A reunião dos governadores do Nordeste onde se decidiu pela realização de gestões conjuntas dos estados, começando pela instalação de uma central de compras, é algo novo e merece algumas reflexões. Quando publiquei no Bahia Econômica o artigo intitulado “A integração dos estados do Nordeste” defendia a ideia e relacionava ações que poderiam fortalecer sua economia através de atuações aglutinadoras. Mudanças no cenário econômico da atualidade, induzidos por iniciativa dos governos e dos empresários, podem tornar o Nordeste mais forte e competitivo se se cuidar dessa agregação. Comento algumas dessas transformações a seguir.
Petróleo e gás natural– A Petrobras prepara-se para vender oito refinarias de petróleo no dia 11 de outubro, incluindo na relação Mataripe, com o Temadre, na Bahia, e a Abreu e Lima, em Pernambuco. Mataripe é a segunda maior refinaria do país e é o maior contribuinte individual de ICMS no Estado da Bahia. Cerca de 20 empresas interessadas na compra assinaram termos de confidencialidade que garantem o acesso aos dados das refinarias, entre elas Ultrapar, Raízem, Petrochina, Sinopec e a Saudi Aramco. As vencedoras vão competir com a Petrobras na venda da gasolina e do óleo diesel e quem ficar com Mataripe poderá abrir o Temadre para movimentação de cargas de terceiros, com mais de 20 milhões de toneladas por ano.
Por outro lado, as empresas independentes que atuam na exploração de petróleo e gás no Nordeste, estão preparando-se para adquirir os campos maduros de petróleo da Petrobras e prometem em pouco tempo, com uso de modernas tecnologias, dobrarem a produção das bacias locais. Os municípios produtores terão um aumento de arrecadação de royalties e, se aplicarem essa receita adicional de forma planejada, visando a maximização dos benefícios regionais, poderão contribuir, de fato, para o fortalecimento da economia da região.
Energias eólica e solar– A geração de energia eólica e solar arco voltaica no Nordeste, liderada pelos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia já é superior ao dobro da geração de energia da usina de Paulo Afonso, tida na época da sua construção como a redenção da Região. Os atlas dos ventos e da insolação que estão sendo publicados e sempre sujeitos a atualizações, indicam o potencial de aumento das unidades de geração que tem atraído dezenas de empresas. Os fabricantes dos equipamentos instalados no Nordeste são um fator positivo e garantem o atendimento de novos investimentos e a manutenção das unidades geradoras instaladas. Os governos dos estados devem continuar dando todo apoio para que novas instalações sejam atraídas e que a energia gerada possa, ao longo do tempo, tornar-se barata e contribuir para melhor distribuição da renda.
Arrendamento das fábricas de fertilizantes – A Petrobras decidiu fazer o arrendamento das fábricas de fertilizantes nitrogenados de Sergipe e da Bahia ao invés de fechar essas unidades fabris, como desejava inicialmente. No arrendamento estão incluídos os Terminais Marítimos de Amônia e Ureia do Porto de Aratu-Candeias. Três empresas foram pré-qualificadas para o arrendamento: Proquigel, Acron e Formitex.
A continuidade do funcionamento dessas fábricas garante o suprimento de importantes insumos da indústria química local. O Nordeste é a única Região do País que reúne o mais completo conjunto de matérias primas usadas pelas companhias misturadoras que formulam os fertilizantes. Além dos nitrogenados produz cloreto de potássio em Sergipe, o ácido sulfúrico, sulfato de amônio e rocha fosfática, na Bahia.
Esses três exemplos não são únicos e dão uma mostra do que pode ser feito no Nordeste para se dar mais vigor à sua economia agindo de forma integrada. O aproveitamento dessas oportunidades poderia constar da agenda da próxima reunião dos governadores nordestinos. A estratégia de união é, por certo, melhor do que a tática de pedir ajuda ao Governo Federal individualmente.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]