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A TARDE AOS 111 ANOS – ARMANDO AVENA

Redação - 20/10/2023 08:11

Foi no final dos anos 60 que li A Tarde pela primeira vez. Eu era menino e o jornal já era quase sexagenário. Fiquei curioso quando ouvi meu pai dizer, para pôr fim a uma polêmica qualquer: se saiu em A Tarde, é verdade!

 A frase, que encerrava uma discussão, sintetizava a credibilidade do jornal fundado por Ernesto Simões Filho. Meu pai era um homem tímido, pouco afeito aos eventos sociais, como, aliás, também o é este escriba que traz seu sangue. Mas ele acompanhava diariamente o que se passava na Bahia e no mundo através do jornal A Tarde. Muitas vezes deixava sua loja no relógio de São Pedro, lá pelas quatro da tarde, para comprar o jornal que naquela época era vespertino. Mais tarde, quando o jornal tornou-se matutino, bastava ouvir o grito do jornaleiro “leia A Tarde” para ele ir comprar o jornal ou mandar um dos seus filhos fazê-lo.

 Muito tempo depois quando, ainda muito jovem, comecei a escrever uma coluna em A Tarde meu pai ficou encantado. Lembro o dia em que fui lhe dar a notícia e dele ouvi uma peroração justa e digna a respeito da responsabilidade e do compromisso de quem faz jornalismo.  E, desde então, ele passou a ler o jornal com mais satisfação e era com certo orgulho que, indagado se era ele o jornalista, dizia sorrindo que eu havia usurpado seu nome e que ele era apenas o pai do escritor, do jornalista, do economista. Mas ele sabia do orgulho que eu tinha em ostentar seu nome seguido do agnome que dele me distinguia e permitia que eu fosse conhecido como filho de um homem íntegro, generoso e dedicado à sua família.  Se passei a assinar minha coluna sem o epíteto de “filho”, o que faço até hoje, foi porque admirava tanto seu nome que por ele gostaria de ser conhecido.

Com a ajuda luxuosa de A Tarde, conheci pessoas especiais. Cito apenas duas, pedindo perdão a todos aqueles que deixo de citar. Jorge Calmon, um jornalista extremamente dedicado e cioso do seu ofício. Sóbrio e elegante, Jorge não só descobriu em mim a vocação de jornalista, ao convidar-me para escrever uma coluna em A Tarde, mas também, ao lado de Guido Guerra, abriu as portas para que eu pudesse adentrar ao Solar Góes Calmon.  E o amigo Florisvaldo Mattos, poeta e jornalista, e editor do maravilhoso suplemento cultural de A Tarde, no qual escrevi meus primeiros artigos literários.

 Lembrei-me de meu pai e desses amigos neste mês em que A Tarde completa 111 anos. E lembrei também dos jornalistas, dos diretores, dos colunistas e de todos os colaboradores que fazem de A Tarde, o melhor jornal do Norte e Nordeste do país.  E do amigo João Mello Leitão, membro da novíssima geração dos Mello Leitão, que hoje preside e moderniza o jornal.

A Tarde fez parte da história de meu pai, faz parte da minha história e da de milhares de baianos e é por isso que a Bahia se une para, com orgulho, comemorar seus 111 anos.

Publicado no jornal A Tarde em 20/10/2023

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