

Indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), Jorge Messias, participou de um jantar com ministros da Corte, senadores evangélicos, o relator de sua indicação no Senado e pastores na noite desta terça-feira, 2, numa tentativa de reforçar o que seus aliados consideram a “força-motriz” de sua campanha.
O jantar foi promovido pelo senador Carlos Viana (Podemos-MG) e contou com a presença dos ministros do STF André Mendonça e Cristiano Zanin, dos deputados federais Otoni de Paula (MDB-RJ) e Marcos Pereira (SP), presidente nacional do Republicanos e ligado à Igreja Universal, e ao menos nove senadores, a maior parte evangélica.
Dois pastores também estiveram presentes: Robson Rodovalho, fundador da Igreja Sara Nossa Terra, e Sergio Carazza, pastor da Igreja Batista Cristã de Brasília, que Messias frequenta.
Ambos têm ligação com o bolsonarismo. Rodovalho visitou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na prisão domiciliar para lhe prestar solidariedade, e Carazza foi secretário-executivo de Damares Alves no Ministério dos Direitos Humanos na gestão Bolsonaro.
Advogado-geral da União (AGU) de Lula, Messias foi descrito pelos participantes com quem o Estadão conversou como “animado” pelo adiamento de sua sabatina, uma vez que agora terá mais tempo para buscar votos junto ao senadores.
O jantar ocorreu horas após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), anunciar o adiamento da sabatina a que Messias deve ser submetido para ser aprovado ou não à vaga. A sessão não tem novo prazo para ser remarcada.
Alcolumbre mais cedo leu uma nota dura contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem protelando a formalização da indicação de Messias para ganhar tempo para que seu indicado possa conseguir os votos necessários.
Isso porque o presidente do Senado havia marcado a sabatina para 10 de dezembro – Messias teria de visitar uma média de seis senadores por dia, contando sábado e domingo, se quisesse conversar com todos eles a tempo.
O deputado Otoni de Paula afirmou que Messias agora vai ter tempo para “avançar, conversar, desfazer algumas ideias”, referindo-se ao movimento de tentar conquistar grupos conservadores, hoje refratários ao seu nome em razão do campo progressista em que está inserido.
“Ele está muito feliz, porque essa tentativa de descredibilizá-lo na comunidade evangélica, que é a grande força-motriz da campanha dele, está sendo desfeita”, declarou, na saída do jantar.
O encontro de Messias com o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, na terça-feira foi mencionado como um exemplo da resistência que ele vem quebrando nos últimos dias. Na conversa com Gallo, Messias teria tentado “desfazer mal entendidos” em relação ao aborto.
A diretoria do CFM é crítica de Messias em razão de um episódio ocorrido em 2024, quando a AGU enviou uma manifestação ao STF afirmando que a resolução do conselho contra a assistolia fetal era inconstitucional. O procedimento é utilizado para a realização de abortos nos casos previstos em lei, como gestações decorrentes de estupro.
O tema é sensível, na medida em que conservadores, a quem o CFM se alinha, se opõem de maneira intransigente a qualquer flexibilização das regras do aborto, seja para descriminalizá-lo ou legalizá-lo, como defendem progressistas. Nos últimos dias, religiosos vinham espalhando notícias relembrando da atuação da AGU no caso da resolução do CFM.
De Paula vem fazendo um contraponto à oposição do pastor Silas Malafaia e de seu aliado na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), à indicação de Messias. O deputado do MDB publicou nesta semana uma entrevista com Carazza em que o pastor desmente “fake news” de que o AGU, chamado de “nosso querido irmão” e “irmão diácono”, seria a favor do aborto.
No vídeo, Carazza ri da acusação e diz que Messias faz parte de uma associação ligada à igreja destinada a cuidar de mães alvo de abuso sexual que não querem abortar. “Isso é um absurdo. Quem conhece o Jorge sabe que ele é um cara conservador, pauta de família”, afirma o pastor. Messias deixou uma curtida na publicação feita por De Paula.
Messias não fez um discurso no jantar, relataram os participantes, e preferiu sentar para conversar com cada um deles individualmente. Na saída, Zanin, o primeiro a ir embora, disse que só havia passado no jantar para dar um abraço no amigo, e Mendonça se limitou a dizer que acredita na aprovação do AGU.
“O jantar se concentrou muito nessa questão da identidade da fé, mas não só nessa. Aqui foi mais uma conversa, o relator está aqui, então é um trabalho que tem que ser feito. Quem é candidato tem que pedir voto a todo mundo”, declarou Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, em referência ao relator da indicação de Messias, o senador Weverton Rocha (PDT-MA).
Já a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) afirmou que o jantar se tratou mais de “jogar conversa fora” e “entrosar” do que articular politicamente, mas sugeriu a possibilidade de o adiamento da sabatina não se prolongar demais. “O clima para o Messias está mudando muito, a dificuldade toda vai amenizar. Eu acho que ele está feliz com o adiamento. (Quem sabe) A gente consegue colocar (a sabatina) na outra semana, 16 (de dezembro)”, afirmou.
O jantar de Messias com aliados evangélicos ocorre também após uma frustração com a bancada bolsonarista. Na manhã da terça-feira, o Partido Liberal (PL) no Senado cancelou o convite para que o AGU participasse do almoço da oposição.
A iniciativa de chamar Messias veio da senadora Eudócia Caldas (PL-AL), segundo o relato de senadores do partido. O convite foi feito por meio do líder do Bloco Vanguarda (composto por 15 senadores do PL e um do Partido Novo), Wellington Fagundes (PL-MT), mas a ala mais bolsonarista da bancada não gostou da ideia.
Eudócia, no entanto, marcou presença no jantar desta terça-feira, a única do PL de Bolsonaro. Ela não quis falar ao fim do encontro.
Veja quem estava no jantar de Messias e evangélicos:
– Senador Carlos Viana (Podemos-MG)
– Senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR)
– Senador Jaques Wagner (PT-BA
– Senador e relator Weverton Rocha (PDT-MA)
– Senador Eliziane Gama (PSD-MA)
– Senador Zequinha Marinho (Podemos-PA)
– Senador Eudócia Caldas (PL-AL)
– Senador Laércio Oliveira (PP-SE)
– Ministro do TCU Jhonatan de Jesus
– Ministro do STF André Mendonça
– Ministro do STF Cristiano Zanin
– Deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ)
– Deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP)
– Pastor Robson Rodovalho
– Pastor Sergio Carazza
Fonte: Estadão Conteúdo
Foto: Reprodução