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ADARY OLIVEIRA- NUNCA MAIS ME ESQUECI

SX - 10/04/2023 10:26 - Atualizado 05/01/2024

Existem coisas em nossas vidas que a gente nunca esquece. Muitas delas servem de guia para comportamentos futuros. Não que eu queira estabelecer regras que possam servir para solucionar qualquer caso, mas podem ser úteis em nossas vidas. Uma recomendação que eu sempre fazia para meus alunos é que, se fossem algum dia convidados para um emprego, sempre dissessem sim. Isto porque depois de se dizer sim, é possível dizer não. Ao contrário, se a resposta dada for não, pode-se estar jogando fora uma boa oportunidade. Dizendo sim, há tempo para pensar, refletir, conhecer melhor o convite e depois formular corretamente a resposta. No início de 1979 eu estava com 36 anos de idade quando Luiz Sande me telefonou ao entardecer de um certo dia e foi direto ao assunto: – Você que vir morar no Rio de Janeiro, é para ser diretor da Fibase. Não pestanejei e respondi sim, no que ele completou: -Venha aqui amanhã de manhã conversar comigo.

Eu havia concluído o Mestrado em Administração de Empresas na FGV de São Paulo e estava preparado para a função. A Fibase, hoje BNDESPAR, era uma subsidiária integral do BNDES com inúmeros projetos na Bahia, entre eles o do Polo Petroquímico de Camaçari e o da Caraíba Metais. Não perdi um só minuto dos seis anos que estive trabalhando no BNDES, tendo conhecido pessoas incríveis. Uma delas foi Juvenal Osório, decano de larga experiência e admirado por todos. O edifício sede do BNDES, no Rio de Janeiro, tem o seu nome. Ele era um mestre e aproximei-me dele, ficando seu amigo. Juvenal me falou certa vez que em uma reunião eu deveria deixar os mais afoitos falar primeiro e ficar escutando. Quando ninguém mais tivesse o que dizer sobre o assunto que eu fizesse meu comentário falando o que ninguém havia falado. Sempre me sai bem com esse comportamento.

Uma outra coisa que aprendi na escola da vida é que não deveria ficar contra, nem a favor, de alguma proposta que, no meu ajuizamento, não viria a acontecer. Ficava calado e não me indispunha com ninguém. O tempo se encarregava de mostrar a inviabilidade da proposta ou do projeto. Sempre uso esse procedimento e quando sou perguntado se sou contra ou a favor, respondendo, conforme o caso, que não costumo ser contra a uma coisa que não vai acontecer. Até hoje não errei, sempre acetei na mosca.

Nem sempre os mais velhos lhe trazem bons ensinamentos. Um dia ouvi de um político famoso, de quem estive próximo por certo tempo, que quem estava no poder tinha duas obrigações: saber exercer o poder e permanecer o poder. Foi a pessoa mais poderosa de seu tempo, mas eu não concordava com ele. Nem sempre o que ele considerava bom de se fazer era o bom para o País ou para o Estado. Foi um mandamento que procurei esquecer e nunca o recomendei para ninguém.

No meu tempo de escola aprendi que fenômeno era tudo que acontecia na natureza. Havia os fenômenos físicos e os fenômenos químicos. Numa transformação física a substância continua a mesma. Se a madeira de uma árvore é transformada em uma cadeira, a madeira continua sendo a mesma. No entanto, quando um ácido reage com uma base, formando sal e água, são formadas substâncias completamente diferentes das que lhe deram origem. É um fenômeno químico. Os fenômenos químicos e físicos acontecem segundo regras fixas e conhecidas. Mas também existem os fenômenos sociais, difíceis de se prever o futuro. A sequência do flerte, namoro, noivado e casamento acontece com frequência, mas nem sempre deixa de ser interrompida. Em nossas vidas na sociedade podemos prever algumas coisas e algumas certezas são frutoda idade e experiências de vida de cada um, daí não ser recomendável acreditar em regras fixas, como na física e na química. Muitos dizem ser uma verdade verdadeira a assertiva que diz que nossas experiências de vida só são úteis para nós mesmos. Concordo em parte, por isso estou escrevendo estas memórias.

No momento atual da vida nacional está muito difícil se fazer previsões. Quando se pensa que as coisas vão seguindo um rumo, vem alguém e anuncia novo caminho, embaralhando tudo. Quando as forças entrópicas parecem apontar numa direção, tudo muda, ficando mais incerta qualquer previsão do que pode acontecer.

Adary Oliveira é engenheiro e professor (Dr.) – [email protected]

 

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