

A COP 30, que está sendo realizada em Belém, recoloca o Brasil no centro do debate mundial sobre a transição energética e o combate às mudanças climáticas. A Bahia pode se posicionar como um dos estados líderes, quando nessa transição, não só pelo que já alcançou, mas, principalmente, pela oportunidade de atuar em várias frentes.
Para começar, a matriz elétrica baiana já é uma das mais limpas do país. Inicialmente, vale lembrar a energia hídrica gerada em Sobradinho, Itaparica e Pedra do Cavalo. Depois, destacar que o estado lidera a geração nacional de energia eólica (35% do total) e solar (27% do total), segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE, 2025). São 356 usinas eólicas em 36 municípios e 85 solares em 16 cidades, que juntas já somam investimentos de mais de R$ 70 bilhões e a geração de quase 180 mil empregos. E o ritmo não para: há mais de 700 projetos previstos para os próximos anos.
Outro vetor em transformação é a produção de biocombustíveis e a bioeconomia industrial. Nessa área, é simbólico o projeto da Acelen, que está construindo uma biorrefinaria com um investimento de US$ 3 bilhões, tendo como insumo a macaúba. O projeto, que deve reduzir em até 80% as emissões de CO₂, trará para a Bahia a primeira grande biorrefinaria do país.
Há muitas outras iniciativas na área da transição energética, como as pesquisas relacionadas ao hidrogênio verde e sobre a nafta verde. E a Bahia tem uma vantagem competitiva: o Senai/Cimatec, que desenvolve projetos de pesquisa voltados à transição energética, à descarbonização industrial e à aplicação de tecnologias limpas no setor produtivo, inclusive relacionadas com o hidrogênio verde.
Outras áreas nessa transição energética estão se desenvolvendo ou têm potencial para isso. A Bahia já tem um polo de eletromobilidade, implantado pela BYD, que posiciona o estado como o maior produtor de carros elétricos do país. E tem um potencial enorme na cadeia de minérios críticos, essenciais na produção de peças e ferramentas para a transição energética.
Além disso, a Bahia começa a se posicionar no mercado de créditos de carbono. Projetos de reflorestamento, recuperação de áreas degradadas e preservação de biomas vêm sendo estruturados com apoio de universidades, startups e investidores. Municípios do oeste baiano já testam mecanismos de mensuração e certificação de carbono, e é preciso avançar nos programas de créditos ambientais que remuneram produtores rurais e empresas que reduzem emissões ou aumentam o sequestro de carbono.
Destaque-se também a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PEPSA), que prevê compensações financeiras e técnicas a comunidades, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais que contribuam com a preservação de ecossistemas. Além disso, o governo do estado levou à COP 30 uma política estadual de agricultura de baixo carbono, que tem como objetivo reduzir emissões de gases de efeito estufa e incentivar práticas de sequestro e fixação de carbono, integrando tecnologias sustentáveis à produção agropecuária.
Naturalmente, serão necessários mais incentivos à pesquisa e à inovação, mais centros de P&D e mais investimento em infraestrutura, mas a Bahia tem potencialidades para se posicionar como uma economia líder na transição energética e como um hub nacional de descarbonização.
A PREFEITURA E A COP 30
Salvador também está empenhada na transição energética e alinhada com a meta de corte de emissões de gases de 67% até 2035. E já alcançou uma redução de 30% nas emissões de gases de efeito estufa. Está avançando na mobilidade sustentável com ônibus 100% elétricos, e a Prefeitura levou à COP 30 um projeto interessante de descarbonização a partir de projetos de biometano, com resíduos do Aterro Metropolitano Centro sob responsabilidade do Grupo Solví. Há programas interessantes sendo tocados, como o Recicla Capital, que poderia ser ampliado e outros. É um bom caminho também estimular projetos e startups focados na sustentabilidade. E plantar árvores já grandes na cidade, muitas árvores.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA COM LUCRO
O mundo inteiro, inclusive a China, é regido pelo sistema capitalista, que, por seu turno, é movido pelo lucro. Sendo assim, ao mesmo tempo em que se estabelece uma ação política, diplomática e de cunho educacional, é fundamental, para que a transição energética se faça mais rapidamente, que ela se dê sob o signo do lucro. Nesse sentido, propostas que gerem lucros para quem sequestra carbono; fundos que geram mais retorno à medida que se reduz o efeito estufa; pagamento por serviços ambientais; subsídios para empresas que substituem combustível fóssil e outras ações igualmente regidas pelo capital é que farão as metas do Acordo de Paris serem alcançadas.
Publicado no jornal A Tarde em 13/11/2025