O acordo Mercosul-União Europeia, anunciado na semana passada, no Uruguai, muda o patamar do comércio exterior e a expectativa é que seja assinado no segundo semestre do próximo ano. Lourdes Manzanares, diretora geral da Interprint do Brasil e conselheira da Câmara de Comércio e Indústria Brasil – Alemanha do Paraná (AHK Paraná), destaca que Alemanha e Brasil se beneficiarão mutuamente em setores como agronegócio, energias renováveis, descarbonização e digitalização.
“As expectativas estão altas, visto que o acordo representa uma oportunidade estratégica para aprofundar laços comerciais entre os blocos, criando o maior mercado de livre comércio do mundo, com cerca de 700 milhões de pessoas. Além disso, a iniciativa promoverá a redução de tarifas, alinhamento das normas, consolidará as metas para descarbonização e, também, facilitará os investimentos”, afirma Lourdes.
O objetivo do acordo é promover a integração econômica entre os dois blocos e diminuir barreiras comerciais, a fim de ampliar as oportunidades de negócios para empresas e indústrias. Um ponto fundamental é o equilíbrio tarifário sobre uma ampla gama de produtos exportados e importados, como bens agrícolas (carne, açúcar, café) e industriais (automóveis e máquinas). Essa medida visa aumentar o fluxo comercial e a competitividade global de ambos os blocos.
O tratado também prevê a harmonização de regulações e normas, como padrões de qualidade e certificações, especialmente em setores como alimentos e produtos industriais. Por outro lado, o Mercosul terá que atender às exigências da União Europeia e adotar práticas mais sustentáveis, com restrições ao uso de pesticidas e produtos geneticamente modificados. O acordo também enfrenta a resistência de países europeus preocupados com a competição dos produtos agrícolas do Mercosul e questões de sustentabilidade.
“Países como França e Itália apontam restrições para a assinatura do acordo, visto que suas economias estão baseadas na agricultura e temem a competição de preços com os países do Mercosul, principalmente o Brasil. Vejo uma grande necessidade de construirmos um alinhamento sólido sobre pesticidas e produtos geneticamente modificados, permitidos nos países da América do Sul, mas proibidos na Europa. Em todo caso, não podemos negar que a eliminação de barreiras tributárias, como a dupla tributação entre Brasil e Alemanha, será de grande proveito para empresários dos dois países”, ressalta a conselheira da AHK Paraná.
Outra questão importante para o desenvolvimento dos dois blocos está relacionada à descarbonização, que incentiva o uso de energias renováveis e promove práticas ambientais responsáveis, o que reforça a importância de tecnologias limpas e fomenta setores estratégicos, como o das energias solar e eólica. “Esse tema pode ser de grande proveito para Brasil e Alemanha. Nesse sentido, o país europeu, que é extremamente dependente de gás natural, já anunciou seu interesse na produção de hidrogênio renovável, e o Brasil tem um enorme potencial nesse campo. Inclusive, determinados estados, como o Paraná, já desenvolvem estudos de viabilidade e podem ser pioneiros na produção, tendo a possibilidade de exportar o produto ou a expertise para os alemães”, completa Lourdes.
Além disso, o tratado abrange serviços e investimentos, promovendo a abertura de mercados nos setores financeiro, telecomunicações e transporte. Ele também protege a propriedade intelectual e as indicações geográficas, valorizando produtos tradicionais europeus, como vinhos e queijos.
“O acordo significa novos negócios para empresários brasileiros, que terão mais acesso ao mercado europeu para exportações, e novos investimentos entrando no país. Em contrapartida, a Alemanha também terá um mercado ampliado para sua indústria automobilística e maquinário, podendo recuperar a preferência dos brasileiros na hora de comprar carros. Mas, é preciso melhorar a infraestrutura do Brasil para maximizar os benefícios do tratado nas áreas de educação, portuária e urbana”, pontua a diretora geral da Interprint do Brasil.
O intercâmbio de trabalhadores capacitados entre os dois países também é uma das vantagens do acordo Mercosul-União Europeia e um problema encontrado no país germânico. “A Alemanha enfrenta dificuldades de mão-de-obra capacitada em diversas áreas, como enfermagem e serviços, e o Brasil pode exportar essa expertise”, diz Lourdes, que finaliza destacando que o acordo é uma oportunidade para o Brasil diminuir a dependência do mercado com Estados Unidos e China.