“É a economia, estúpido!”. A frase cunhada em 1992 por James Carville, então estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George Bush, se mostra mais atual do que nunca, afinal, a maioria dos analistas no mundo inteiro dizem que Donald Trump venceu as eleições por causa da economia.
Quem pensou que os ataques de Trump à democracia, que sua visão conservadora e misógina do mundo seriam preponderantes na escolha do novo presidente americano, quebrou a cara: os eleitores estão se lixando para esses temas e sua preocupação é apenas uma: o bolso.
A economia foi o principal tema a mobilizar os eleitores. O custo de vida bem acima do patamar histórico, a sensação de que as contas não fecham e de que o futuro será pior pairava no ar. Pesquisas mostram que 59% desaprovam a forma como Joe Biden conduziu a economia.
Note-se que há um erro de avaliação entre os americanos: Biden conduziu bem a economia, a inflação está voltando gradualmente ao centro da meta, o emprego cresceu e o PIB também, mas o eleitor não olhou para essas conquistas recentes, ele olhou para sua vida nos últimos 4 anos e a sensação é que ela estava pior do que antes. A economia americana sob Joe Biden teve uma excelente performance no que se refere a queda da inflação herdada da pandemia e a geração de empregos, mas não deu tempo para a população perceber. E agora, o bom trabalho de Biden na economia vai ser creditado a Trump.
Que isso sirva de lição para o Brasil, onde a economia vai bem, mas a percepção da população é outra e acha que tudo vai mal. A narrativa de que as contas públicas estão mal e que o país vai entrar em crise está ganhando de longe da narrativa, que é mais verdadeira, de que o país está com o PIB crescendo e a taxa de desemprego em queda, apesar do fiscal. Alguém precisa avisar ao Presidente Lula que a percepção da população vale mais que as estatísticas.
Aqueles que afirmam que a questão da imigração também pesou fundo no eleitorado americano tem alguma razão, afinal, isso é perceptível. Mas atrás desse tema também paira a economia. Muitos imigrantes já estabelecidos votaram em Trump pelo medo de que a entrada de mais imigrantes prejudicasse o que eles já conquistaram.
Além disso, as pesquisas mostraram, e isso também está acontecendo no Brasil, que a população está em busca de uma economia que favoreça oportunidades para subir na vida e estimule o empreendedorismo. A falta de oportunidade, a dificuldade de avançar na escolaridade, a dificuldade de abrir um negócio, os juros altos impedindo o crédito, tudo isso trabalhou a favor de Trump. E, assim, 63% da população, acham que os EUA rumam na direção errada, gastando bilhões com a política externa e abrindo mercado para as empresas estrangeiras colocarem seus produtos. Donald Trump foi considerado mais apto para lidar com a economia do que Kamala Harris por uma margem de 6 pontos percentuais.
O fato é que o eleitor é o mesmo de sempre: um eleitor de resultados. Quer eleger um político que possa melhorar sua vida e tirar poder daquele que lhe obriga a sacrifícios. Claro, no pacote está também uma tendência clara do eleitorado na direção de um mundo mais conservador e a polarização política, na qual a direita vem sendo muito mais eficiente em defender suas ideias que a esquerda, mas nada disso é determinante nem na América, nem no Brasil. O determinante é: o eleitor quer o político que pode melhorar sua vida. Em resumo: continua sendo a economia. Estúpido! (EP – 11/102024)