
Nesta sexta-feira (21), as atividades começaram às 10h com o painel “A Herança Afro-Brasileira nas Artes Visuais”, que reuniu Renan Benedito, Mayara Ferrão e Ayrson Heráclito, sob a mediação de Cíntia Guedes. O encontro discutiu a memória, a resistência e as visualidades que formam a arte afro contemporânea.
“Acho muito importante ser parte desse movimento que está acontecendo em toda a cidade. Na semana passada, eu estive no Mercado Iaô apresentando uma performance junto com o Slam das Minas e foi muito potente levar a arte, a performance poética e a poesia para a Cidade Baixa. Hoje estou aqui no Centro, no coração da cidade, próximo da Praça Maria Felipa, no Auditório Makota Valdina, como Mestra de Cerimônia, apresentando artistas potentes das artes visuais, sejam da internet, da fotografia ou do audiovisual. É importante reunir pessoas pretas talentosas para que possam divulgar, mostrar e falar sobre sua arte. O Festival Salvador Capital Afro tem esse objetivo de potencializar artistas e personalidades negras para que outras pessoas e a comunidade civil conheçam o trabalho delas,” ressaltou Nega Fyah, escritora, atriz e produtora cultural em Salvador.
A herança afro-brasileira nas artes visuais é uma rica tapeçaria de memórias, resistência e criatividade. A arte afro-brasileira reflete a fusão entre a herança africana e a experiência brasileira, expressando a identidade e a memória histórica de um povo que sempre resistiu. Essa arte se manifesta em diversas formas, como pintura, escultura, cerâmica, fotografia, performance, música, dança, moda e design, cada uma carregando símbolos ancestrais, religiosidade, elementos naturais e narrativas de resistência.
Para Mayara Ferrão, artista visual de Salvador, é de suma importância estar em sua cidade natal, onde o tema é central em sua produção artística. Ferrão destaca seu interesse em refletir sobre os corpos negros, a cidade, as cores, gestos e toda a simbologia afrodiaspórica. “É um momento de muita felicidade, de realização pessoal e profissional. Desejo vida longa ao Festival Salvador Capital Afro,” finalizou Mayara.
É fundamental que essa valorização seja feita de forma sensível e não exotizante, evitando a apropriação cultural e a perpetuação de dinâmicas de dominação. Ao reconhecer e celebrar a contribuição dos povos africanos na formação do país, a arte afro-brasileira nos convida a repensar nossa história e a construir um futuro mais igualitário e plural.
Para Mônica Santana, dramaturga, artista e jornalista, o Festival Salvador Capital Afro é sempre um espaço de trocas, conversas e possibilidades de intercâmbio de experiências, incluindo negócios e parcerias. “É um espaço para pensar a cidade, desenvolver estratégias de estar nela, elaborado por pessoas que aqui vivem. Pessoas negras que estão empreendendo, realizando e criando relações dentro do Festival. Acho muito potente ver isso acontecer e ser expandido, descentralizado. Vida longa ao Festival Salvador Capital Afro, que possa promover mais relações, trocas e parcerias,” ressaltou Mônica.
À tarde, o painel “Corpos que dançam raízes, coreografando futuros” reuniu Tonho Matéria, Gisele Soares, Puma Camillê e Mônica Anjos, com mediação de Mônica Santana, dialogando sobre dança, corpo político, moda afro e novas expressões das artes do movimento.
Vitória Martins, jornalista do Mato Grosso do Sul, expressou que estar em Salvador, mesmo diante das fortes chuvas, sem consumir cultura, é improvável. “Estou aqui na Bahia de passagem e vi a programação do Festival Salvador Capital Afro nas redes sociais da Prefeitura. Este é um Festival que, para mim, tem representatividade. Venho de um estado onde isso falta. Estar em Salvador é uma oportunidade de levar um pouco dessa representatividade para minha casa,” afirmou Vitória.
Esse esforço coletivo tem sido fundamental para quebrar barreiras invisíveis e estabelecer um novo paradigma onde a pluralidade cultural se reflete na arte visual brasileira, promovendo um entendimento mais abrangente e inclusivo das múltiplas identidades que compõem o tecido social do país.
“Esse tipo de Festival vem afinando esse processo de construção. O projeto da marca Mônica Anjos está muito nesse lugar das relações diversas, seja na literatura, dança, música ou gastronomia. É de extrema relevância, pois traz uma narrativa e uma contação de histórias significativa, contribuindo para a construção de um mundo melhor, reunindo essas pessoas e expressões em um esforço coletivo de afeto, aprendizado e conhecimento,” ressaltou a estilista baiana Mônica Anjos.
Ainda na tarde do dia 21, o Auditório Makota Valdina promoveu a mesa “Do Tambor ao Streaming: música negra que ecoa no mundo”, mediada por Beatriz Nascimento, com A Dama, Nadjane e Zamba, conectando ancestralidade, inovação e circulação internacional da música afro-brasileira.
Nadjane de Souza Serra, cantora baiana, destacou a importância do Festival Salvador Capital Afro para o povo negro, para movimentar a cidade, o comércio e a cultura. “Mobilizar a sociedade para que compreenda de onde veio, onde está e para onde vai. É fundamental que a cidade e seus moradores conheçam sua história e quem a habita. Precisamos desenvolver nossos potenciais da melhor maneira possível e renovar nossas forças para seguir nessa marcha” finalizou Nadjane.
As atividades compõem o eixo temático desta edição, “Territórios em Rede, Raízes em Movimento”, que conecta bairros, profissionais, coletivos e linguagens artísticas. Após as ações no Comércio, o Festival segue para mais uma parada no dia 27/11, na Ilha de Maré.