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METRÔ DE SALVADOR REGISTRA MAIS FURTOS DE CABOS

Redação - 24/04/2022 10:00

Há quase oito anos, o metrô de Salvador está em operação. Essencial para quem vive na capital baiana, qualquer eventualidade é suficiente para travar a cidade. Apenas em março, três delas causaram transtornos para quem se desloca através do modal. Em todas as situações, o motivo foi o mesmo: o furto de cabos de energia que alimentam a operação dos trens.

O que chama a atenção, porém, é que as ocorrências desse tipo apenas nos três primeiros meses do ano ultrapassaram o total de todo o período do ano passado. Até março, foram registrados 122 casos de furto de cabo, enquanto que nos 12 meses de 2021, foram contabilizadas 106 ocorrências. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo BNews junto à CCR Metrô Bahia, concessionária que administra o sistema.

Como é possível perceber, nem todo furto de cabo resulta em transtornos, mas esse grande salto no começo do ano ajuda a explicar porque o metrô parou três vezes em menos de 30 dias. A primeira delas ocorreu no dia 11 de março. Durante vários minutos, a circulação dos trens ficou interrompida nas duas linhas e voltou depois, mas com velocidade reduzida, causando uma verdadeira noite de caos. O que tornou a situação ainda mais grave foi o fato de ela ter acontecido em pleno horário de pico, na volta para casa, além de ser sexta-feira, início do final de semana. A CCR Metrô não divulgou em que estação o problema ocorreu.

Uma das pessoas que enfrentou os transtornos foi a jornalista Maryanna Nascimento. Naquele dia, ela combinou de se encontrar com amigos para comer uma pizza no bairro de Ondina, às 18h. Pegando um ônibus de Feira de Santana às 16h, ao chegar em Salvador, ainda enfrentou um engarrafamento devido a um protesto nas proximidades. Para adiantar, ao chegar na Rodoviária, cogitou usar um transporte por aplicativo, mas desistiu por conta da chuva, que poderia causar um novo congestionamento, e decidiu ir de metrô.

Porém, ao pegar o trem na estação do terminal, os trens não chegavam. “Depois de um tempo sem saber o que estava acontecendo, veio aquela voz nos alto-falantes dizendo que o atraso era por atos de vandalismo. Os cabos tinham sido roubados”, relata. “Quando os vagões começaram a rodar, era tudo extremamente lento, talvez mais do que o possível aplicativo em um dia de engarrafamento. E ainda inventei de fazer integração com um ônibus na Lapa”, acrescenta, dizendo que chegou no local apenas às 21h30, três horas e meia depois do previsto.

Não demorou para a lentidão se repetir. Menos de uma semana depois, no dia 17, mais um caso aconteceu. Dessa vez, no horário de pico do começo da manhã. Uma tentativa de furto de cabos havia ocorrido entre as Estações Pernambués e Detran, da linha 2 do sistema, mas teve reflexos nas outras paradas e também na linha 1.

Quem estava lá foi Lily Menezes, moradora do Bonfim, na Cidade Baixa. Ela tinha como destino o Shopping Paralela, cujo acesso ocorre pela Estação Tambugury, da linha 2. Para chegar ao metrô, precisa pegar um ônibus para o Centro e ir andando até a Lapa, já que o bairro não possui nenhuma parada do sistema nas proximidades. Naquele dia, porém, ao chegar lá, por volta das 8h50, notou que o movimento estava acima do normal. “Muitas pessoas estavam relcamando da demora, que estavam atrasadas para compromissos”, conta, acrescentando que esperou cerca de 40 minutos para finalmente conseguir embarcar.

“Quando saiu da Estação Brotas, a velocidade estava bem baixa, e continuou assim até o Acesso Norte, onde desci para trocar de linha”, adiciona. Para chegar até Tamburugy, ela levou cerca de meia hora, com a velocidade do trem reduzida entre as estações Imbuí e Flamboyant. Por conta do episódio, enfrentou uma fila maior do que o esperado na agência dos Correios do shopping e, em seguida, se atrasou para o trabalho.

Antes do mês acabar, ainda deu tempo de mais um caso acontecer. Dessa vez, no dia 30, novamente durante a manhã. Na ocasião, o furto de cabos foi registrado entre as estações Rodoviária e Pernambués, também da linha 2, causando lentidão nos dois sentidos (Aeroporto e Acesso Norte).

Como o problema é percebido

Gerente Executivo de Atendimento da CCR Metrô Bahia, Leonardo Balbino explica que os cabos furtados são de cobre, muito visados por causa do valor comercial, e geralmente estão ao longo da via. Segundo ele, os equipamentos alimentam eletricamente o sistema de sinalização, essencial para permitir a circulação dos trens. No entanto, cabos de fibra ótica também são afetados, embora não tenham valor comercial como os de cobre, pois são cortados durante os furtos.

“Quando fazem o corte da fibra ótica, nos temos a interrupção da circulação de dados no sistema. O Centro de Controle não visualiza mais as informações que estão nos equipamentos de campo. Por isso, temos esse impacto direto na operação. Se paramos de ter essa comunicação, precisamos fazer uma operação de contingência. Então é por isso que os trens passam a circular com uma velocidade menor, pois é uma operação que não está dentro da normalidade e fazemos por motivos de segurança”, conta.

Balbino releva também quais são esses equipamentos de campo. “Antenas que trocam informações com os trens, equipamentos que ficam próximos aos trilhos, que também perdem essa troca de informações. É através deles que nós conseguimos saber aonde estão os trens, a que velocidade, se as portas estão abertas ou fechadas. Todas as informações são passadas para o Centro [de Controle]”, acrescenta.

Ao perceber qualquer anormalidade, o Centro de Controle aciona as equipes de manutenção, que vão ao local para identificar qual é o problema e confirmar se de fato houve um furto de cabos. Ao mesmo tempo, as equipes de campo da CCR Metrô Bahia se deslocam para verificar se quem fez o furto ainda está por perto. A partir do momento em que o furto é confirmado, uma varredura é realizada para saber qual tipo de cabo foi levado. Se houve o rompimento da fibra ótica, o procedimento para fazer a fusão, ou seja, a emenda dessa fibra, é diferente de uma emenda de cabos de cobre. Então, as equipes identificam que tipo de material será necessário enviar ao local para fazer o trabalho de recuperação.

O gerente da concessionária explicou também quais ações são tomadas na prevenção de novos casos. De acordo com o executivo, a companhia realizou um unvestimento de quase R$ 5 milhões de reais voltados à tecnologia para mitigar esse tipo de ação, a exemplo da instalação de câmeras de segurança nas estações, promiximades e também ao longo da via.

“Além da tecnologia, temos também nossos recursos humanos. Nossos agentes de atendimento e segurança estão em locais específicos, principalmente nos locais em que percebemos um aumento nas ocorrências. São agentes fardados e à paisana. Temos também rondas dentro dos próprios trens, fazendo esse monitoramento, e qualquer coisa que é visualizada tanto para o centro de controle quanto para um nosso colaborador, nossas equipes já são acionadas, assim como os órgãos públicos externos”, finalizou.

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