O BRT Salvador iniciou a fase de testes com ferramentas de tecnologia assistida de audiodescrição, que permitem que pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso às informações das imagens que estão no ambiente. Mais de metade da frota, o equivalente a 37 veículos, já conta com equipamentos que emitem mensagens descritivas de áudios a cada parada, no decorrer de todo itinerário.
As explicações sonoras visam orientar as Pessoas com Deficiência (PCD) sobre o momento exato do embarque e desembarque. Somado ao recurso tecnológico, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) também disponibiliza monitores espalhados pelas estações do BRT.
O cabeleireiro Zilmado de Souza, 80 anos, tem baixa visão em função da idade. O idoso contou que não costuma andar acompanhado quando tem algo para resolver na rua. “Pego ônibus, metrô, BRT, faço tudo sozinho”, disse.
Usuário assíduo do sistema desde o início da operação, há exatos dois anos, ele declarou que os áudios têm sido muito importantes para garantir sua autonomia. “Não vejo mais direito, então vou sempre conversando. Mas, na hora de descer, sempre ouço a mensagem da ‘moça’. Ajuda bastante”, disse.
A cozinheira Cristina Mendes, 40 anos, usa o BRT pelo menos duas vezes ao dia. Os embarques com destino ao trabalho acontecem sempre na Estação Rodoviária, nas primeiras horas da manhã. Embora enxergue perfeitamente, considera fundamental o recurso de audiodescrição.
“Presencio muitas situações. Outro dia, uma mulher pediu informação a outro passageiro e a pessoa deu a informação errada. Ela parou, escutou o que dizia a mensagem e comentou comigo que iria descer no ponto errado. Nessa hora, pude perceber o quanto é importante ter esses áudios nos ônibus”, comentou.
Mobilidade
Responsável pela condução de um dos veículos que integram a frota do sistema BRT, o motorista Luciano Dantas afirmou que o sistema de áudio tem gerado enorme satisfação entre os passageiros. “Com certeza tem ajudado demais quem tem deficiência, o pessoal tem elogiado muito. Além disso, orienta todo e qualquer usuário, que às vezes se distrai, cochila ou está conversando. Já vi muita gente passar do ponto, agora já não acontece mais”, comentou o condutor.
Para Daiane Pina, que além de audiodescritora é diretora de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência da Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), a instalação dos equipamentos sonoros no BRT é fundamental para reforçar a mobilidade e, consequentemente, a autonomia das pessoas com deficiência. “A audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional que permite que pessoas cegas, com baixa visão e pessoas que têm TDH possam utilizar sozinhas o transporte público”, explicou.
Acessibilidade
Além do sistema de audiodescrição, o BRT reforça a acessibilidade através de leitura em QR Code, rampas e elevadores de acesso aos ônibus e terminais. As estações também oferecem sinalização tátil e, em muitas delas, mapas táteis para orientação dos usuários. “É assegurar que uma pessoa cega ou que tenha qualquer outra deficiência possa exercer sua cidadania e transitar dentro da cidade de Salvador”, pontuou Daiane.
A acessibilidade no BRT sempre foi uma premissa do modal, desde o início da operação, em 30 de setembro de 2022. De acordo com o secretário da Semob, Fabrizzio Muller, as ferramentas de tecnologia assistida de audiodescrição serão instaladas em toda a frota.
“O BRT já nasceu com esse viés da acessibilidade. Sempre foi um equipamento para todos e agora passa a contar com mais esse recurso, facilitando a orientação das pessoas com baixa visão ou deficiência total. É uma demonstração de respeito à diversidade humana, além do cumprimento à legislação. É garantir que essas pessoas possam sair de suas casas para trabalhar sozinhas, que tenham direito à mobilidade para assegurar sua autonomia”, finalizou o secretário.
Foto: Lucas Moura/Secom PMS