O dólar comercial renovou ontem sua máxima no ano. A moeda teve alta de 0,61%, a R$ 5,35, mantendo o movimento de forte valorização visto na sexta-feira no mercado financeiro, mesmo em um dia de agenda esvaziada de indicadores macroeconômicos no Brasil e nos Estados Unidos — mas sob o impacto do avanço da extrema direita nas eleições do Parlamento Europeu. O câmbio turismo acompanhou ontem a alta do comercial. A menos de um mês das férias escolares, a moeda americana para quem vai viajar para o exterior chegou a ser vendida R$ 5,74, no pagamento em espécie, em algumas casas de câmbio no Rio de Janeiro. No início da tarde, a divisa alcançou a marca de R$ 5,85 no cartão pré-pago.
Ao fim do dia, o dólar em espécie era vendido a R$ 5,64 na casa de câmbio Travelex Confidence. Já no cartão pré-pago, a moeda saía a R$ 5,74. No mesmo local, a divisa europeia era negociada a R$ 6,10 em espécie e R$ 6,20 no plástico. Já o euro, que recuava no exterior devido ao resultado das eleições no Parlamento Europeu, chegou a ser negociado, na máxima, a R$ 6,29, nas recargas de cartão. As cotações incluem o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,1% em espécie e de 4,38% no cartão.
Analistas destacam que a moeda, que vem apresentando sucessivas altas nas últimas semanas, foi pressionada pela aversão a risco no exterior e a persistência de ruídos relativos à reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com representantes do mercado na sexta-feira. Não se sabe ao certo o que foi tratado no encontro, mas o vazamento de um comentário sobre um possível contingenciamento neste ano em caso de maior pressão de despesas obrigatórias gerou estresse entre analistas. De acordo com os participantes, o tom da conversa passou a sensação de que a agenda econômica não depende só do ministro. — O ruído em torno do Haddad não foi pelo o que ele disse, mas pela impressão que isso passou para o mercado. Parece que ele está perdendo o controle da agenda econômica, e o mercado teme que o arcabouço fiscal fique insustentável — avalia André Leite, CIO da Tag Investimentos.
Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management, ressalta que o ministro é visto como “aliado” na busca do equilíbrio das contas públicas, daí a preocupação: — Haddad parece cada vez mais fraco, ele tem se provado um aliado do mercado na perseguição da meta fiscal. No ano, o dólar acumula uma alta de mais de 10%, em meio às frustrações do mercado com os juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e o equilíbrio das contas públicas no Brasil.
Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, explica que a corretora recentemente revisou sua projeção de R$ 4,70 para o câmbio no fim do ano para R$ 5, considerando fatores como queda no preço das commodities e incerteza em torno da meta fiscal: — Temos uma projeção de déficit de 0,5% do PIB para esse ano. Ou seja, o governo não conseguiria atingir sua meta de equilíbrio nas contas públicas, o que vem pesando cada vez mais sobre o câmbio e aumentando o prêmio de risco para a economia brasileira — afirma Nobre.
Foto: Paul Yeung/Bloomberg