Com a chegada de Donald Trump para o seu segundo mandato na presidência dos Estados Unidos a política econômica mundial deve sentir algumas alterações. Isso por que o líder da maior economia do mundo prometeu uma economia protecionista com muitas taxas, o que pode fazer os juros nos Estados Unidos ficarem em patamares mais altos. Para o Brasil, um real mais fraco significa inflação mais alta. Com juros elevados no exterior, o Banco Central (BC) pode precisar subir a taxa básica de juros brasileira (ou mantê-la alta) para evitar a saída de investidores do país. De maneira geral, as medidas econômicas previstas para o mandato do republicano têm caráter inflacionário e devem causar uma série de efeitos por aqui, principalmente em termos de preços e juros.
Entre aquelas de maior impacto estão o aumento de tarifas para produtos importados, a redução de impostos domésticos, o apoio à indústria norte-americana e a oposição a incentivos para a transição energética. Parte dos efeitos, segundo especialistas, viria principalmente das medidas que envolvem as relações comerciais entre o Brasil e os EUA, com impactos diretos e indiretos na inflação e na indústria brasileira. A intenção de Trump, de aumentar as tarifas para produtos importados, pode atingir os exportadores brasileiros. A proposta inicial é impor uma alíquota de 10% a 20% sobre todas as importações, o que afetaria todos os parceiros comerciais dos EUA. Em dezembro, durante sua primeira coletiva de imprensa após a vitória nas eleições de 2024, Trump ameaçou cobrar do Brasil “a mesma coisa” que o país cobra, afirmando que o valor era muito alto.
Embora a ameaça tarifária seja considerada uma estratégia antiga do republicano para beneficiar os EUA em negociações bilaterais, a possível implementação da medida ainda não está descartada. De um lado, há o impacto na balança comercial brasileira. Em 2024, os EUA compraram mais de US$ 40 bilhões em produtos brasileiros, ficando atrás apenas da China (US$ 94 bilhões). Um aumento das tarifas pode tornar os produtos brasileiros menos competitivos, reduzindo as exportações. A balança comercial registrou superávit de US$ 74,55 bilhões no ano passado, o que ajudou a conter uma alta expressiva de 27% do dólar. Sem tantas exportações, a situação seria ainda mais preocupante, pois as vendas para o exterior aumentam a oferta de dólares no país. Assim, caso o bloqueio se concretize sob Trump, a inflação brasileira pode sofrer nova pressão, tanto pela menor entrada de dólares no país quanto pelo possível repasse de preços pelos produtores devido ao aumento dos custos com um câmbio desfavorável.
Além disso, o professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Lucas Pereira Rezende, aponta os impactos indiretos da medida, por meio da sobretaxação dos produtos chineses. Trump propõe impor tarifas de 60% ou mais sobre os produtos importados da China. O professor explica que essa medida poderia levar a China a buscar outros mercados, encontrando no Brasil uma saída para seu comércio exterior, afetando nossa indústria e varejo. “É importante que, nesse momento, o Brasil também comece a pensar em políticas que fomentem a reindustrialização e a diminuição da dependência de produtos industrializados externos”, diz Rezende.
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