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JOSÉ MACIEL – A MAIOR SAFRA DE TRIGO DA HISTÓRIA

Redação - 16/01/2023 08:56 - Atualizado 10/06/2023

Nos últimos dois anos , postamos duas colunas a respeito da necessidade e oportunidade  de caminharmos rumo à autossuficiência no abastecimento do mercado interno de trigo, dados o seu papel estratégico para a segurança alimentar da população brasileira e os elevados coeficientes de importações, historicamente cravados no patamar de 50%, a maior parte das quais concentradas em um só país: a Argentina. Afinal, estamos tratando do segundo alimento mais consumido no planeta, só superado pelo arroz. Em alguns anos,  a cadeia do leite e derivados aparece em primeiro lugar em alguns países e regiões. No Brasil, o arroz, café, feijão e pão de sal (pão francês) ocupam a as primeiras posições no ranking dos alimentos mais citados pelos brasileiros, em seus hábitos de consumo. Mais recentemente, novos argumentos  reforçam essa necessidade de autossuficiência, a exemplo da instabilidade e incerteza no suprimento mundial deste cereal, com a eclosão do conflito Rússia-Ucrânia, já que ambos figuram na primeira e quarta posições da produção no mundo, forçando os países europeus, por exemplo, a buscarem novas fontes de abastecimento, fazendo disparar os preços internacionais.

Mesmo sem uma sinalização mais explícita ou robusta da política governamental com relação ao produto (apenas temos visto  o  esforço da EMBRAPA no desenvolvimento do chamado trigo tropical, que vem permitindo o plantio nos cerrados, incluindo os cerrados baianos),  os produtores brasileiros, inclusive nas novas regiões de plantio, como é o caso da Bahia, vêm captando estes estímulos de preços e incrementando mais fortemente a produção interna, a ponto  de proporcionar safras recordes no período recente.

Com efeito, a produção nacional da temporada de 2022 alcançou a marca recorde de 9,5 milhões de toneladas do grão, a maior safra de nossa história, correspondendo a um aumento de 24% em relação ao patamar observado no ciclo agrícola de 2021. Isso representa cerca de 76% de nossas necessidades anuais de consumo. Esse talvez seja o maior ou um dos maiores coeficientes de autoabastecimento de nosso mercado. É um feito que deve ser comemorado.

Posicionado habitualmente na segunda colocação entre os estados produtores, o Rio Grande do Sul colheu  4,97 milhões de toneladas , com alta produtividade (algo como 3 toneladas por hectare), superando o Paraná, que tem ocupado a liderança na produção nacional nos últimos anos. O  Paraná se defrontou com problemas climáticos e obteve uma produção de  3,38 milhões de toneladas, bem abaixo das previsões iniciais. Santa Catarina e São Paulo também registraram produções recordes. Embora com  produção ainda pouco importante no cenário nacional, a Bahia mais que dobrou a sua produção, saindo de um patamar de 17 mil toneladas para uma produção de 42 mil toneladas numa área de 7 mil hectares, com essa produção toda localizada no Oeste e sob regime de irrigação. Sobreleva ressaltar que a Bahia tem uma área importante de pivôs centrais, tema já objeto de abordagem de uma coluna passada aqui no portal, o que permitiria, se toda ela fosse destinada ao plantio do cereal, obter uma safra de cerca de 1,2 milhão de toneladas , correspondendo a uma parcela de 10% de nosso consumo interno. É claro, por várias razões, que essa destinação não é passível de ser concretizada, mas se, por exemplo, o Estado utilizar no futuro 20% dessa área de pivôs centrais com a plantação de trigo (como opção de cultura de inverno), cerca de 40 mil hectares, seríamos capazes de produzir 240 mil toneladas(considerando uma produtividade de 6 toneladas por hectare, o dobro da média nacional), algo  significativo no contexto das novas áreas de expansão da triticultura nacional. Mas, isso é tarefa para ser atingida a médio e longo prazos.

Segundo a EMBRAPA-TRIGO, desde 2015 a produção nacional de trigo tem crescido a um ritmo de 10% ao ano. Se esse ritmo se mantiver até 2030, a colheita chegará a 20 milhões de toneladas , o que pode permitir  o nosso ingresso no universo dos países exportadores. Registre-se, a propósito , que, nos anos de 2021 e  2022, o Brasil exportou cerca de 3 milhões de toneladas do grão, o equivalente a quase seis vezes mais que as quantidades exportadas anualmente no período 2016-2020, segundo dados da CONAB. Nesse intervalo entre 2016 e 2020,  as vendas externas alcançaram o valor máximo em 2020, com a marca de 823 mil toneladas. Tudo isso parece revelar uma grande possibilidade do país  se posicionar mais a frente como um grande “player” no mercado internacional de trigo.

Ainda não se sabe se esse movimento de aumento expressivo  da produção recente vai conduzir rapidamente o Brasil ao estágio de país autossuficiente e exportador deste cereal. De nossa parte , acreditamos que uma sinalização mais clara do governo federal no próximo Plano Safra, que vai vigorar a partir de julho próximo, a favor da meta da autossuficiência, pode ser um impulso poderoso para a conquista rápida dessa meta.

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