Com queda de mais de 80% nos últimos 10 anos, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) tem sido superado pelo crédito estudantil privado na Bahia. Segundo reportagem do Jornal Correio, desde 2022, há mais registros de financiamentos privados na Bahia do que bolsas dos principais programas federais da área. Em três anos, os financiamentos das próprias instituições privadas cresceram 108% no estado, segundo dados do último Censo do Ensino Superior, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) no mês passado.
Depois de ter seu auge entre 2015 e 2016, bolsas do Fies caíram 83,9% na Bahia: saíram de 93.689 em 2014 para 15.088 em 2024. Assim, o programa que superava os outros com folga passou a representar a menor fatia no estado hoje. No Brasil, a situação não é muito diferente. Na verdade, o cenário nacional já tinha se invertido antes,em 2017, quando as regras do crédito federal mudaram.
No caso do Prouni, porém, a variação foi positiva: houve um crescimento de 13%, saindo de 16,2 mil para pouco mais de 18,4 mil no ano passado no estado. Por outro lado, os financiamentos privados cresceram 108% na Bahia: saíram de 14.744 em 2021 – o último ano em que foram a menor fonte de financiamento – para 30.668 no ano passado. Ainda assim, o número é bem distante do período áureo do Fies, que ultrapassava 90 mil bolsas por ano.
“Nós temos realmente uma crise em relação à questão das políticas de acesso ao ensino superior. Hoje, podemos dizer que o número de alunos que ingressam com Prouni ou Fies não chega a 5% do total de ingressantes do ensino superior”, diz o diretor executivo do Semesp (entidade que representa mantenedoras de ensino superior no país), Rodrigo Capelato.
Ele lembra que, em 2014, foram 734 mil novos contratos de Fies e Prouni. Agora, anualmente, no país, não chega a 100 mil novas efetivações. Entre 2017 e 2018, o Fies passou por mudanças significativas, mas, sete anos depois, o cenário é de queda ainda maior.
“O governo tem uma questão orçamentária e, ao mesmo tempo, as regras ficaram muito rígidas. O programa só financia quem tem uma renda muito baixa, mas exige uma pontuação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) que é alta para essa população, que estudou em escolas da educação básica que não preparam para um bom desempenho no Enem”, explica.
Os programas federais exigem desempenho mínimo de 450 pontos no Enem. “Já o Prouni podemos dizer que não caiu em números absolutos, mas o número de vagas no ensino superior cresceu e ele não acompanhou. Hoje, temos ociosidade: vagas sobrando”, aponta.
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