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LIVROS, SEMPRE LIVROS – ARMANDO AVENA

Redação - 04/10/2024 02:30

Há romances que são lidos e quase que imediatamente esquecidos e há aqueles que não se esquecem jamais. Não falo dos clássicos que, como dizia Ítalo Calvino, são livros que nunca terminam de dizer aquilo que tinham para dizer, mas de livros cuja história marca, de forma indelével, o leitor .

Vem-me à cabeça o livro Electra Enlutada, que traz a famosa peça de Eugene O’Neill, baseada na tragédia grega, contando a história da família Mannon tendo como pano de fundo a Guerra da Secessão americana. Nela, o brigadeiro-general Ezra Mannon encabeça uma tragédia familiar movida pela força de duas mulheres: Lavínia Mannon, sua filha, e Christine, sua esposa, que deixam agigantar-se o verme que existe no seio de toda família. Nelson Rodrigues, que colocou no palco as vísceras da família brasileira, adorava essa peça.

Outro livro despretensioso, que mais parece um romance policial, é a Origem do Mundo do chileno Jorge Edwards, que já comentei aqui. O protagonista é Patricio Illanes, exilado chileno morando em Paris e apaixonado por sua mulher, Sílvia. Certo dia, visitando o Museu D’Orsay, ele vê um pequeno quadro que lhe pareceu extremamente familiar. Notou que o quadro retratado se parecia muito com sua mulher, se ela fosse retratada da mesma maneira. Então, aquele que era seu melhor amigo, e dela, aparece morto em seu apartamento e, entre os seus pertences, ele encontra uma foto de uma mulher na mesma posição do quadro.  E sente-se traído, pois se Sílvia assim tivesse sido retratada, como a ele parecia, a foto lhe revelava a traição. “O monstro de olhos verdes” desencadeia então um alucinante thriller literário sobre o ciúme, com direito aos delírios de um comunista expulso do Chile pelo ditador Augusto Pinochet, mas desiludido pelo que soube de Stálin e pelo que viu em Cuba.  O quadro, que motivou um ciúme tão avassalador, foi a Origem do Mundo, de Gustave Courbet, e não aconselho o leitor, se pudico ele for, a ir correndo ao Google para ver do que se trata.  O livro de Jorge Edwards tem o mesmo título do quadro de Coubert e, no dizer de Mario Vargas Llosa  “ é uma história que, sob a aparência de leve diversão, é uma complexa alegoria do fracasso, da perda das ilusões políticas, do demônio do sexo e da ficção como complemento indispensável da vida”. Jorge Edwards, que amava Machado de Assis e lhe dedicou um belo estudo, fez de Sílvia sua Capitu. Ainda no terreno do crime, do ciúme e da psicanálise, lembro do livro de Arthur Schnitzler, Breve Romance de Sonho, a história de um casal que, após a esposa contar ao marido uma fantasia sexual que habita seu inconsciente, ele, desesperado pelo ciúme e em busca de sua própria fantasia,  se envolve em uma jornada de mistério, misticismo e crime. O livro foi o último trabalho no cinema do cineasta Stanley Kubrick, tendo Nicole Kidman e Tom Cruise no papel principal.

Publicado no jornal A Tarde em 04/10/2024

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