No segundo trimestre de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita alcançou o maior valor desde o primeiro trimestre de 2014 e o mais alto desde o começo da série histórica, iniciada em 1996. Os cálculos são do economista Vitor Vidal, ex-Bradesco, FGV Ibre e LCA Consultores e atualmente em doutorado na Barcelona School of Economics.
As contas consideram a taxa de 0,52% de crescimento médio anual da população brasileira, e as projeções foram ajustadas para se chegar à expansão ano a ano. O número foi alcançado com o ritmo mais lento de crescimento da população observado no Censo 2022 pois, se uma população que cresce menos ajuda no resultado absoluto do PIB per capita – já que uma economia do mesmo tamanho precisa ser dividida por um número menor de pessoas, acende o alerta para o impacto dessa transição demográfica mais rápida que a estimada anteriormente na atividade econômica brasileira.
“O mercado financeiro não tem olhado muito para os dados dessa transição demográfica, mas é um indicador importante para entender a economia brasileira a longo prazo. Pelas minhas contas, o início da queda da população brasileira começará em 2032, bem antes do que o IBGE estimava [2048]”, disse Vidal.
De acordo com o economista, com menos pessoas entrando para o mercado de trabalho, o crescimento da economia fica cada vez mais dependente de aumento de produtividade. “Cada vez menos trabalhadores entram no mercado para alavancar a economia. Aí o que nos resta para crescer é aquela ladainha da produtividade, que pouco avança no país”, explicou.
Alé, disso, a produtividade brasileira cresceu 2,1% no primeiro trimestre, ante o trimestre anterior, mas o impulso veio da agropecuária, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“Com o Censo mostrando um ritmo diferente de expansão da população, tem um lado bom, que é dividir o bolo com menos gente, ajuda a reduzir o gap do PIB per capita. Mas, à medida que avança a transição demográfica, o país tem menor crescimento econômico, é natural. E isso ainda começa a ocorrer com uma redução da taxa de participação no mercado de trabalho”, afirma a pesquisadora sênior do FGV Ibre e coordenadora do Boletim Macro FGV Ibre, Silvia Matos.
FOTO: Marcello Casal Jr./Agência Brasil