Em meio às incertezas da economia global, o comércio exterior brasileiro foi impactado no primeiro semestre do ano, especialmente o segmento marítimo, influenciado por alterações tarifárias em grandes mercados, conflitos geopolíticos e eventos climáticos adversos. De acordo com o Relatório Semestral da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), divulgado nesta segunda (22/09), o saldo da balança comercial brasileira por via marítima totalizou US$ 46,99 bilhões em valor FOB (Free On Board), com queda de 17,2% em relação ao mesmo período de 2024. O resultado é reflexo da redução das exportações, que somaram US$ 144,7 bilhões (-3,5%), e do aumento das importações, que atingiram US$ 97,7 bilhões (+4,8%). A corrente de comércio (exportações mais importações), por sua vez, ficou em US$ 242,2 bilhões, com leve retração de 0,3%.
Segundo o Relatório da ATP, elaborado pela Coordenação de Pesquisas e Desenvolvimento, a retração das exportações foi puxada principalmente por soja, petróleo e minério de ferro, que juntas perderam mais de US$ 8 bilhões em relação a 2024. No caso dos combustíveis, observa-se que a queda ocorreu tanto pela redução na quantidade exportada (-3,3%) quanto na redução do valor médio da commodity (-7,9%). Já a soja e o minério apresentaram seus volumes de exportações relativamente estáveis, mas tiveram um forte recuo no valor médio por tonelada (-9,6% e -16,6%, respectivamente).
Entre os destaques das exportações, as maiores altas no primeiro semestre foram verificadas nas vendas de “Gorduras e óleos animais ou vegetais”, com um avanço de 53,4%, e “Café, chá, mate e especiarias”, que cresceram 49,1%.
Nas importações, o crescimento foi impulsionado pelo aumento da demanda por máquinas e equipamentos industriais, que alcançaram US$ 13,8 bilhões de valor importado (+12,4%), resultado do avanço expressivo nos volumes adquiridos em 2025. Dois segmentos registraram as maiores altas nas importações: “Produtos farmacêuticos”, com expressivos 32,94%, e “Produtos químicos orgânicos” (23,37%).
Para o segundo semestre de 2025, as projeções da ATP indicam um cenário de cautela, com expectativa de estabilidade nos preços da soja e do petróleo, mas ainda sujeito à volatilidade internacional e a riscos geopolíticos.
“As mudanças nas políticas comerciais e nas condições externas podem seguir impactando o comércio marítimo, reforçando a necessidade de adaptação dos terminais portuários e da cadeia logística para sustentar a competitividade do Brasil”, diz Murillo Barbosa, presidente da ATP, que reúne empresas de grande porte com 72 terminais privados no país, atuando em áreas como agronegócio, mineração, siderurgia, petróleo e gás, contêineres e complexos logísticos, relevantes para o comércio exterior brasileiro.
No ranking dos dez principais destinos das exportações brasileiras, a ATP constatou que as vendas para a China recuaram 7,56% no primeiro semestre, totalizando US$ 47,5 bilhões (em valor FOB). Por outro lado, houve aumento das vendas para os Estados Unidos, de 2,83%, somando US$ 17,3 bilhões.
No período, cresceram ainda as exportações do Brasil para Argentina (57,62%), Coreia do Sul (16,52%), Índia (11,45%) e Alemanha (4,6%). Na outra ponta, caíram as vendas para Singapura (-22,38%), México (-13,87%), Espanha (-10,47%) e Holanda (-1,07%).
Foto: ATP/Divulgação