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JULIANA PIMENTEL – É PRECISO DISCUTIR POLÍTICA, RELIGIÃO E FUTEBOL

Redação - 09/04/2018 09:01 - Atualizado 09/04/2018

Um dia desses, li uma publicação que trazia o seguinte termo: “espiritualidade fluida”. A expressão mencionada demonstrava uma tendência natural da sociedade contemporânea em transitar por diversas religiões. Este movimento orgânico mostra-se evidente através de atitudes que, em um primeiro contato, poderiam parecer contraditórias. No entanto, seja frequentando igrejas, mas levando mimos para a Yemanjá no dia dois de fevereiro, ou perguntando o seu destino para os búzios, mas com um santinho na carteira para garantir a proteção, é indiscutível a presença da fé na sua mais genuína forma em todas essas manifestações.

A pluralidade religiosa na contemporaneidade nada mais é do que o resultado de discussões sem prejulgamentos sobre o tema. A partir do conceito de “espiritualidade fluida”, torna-se perceptível que, tanto faz se com incensos, terços, búzios ou mantras, se você é capaz de enxergar a fé do outro de forma atenta, para além dos preconceitos e do egoísmo, o primeiro passo já foi dado. E a caminhada a que me refiro é a da desconstrução de uma frase enraizada na intolerância e ausência de diálogo: “política, religião e futebol não se discutem”.

Reproduzir o ditado mencionado soa tão corriqueiro, quanto bobo. Proferido para manter a paz em almoços de família ou para preservar o verniz da boa vizinhança em reuniões de condomínio, nem parece que por traz dessa simples afirmação estão histórias de violência, fanatismo e intransigência, que se perpetuam até os dias atuais. E por mais antigo e disseminado que seja o tal provérbio, o mesmo não deveria ser utilizado para desqualificar o debate. Até porque se engana quem acredita que a sua verdade é o axioma que irá solucionar a fome do mundo, trazer o hexa para o Brasil ou descobrir a porta do céu.

Analisando o que foi decidido na votação da última quarta-feira, por exemplo, é possível vislumbrar uma população completamente perdida, que não consegue compreender um terço do que foi debatido, mas que, ainda assim, levanta bandeiras ou bate panelas fervorosamente, como se não houvesse nada mais importante que as suas verdades. E, muito além dessa dicotomia que se tornou a política brasileira, é palpável a compreensão de que reforçar um ditado tão vazio e equivocado é, puramente, reafirmar que o mundo deve sim continuar sendo intolerante. É como tampar os ouvidos para quem discorda de nós e continuar concordando com a Inquisição Católica, afirmando que o Sol gira em torno da Terra e não o contrário.

Se posicionar é fundamental, mas compreender melhor sobre o que se está lutando é mais importante ainda. Às vezes a cegueira é tanta que apoiamos o inimigo ou crucificamos o aliado (e isso vale para a política, a religião e o futebol). Mas abrir os olhos, neste caso, é mais que beber de fontes conhecidas e arrotar argumentos vazios. É colocar as lentes da compreensão e ponderar as informações. Até porque, mudar de ideia muitas vezes é necessário, e (pasmem) não há nenhum problema nisso.

Política, religião e, até mesmo, o futebol, são vertentes que podem ser reconstruídas e aprimoradas com o diálogo, e que, inclusive, possuem potencial capacidade de unir pessoas, seja numa roda de oração, numa arquibancada ou no desejo de um país melhor. Sendo assim, a solução para os conflitos não é a ausência de identidade ou de opinião. Muito menos ser “vira-folha” em ano de copa do mundo ou apartidário nas eleições. Mas sim, compreender a multiplicidade que é viver em uma nação com acesso restrito à educação e demandas diversas, para que, finalmente, haja um debate justo e engrandecedor, já que a tolerância e o respeito são edificadores de uma sociedade que anseia alçar estruturas sólidas.

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