O Censo de 2022 trouxe uma informação inesperada: a população de Salvador se reduziu em mais de 257 mil habitantes ao longo de 12 anos, uma queda de 9,6%. Nove capitais brasileiras também apresentaram redução, mas a perda populacional em Salvador foi a maior do país. O fato tem implicações.
Por um lado, registre-se que quanto menor a população menor os problemas e os gastos com infraestrutura de transporte, lixo, habitação e saneamento. E, apesar de tudo, e por uma fatalidade estatística, a renda per capita de Salvador, que era de cerca de R$ 20,4 mil em 2020, aumentou 50%, chegando a R$ 31 mil em 2022. Mas esse indicador é uma média burra, nada diz sobre distribuição de renda e a qualidade de vida. Do lado ruim, “fuga de moradores” significa perda de dinamismo econômico e redução do mercado consumidor. Imagine o leitor, que quase uma Camaçari inteira foi embora de Salvador.
Muitas explicações foram elencadas. Desde a taxa de natalidade que vem caindo e, em 2021 atingiu o menor número de nascimentos em 46 anos, até a pandemia, pois, a necessidade de isolamento e o estabelecimento do sistema de home-office estimulou a migração. A violência urbana também é citada.
No entanto, outras capitais que possuem taxa de natalidade menor que Salvador e sofreram na pandemia, ou seja, foram submetidas aos mesmos fatores, apresentaram crescimento populacional ou queda bem menor. Já o aumento da violência urbana é algo grave, mas acontece em várias cidades brasileiras e nem por isso houve fuga populacional. Manaus é uma das cidades mais violentas do Brasil e sua população cresceu quase 15%.
Todas as explicações têm sentido, mas nenhuma delas é suficiente para justificar uma mobilização de mais de 250 mil pessoas. O fator principal parece ser um fluxo migratório da capital para o interior. Camaçari, por exemplo, que fica a cerca de 50 km de Salvador, registrou crescimento de 23% da população e Lauro de Freitas, praticamente conurbada com a capital, teve crescimento populacional de quase 25%. Outras cidades também estão atraindo população. Em Feira de Santana, a 2ª maior cidade do estado, a apenas 100 km de distância de Salvador, a população cresceu mais de 10%. Vitória da Conquista, Juazeiro, Porto Seguro, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães registraram crescimento populacional acima de 20%.
Ora, mas por que motivo essas cidades estão atraindo migrantes, enquanto a capital, locus da atividade política e econômica do estado, está perdendo moradores? Por que Salvador, que entre 2000 e 2010 aumentou sua população em 233 mil pessoas e foi a cidade que mais recebeu fluxo migratório interno, estagnou?
A resposta é que a fuga populacional de Salvador parece estar relacionada à questão econômica, ou melhor dizendo, à questão urbano/econômica. Se isso é verdade, as políticas públicas precisam ser revistas no âmbito municipal, estadual e federal, pois resultaram ou não foram capazes de impedir a queda do dinamismo econômico da capital. O problema é que, no âmbito acadêmico, deixamos de pensar Salvador e sua problemática urbana e econômica e no âmbito do poder público a polarização tomou conta de tudo e não há mais lugar para opiniões e discussões técnicas, tudo é político e não é só na Bahia, mas também no Brasil e no mundo. E é por isso que paro por aqui, prometendo um novo artigo, pois se faz necessário terminar a sistematização de dados para mostrar que é urgente uma ação conjunta para fazer com que Salvador volte a ser pujante e economicamente dinâmica.
NOVO PRESIDENTE DA ACB
O empresário Paulo Cavalcanti assumiu a Associação Comercial da Bahia em evento realizado na última terça-feira. Cavalcanti foi candidato único e aclamado com uma expressiva votação dos associados. Wilson Andrade foi reconduzido à presidência do Conselho Superior da ACB. Ao assumir a liderança da mais antiga entidade empresarial do Brasil, Cavalcanti disse que pretende trabalhar para fortalecer a representação empresarial. Entre os vice-presidentes eleitos, destaca-se a participação das mulheres: Isabela Silva Suarez, na área de sustentabilidade empresarial, Maria Constança Galvão, na área administrativa/financeira, além de Ana Ferraz Coelho, Agnaluce Moreira Silva, e Rosemma Maluf.
Publicado no jornal A Tarde em 20/07/2023