O adversário do presidente Lula na eleição presidencial em 2026 já está escolhido e chama-se Donald Trump. Por isso, parece piada a ideia de Lula telefonar para Trump. Seria algo parecido com o chefe do Hamas ligar para Benjamin Netanyahu para discutir amigavelmente o cessar-fogo.
Trump tem lado político e não esconde isso. No caso de Gaza, sua escolha é Netanyahu; na Guerra da Ucrânia, optou por Putin e humilhou Zelensky; e, no caso do Brasil, sua escolha é a direita bolsonarista. Lula já percebeu isso e, com muito mais experiência que Zelensky, não vai ligar para Trump, dando oportunidade de ser humilhado. A não ser que haja condições diplomáticas estabelecidas anteriormente.
Todos os atos de Donald Trump adotados até aqui em relação ao Brasil tiveram conotação política. A imposição da tarifa de 50% não teve nada a ver com comércio exterior, afinal, o Brasil é deficitário na balança comercial com os EUA. Na carta em que Trump anuncia as tarifas, ele dá uma sinalização política explícita, no sentido de que só negocia com a liberação de Bolsonaro.
A imposição de tarifas como chantagem política, os ataques ao STF – Supremo Tribunal Federal – e ao ministro Alexandre de Moraes são movimentos calculados que combinam a estratégia eleitoral nos Estados Unidos, que terá eleições parlamentares em 2026, com a estratégia de eleger como próximo presidente brasileiro, nesse mesmo ano, um aliado incondicional.
A estratégia tem três objetivos claros: a) Reforçar, dentro dos EUA, sua imagem de “líder contra governos de esquerda”, o que agrada à sua base conservadora; b) Fragilizar economicamente o governo Lula e fortalecer os laços entre bolsonarismo e trumpismo; c) Colocar no poder, no Brasil, maior país latino-americano, um aliado incondicional para avançar na construção de uma espécie de “bloco” de governos conservadores na América Latina.
Nesse cenário, o adversário real de Lula, em 2026, será Donald Trump, que já está fazendo uma campanha coordenada internacionalmente, com narrativa, recursos e apoio político, campanha essa dirigida diretamente pelo próprio presidente americano.
Sim, mas quem será o escolhido para disputar as eleições presidenciais fazendo o papel de aliado incondicional de Trump? Jair Bolsonaro é o nome escolhido, mas ele está inelegível. O primeiro passo está sendo dado, descaracterizando e atacando o STF, o juiz Alexandre de Moraes e o Congresso Nacional, exigindo anistia para que, assim, Bolsonaro possa disputar a presidência, repetindo a trajetória de Trump.
Mas dificilmente essa estratégia vingará, e tudo indica que Jair Bolsonaro será condenado em setembro, no mais tardar em outubro. Quem será, então, o candidato da direita? Será o candidato indicado por Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, seu interlocutor junto a Trump.
Nesse contexto, não há Tarcísio de Freitas, Ratinho Jr. ou qualquer candidato que se imponha sem a chancela da família queridinha de Trump.
O candidato que vai enfrentar Lula em 2026 será Donald Trump. O presidente, candidato à reeleição, terá de lidar com uma fortíssima ofensiva geopolítica que une a lógica eleitoral americana à reconfiguração ideológica da América Latina. Nesse tabuleiro, Trump não será apenas espectador: será o protagonista. (EP – 11/08/2025)