Friday, 18 de April de 2025
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CÉSAR SOUZA – LIDERANÇA EM TEMPOS DE INCERTEZA

Redação - 14/04/2025 05:02 - Atualizado 14/04/2025

A tempestade que já vinha se anunciando no horizonte empresarial acabou se transformando em um tsunami, potencializado pela combinação de fatores macro-econômicos – taxas de juros exorbitantes, inflação que não cede e o câmbio oscilante – além das proezas políticas e da falta de segurança jurídica. O clima de incerteza está transformando a vida das empresas e tirando o sono da grande maioria dos líderes empresariais.

Como se esses fatores já não fossem suficientes, nenhuma incerteza tem sido tão intensa quanto a do componente ‘liderança’, abrangendo perfil, competências, habilidades e atitudes que a crise está exigindo.

Mais do que nunca, está evidente que não existe um tipo ideal de liderança. O conceito da “Liderança Situacional”, surgido na década de 1970, merece ser revisitado nesse momento. Afinal, líderes brilhantes em tempos de abundância e crescimento da economia parecem perdidos no momento de restrição de recursos e da ambiguidade das circunstâncias. Já os líderes controladores, tão criticados por acadêmicos e pessoas mais liberais, parecem assumir protagonismo na hora das duras decisões que precisam ser tomadas. Na contramão, lideres participativos, antes tão admirados, são percebidos como complacentes por não corresponderem à pressão do tempo e da velocidade com os quais precisam decidir e agir.

Muitas lideranças continuam apegadas a dogmas, princípios, ideias e práticas para uma realidade que já não existe mais. Além disso, está evidenciada uma grande discrepância entre discurso e prática. Em muitos casos, o coração continua preso ao passado e nostálgico, apesar das tentativas de usar uma linguagem modernizante.

Há apenas uma certeza: modelos ultrapassados não funcionam mais. Porém, novas formas de pensar e exercer liderança ainda não se fizeram presentes com a intensidade necessária. E os líderes não podem esperar. Precisam protagonizar o necessário turnaround, missão que exige urgentemente reflexão estratégica sobre o futuro do negócio e da empresa. Esse movimento deve ser orientado por um roteiro muito claro de agenda, objeto de profundo realinhamento, sinergia, integração e comprometimento entre acionistas, dirigentes e gestores da empresa. Essa reflexão estratégica é uma espécie de antessala do planejamento estratégico e precisa conter, pelo menos, dez pilares direcionadores, com desdobramento em todos os níveis:

  • Definição clara do propósito comum da empresa, capaz de inspirar as pessoas rumo ao futuro e posicionando a organização frente ao mercado;
  • Reequilíbrio econômico e financeiro da empresa, unidade de negócio e/ou área funcional, com definição clara sobre liquidez, endividamento, estrutura de capital, monetização de eventuais ativos, parcerias estratégicas, linhas de crédito e financiamento, entre outros aspectos;
  • Gestão dos riscos tributários, fiscais, políticos, comerciais, ambientais, trabalhistas e patrimoniais;
  • Identificação dos clientes que a empresa se propõe a servir, com clareza sobre novos nichos, mercados, produtos e serviços decorrentes das oportunidades geradas pela crise;
  • Orientações claras sobre os resultados desejados, tanto os quantitativos (rentabilidade, faturamento e valuation), quanto os qualitativos (imagem, satisfação de clientes e colaboradores)
  • Competências necessárias para cumprir esses resultados;
  • Mapa de atitudes desejadas e indesejadas, em torno do sistema de valores e cultura da empresa;
  • Prioridades no curto prazo, para o fechamento deste ano, e no médio prazo, para a travessia até 2030.
  • Plano de ação para executar a estratégia e as prioridades, com responsáveis e prazos;
  • Estrutura organizacional e governança necessária para a operação do negócio.

Não é hora de o líder se esconder e ficar à margem de si mesmo. Chegou a hora de assumir o protagonismo, inovar e liderar pelo exemplo. É preciso se transformar para ser um agente da transformação que sua empresa necessita e que o momento exige!

 

César Souza, consultor e conselheiro de empresas, é o Presidente do Grupo Empreenda

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