que pagarem serão prejudicados.
Ora, sonegação é problema do governo, não do sindicato, e se fosse motivo para centralizar a distribuição dos produtos, o Brasil seria um imenso cartel. E aí está a verdade, a oferta direta de etanol aos postos vai aumentar a competitividade e acabar com o cartel dos postos e das distribuidoras. O projeto do Senador Otto Alencar vai nessa linha e foi aprovado no Senado, mas terá de passar pela Câmara de Deputados e aí o lobby dos atravessadores e dos cartéis vai atuar. Mas, felizmente, já há juízes concedendo liminar para que usinas comercializem etanol hidratado diretamente aos postos de combustíveis, sem a necessidade da intermediação de distribuidoras.
O DETERMINISMO DE ELSIMAR
O nosso Elsimar Coutinho deu uma bela entrevista a Mario Kertész esta semana na Rádio Metrópole e resgatou uma tese defendida no distante século XVI. Como bom polemista, Elsimar defendeu a tese de que o clima é o determinante para o desenvolvimento dos povos. E disse que um povo como o nosso, nascido nos trópicos, é afeito a festa e ao sexo, jamais a pesquisa, que estaria concentrada nos povos dos clima frios, que muitos consideram os povos construtores de civilizações. Essa tese do determinismo climático é a parte ruim dos escritos de Montesquieu, filósofo no século 16, que tornou-se universal por sua obra “O Espírito das Leis”.
Montesquieu, que mais tarde reviu suas ideias climáticas, dizia que há 3 tipos de povos: o povo do norte, brutal e impetuoso, mas casto e pudico; o povo do Sul, como os brasileiros, que seriam “lúbricos e astuciosos”, dados ao sexo, ao prazer e as ciência ocultas; e o povo do clima temperado, “menos vigoroso que o Norte” além de ser “mais razoável que o do Sul e não sofrer com a monogamia”. Montesquieu, que também acreditava na influencia dos ventos, argumentava que o ar frio restringe as fibras do corpo, aumentando-lhe a força, e o ar quente agia ao contrário, como se isso explicasse alguma coisa.
Não vamos esquecer que os gregos, que adoram praia, sexo e festas criaram a civilização e não estão exatamente no centro da frieza nórdica e que as grandes civilizações dos Maias e dos Astecas foram erigidas nos trópicos com grandes avanços tecnológicos. Isso sem falar em Portugal e Espanha com grande parte do território submetido ao clima árido e que dominaram o planeta sendo responsáveis pelas pesquisas que levaram a descoberta do Novo Mundo. Na verdade, são fatores sociais, religiosos, históricos, econômicos e políticos que definem o destino das nações. O determinismo climático é difícil de ser defendido, mas quem ouviu a entrevista percebeu que a oratória de Elsimar é brilhante, mesmo defendendo uma tese ruim.
A REAÇÃO DE LÍDICE
A forma como o PSB e a senadora Lídice da Matta reagiram ao anúncio de que ela não irá participar da chapa majoritária com a qual o governador Rui Costa vai concorrer à reeleição extrapolou o limite da convivência entre aliados. Ao afirmar peremptoriamente que não vai apoiar o candidato ao Senado, Angelo Coronel, atual Presidente da Assembleia Legislativa, Lídice e o PSB colocam uma cunha na coligação governamental e levantam uma questão: os candidatos à deputado federal do PSB, que farão parte do chapão do governo, vão recomendar o voto nulo em um dos senadores ou sairão pelo interior apoiando formal ou informalmente outro candidato? Sair candidata avulsa parece pouco provável, pois inviabilizaria o chapão de deputados, mas se isso acontecer Rui ainda continuará aceitando o apoio da senadora, mesmo contra a candidatura de Coronel? A resposta, qualquer que seja ela, não é boa para o PSD, nem para a solidez da chapa majoritária. Ao que parece, o PSB, o governo e o PSD precisam fazer urgentemente uma DR, e discutir a relação, para que não haja divórcio no meio da eleição.
AS FAKE NEWS E A POLÍTICA
Em véspera de eleição e num momento em que as fake news se multiplicam, o leitor deve lembrar sempre de Otto von Bismarck, o chanceler de ferro da Alemanha do século XIX, que vaticinava: “Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada”.