Após passar sete dias recolhido por orientação médica, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou na noite de ontem a Brasília para tratar de
três assuntos prioritários: as estratégias para aprovar a PEC da Transição, a definição dos nomes que vão integrar os núcleos temáticos de Defesa e Inteligência Estratégica, únicos que não contam com nenhum membro até agora, e o possível anúncio dos primeiros ministros do seu futuro governo.
Lula vai articular pessoalmente para destravar a proposta de emenda à Constituição que permite ao Executivo furar o teto de gastos para custear promessas eleitorais, como a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600. O petista deverá se encontrar novamente com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de lideranças de partidos e bancadas, na tentativa de viabilizar o início da tramitação do projeto.
A presença de Lula também servirá para aplacar ruídos. Ele repousou durante uma semana após se submeter a uma cirurgia para retirar uma lesão na garganta. Ainda assim, a ausência do presidente eleito na reunião do Conselho Político da transição, na terça-feira passada, gerou queixas. Nos bastidores, aliados pediram empenho de Lula para destravar a PEC no Congresso. Até aqui, a direção do PT vinha tentando evitar o envolvimento direto do presidente eleito na discussão, uma tentativa de blindá-lo dos danos de uma eventual derrota antes mesmo de ele tomar posse. A estratégia, porém, mudou.
— Ele vai estar lá (em Brasília) a partir de segunda-feira. Quer fazer várias reuniões com os partidos e bancadas e conversar novamente com os presidentes da Câmara e do Senado — disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, na sexta. O prazo para a aprovação da proposta está cada vez mais exíguo. O relator do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), já anunciou que pretende protocolar o texto da PEC até amanhã para o projeto seja votado até o meio de dezembro. Falta, contudo, fechar dois pontos cruciais: o prazo de validade do texto e o valor que ficará a acima do teto.
Em Brasília, Lula vai lidar com outro foco de pressão e descontentamento: a indefinição do nome que comandará a economia. A iniciativa tende a tranquilizar o mercado financeiro, a depender do escolhido, e ajudar nas discussões sobre a PEC. A cobrança pelo anúncio partiu até de aliados, como os senadores Jaques Wagner (PT-BA) e Simone Tebet (MDB-MS). Por ora, o favorito para o posto é o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que desembarcou em Brasília com Lula. Haddad vem tentando quebrar resistências entre parte dos representantes do mercado financeiro.
Outro assunto sensível que deve ter um desfecho nesta semana é a composição do núcleos temáticos responsáveis pelas áreas de Defesa e da Inteligência Estratégica da transição. Os nomes que vão integrar esses grupos deverão ser conhecidos nos próximos dias. Caberá a eles debater a atuação do Ministério da Defesa e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), hoje comandados por militares.
Interlocução na caserna
Gleisi Hoffmann tem dito que os membros do grupo da Defesa deverão ser divulgados hoje. Ex-ministro da pasta durante o governo de Dilma Rousseff, Jaques Wagner se reuniu com Lula na sexta-feira para tratar da questão. A equipe petista já está em contato com militares de alta patente, como o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva e o ex-comandante do Exército Edson Pujol, para formular os projetos do novo governo às Forças Armadas. Como revelou o GLOBO, os dois declinaram do convite para integrar oficialmente do grupo de trabalho da Defesa, mas se colocaram à disposição para intermediar os contatos com a caserna. Parte dos militares resiste em participar oficialmente da transição por não quererem ser associados ao petista.
Definições para os próximos dias
Espaço fiscal – Governo eleito ainda não construiu consenso sobre a PEC da Transição, que abrirá espaço no Orçamento.
Tema sensível – Escolha dos nomes que farão parte do núcleo da Defesa parou. Expectativa é que Lula desate o nó nesta semana.
Equação ministerial – Aliados estão disputando espaço no primeiro escalão. Definição na Economia deve ser a primeira.
Foto: Cristiano Mariz