

Quando se trata de projetos estratégicos de infraestrutura, a Bahia não pode ficar contra a Bahia. A Fiol – Ferrovia Oeste Leste, por exemplo, é um projeto que aparece como fundamental nos planos estratégicos de vários governos antes e depois do ano 2000. Apesar disso, ouvi outro dia um analista baiano dizer que o projeto é equivocado, que não será concluído e que servirá apenas a Bamin Mineração que, segundo ele, também não se mantém mais de pé com o preço atual do minério de ferro e com a China crescendo menos. São afirmações precipitadas e prejudicam a Bahia.
O projeto da Bamin, por exemplo, é um projeto de longo prazo e, como em qualquer mineradora, suporta as variações do preço do minério de ferro no mercado internacional. Além disso, o minério produzido tem alto teor de ferro e muita demanda, tornando-o mais competitivo.
Já o trecho 1 da Fiol, dado em concessão a Bamin Mineração, que liga Caetité a Ilhéus, embora esteja paralisado momentaneamente, tem quase 80% das obras concluídas. E o trecho 2, de Caetité a Barreiras, está com 70% das obras prontas, 50% dos trilhos colocados e licitação na praça para o restante. É uma precipitação afirmar que esses trechos não serão concluídos.
Há problemas, é verdade, já que a Bamin é controlada pelo Eurasian Resources Group (ERG), do Cazaquistão, que sentiu fortemente os impactos econômicos da guerra na Ucrânia e está em vias de vender sua participação. Mas já há negociações com três grupos interessados.
A construção do Porto Sul é, sem dúvida, mais complicada e pode até ser rediscutida, mas, vale lembrar, desde de Vasco Neto, se tem consciência da necessidade de um porto no Sul da Bahia como saída no Oceano Atlântico de uma futura ferrovia bioceânica.
O fato é que, independente de questões políticas, esses projetos são estratégicos para a Bahia e quando os próprios baianos clamam contra eles estão fortalecendo uma maior concentração da atividade econômica no Sudeste. E essa concentração está acontecendo.
A Rumo, que divide com a Vale o posto de maior operadora logística do país, está construindo a Ferrovia Estadual do Mato Grosso, ligando Lucas do Rio Verde a Rondonópolis (743 km) e criando um corredor ferroviário que leva a safra mato-grossense ao Porto de Santos — aumentando a atratividade do corredor Santos (operado pela Rumo). Assim, os grãos do Mato Grosso podem sair pelo Porto de Santos e os grãos do Matopiba podem seguir o mesmo caminho.
Aliás, já existe um terminal de grãos em Gurupi, no Tocantins, que está conectado à malha central da Ferrovia Norte-Sul, ligando diretamente o polo produtor de Gurupi ao Porto de Santos. Se for colocado um mapa ferroviário em cima da mesa será possível ver que os grãos de todo Centro-Oeste e do Cerrado podem sair pelo porto de Santos.
Mas se o Corredor Fico/Fiol for viabilizado ele terá capacidade de atrair logisticamente os grãos do Matopiba e de outras regiões e é, por isso, que o duopólio que controla as ferrovias no Brasil (leia-se Rumos e Vale) está preocupado com a abertura dessa nova rota, que começa a se concretizar.
Aliás, na semana passada, o governo federal oficializou a inclusão do trecho 3 da Fiol, ligando Correntina (BA) a Mara Rosa (GO), no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e no Programa Nacional de Desestatização (PND). Com isso, o projeto passa a ter prioridade nacional, o que garante trâmite acelerado no licenciamento ambiental e facilita o acesso a crédito do BNDES e da Caixa Econômica. Esse trecho, com 840 km de extensão, criará uma ligação direta com a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), em Mato Grosso. E o edital para sua concessão deve ser encaminhado ao TCU no início de 2026, com o leilão previsto para o primeiro semestre.
Que será necessário a ação do Estado brasileiro para que o corredor Fico/Fiol se concretize em tempo hábil, isso é óbvio; que estamos muito atrasados na montagem desse corredor também. Mas muito mais óbvio ainda é que a Bahia precisa se unir para pressionar pela concretização desse corredor logístico. Quando se trata de um projeto estratégico como esse, que vai beneficiar o agronegócio, a mineração e a indústria da Bahia, ficar criticando o que já está sendo construído é tocar tambor para o Sul Maravilha dançar.
A FORD FOI EMBORA, MAS UMA PARTE FICOU
Quando a Ford foi embora de Camaçari deixou um centro estratégico de engenharia e desenvolvimento. Esse centro, que tinha 800 engenheiros, cresceu e hoje tem 1500. E se especializou em criar tecnologias e projetos para veículos globais. Resultado: a equipe de engenharia instalada na Bahia já responde por aproximadamente 30% a 35% da tecnologia aplicada nos veículos da Ford ao redor do mundo. Em breve, será inaugurado novo edifício em Camaçari, com capacidade para mais 800 engenheiros, ampliando o peso da estrutura regional no desenvolvimento global. Um exemplo do que faz o centro de pesquisa? A Ford vai passar a produzir uma Ranger híbrida plug-in com tecnologia flex.
Publicado no jornal A Tarde em 20/11/2025