A decisão de manter os juros básicos da economia em 13,75% ao ano pela quinta vez na quarta-feira passada foi “totalmente técnica, super técnica”, reforçou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem recebido fortes críticas do governo e até de alguns especialistas do mercado por não reduzir a Selic.
Na coletiva para apresentar o Relatório Trimestral da Inflação, Campos Neto disse várias vezes que a decisão é “apenas técnica”, que “não tem nenhum componente político” e que o trabalho da autoridade monetária é explicar à população que não atuar contra a inflação agora pode ter um custo maior lá na frente, sugerindo que cortar a taxa Selic neste momento poderia provocar mais inflação e corroer a renda da população.
E foi direto, se fosse cumprir a meta da inflação em 2023, a Selic teria que ser bem maior, de 26,5%.Para o chefe da autoridade monetária, as críticas do governo sobre a atuação do Comitê de Política Monetária (Copom) não são novas. “Paulo Guedes (ex-ministro da Economia) também ligava para reclamar que estávamos muito duros na ata do Copom em relação ao fiscal. Faz parte”, observou. Ele não vê crise de liquidez no Brasil, mas destacou que o Banco Central, se necessário, tem todos os instrumentos para injetar liquidez no mercado, se a crise bancária, que começou nos EUA, se alastrar.
Questionado sobre o novo arcabouço fiscal, anunciado hoje pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e visto pelo mercado como um fator que pode aliviar a inflação, Campos Neto falou que ainda desconhece o plano, mas que tem um bom relacionamento com a Fazenda, vê o ministro “bem-intencionado”, mas com “uma luta grande pela frente”. Para o presidente do BC, a tarefa de Haddad é dificultada pela divisão do governo, reconhecendo o esforço da Fazenda com “boa vontade de fazer um arcabouço fiscal robusto”, o que “denota preocupações com a trajetória da dívida”.
Ao lembrar que a definição da meta de inflação é prerrogativa do governo, ele reforçou a ata do Copom, que citou a percepção de que a meta pode aumentar como um dos três principais motivos que estão por trás da elevação das expectativas para a inflação, o que impediu o início do ciclo de baixa da Selic. As outras duas razões, segundo ele, são uma visão de leniência do Banco Central e a percepção de um risco fiscal maior.
Campos Neto revelou não estar participando da escolha dos substitutos dos diretores do BC– Bruno Serra, de Política Monetária, e Paulo Souza, de Fiscalização, cujos mandatos acabaram em fevereiro. Segundo ele, a transição dos diretores precisa ser “suave” e os novos indicados precisam ter conhecimentos, habilidades específicas, para desempenhar esse trabalho técnico. Sobre a Supervisão, ressaltou que seria necessário “ser alguém da casa” e sobre o diretor de Política Monetária, ele necessitaria conhecer “de mercados”.
Fonte: Minuto Touro
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil