Com o fechamento da Ford, a Bahia voltou a ser um estado cuja comércio exterior está completamente voltado para as exportações de commodities, produtos básicos cujos preços são definidos internacionalmente. Em 2021, as exportações baianas atingiram US$ 9,9 bilhões, o maior valor desde 2012, representando uma incremento de 26% em relação a 2020. Não foi um desempenho excepcional, não houve aumento na quantidade exportada, pelo contrário, o que se verificou foi a queda de 3,3% no volume embarcado, mas os preços dispararam e cresceram em média cerca de 30% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo informações da SEI/Seplan.
Mas o que chama atenção na pauta de exportações da Bahia é a extrema concentração em commodities, de tal maneira que entre os dez produtos, que representam mais de 90% do valor total exportado, nove deles são commodities. E se um dia a Bahia foi dependente do cacau, hoje é dependente da soja, seu principal produto de exportação, que responde por 25% das nossas vendas externas. Depois vem petróleo e derivados, químicos e petroquímicos, papel e celulose, minerais, produtos metalúrgicos, algodão, metais preciosos e por aí vai. E as exportações de commodities vão se amplair com a operação plena da mineração de ferro pela Bamin Mineração. Ser uma economia produtora de commodities não é um mal, pelo contrário, é sinal da existência de riqueza no território, mas é preciso políticas publicas e iniciativa empresarial para fazer com que parte da movimentação econômica gerada seja internalizada, através de serviços portuários e de apoio à produção, da utilização dos impostos gerados para estimular atividades econômica regionais, gerar empregos, etc.
É preciso ter conta também que as economias especializadas em commodities estão sujeitas aos ciclos internacionais e são extremamente dependentes dos preços praticados no exterior. Além disso, é preciso ter cuidado com a dependência extrema a um único comprador. Em 2021, por exemplo, a China comprou quase 30% do que foi produzido na Bahia e o continente asiático já é destino de 50% das suas exportações. A Bahia é líder no Nordeste e responde por mais de 45% das exportações regionais, mas tem reduzido esse percentual e nacionalmente ocupa a 10ª posição no ranking dos estados maiores exportadores do país, como menos de 4% do total. Entre os municípios, os que mais exportam são: Camaçari, Luís Eduardo Magalhães, Mucuri, Jacobina, Eunápolis, São Francisco do Conde, Barreiras e Candeias. Resumindo: exportar é bom e traz riqueza para a Bahia, mas é preciso que a exportação esteja integrada à economia e a infraestrutura e seja capaz de gerar uma cadeia de fornecedores e de serviços, evitando a formação de enclaves.
RECORDE DE ARRECADAÇÃO
O Brasil é o único país do mundo em que alguns empresários comemoram o recorde de arrecadação de impostos do governo, um crescimento real de 17% em 2021. Argumentam que o aumento foi expressivo em tributos sobre lucros e rendimentos das empresas, o que indica que a economia está crescendo. Não é bem assim, grande parte da receita veio do aumento no IOF sobre operações financeiras, e, mesmo que fosse, é uma tristeza que os lucros das empresas, que deveriam estar sendo reinvestidos na produção, sejam carreados para o saco sem fundo dos gastos do governo. E essa arrecadação recorde vai fazer a carga tributária se aproximar de 40% do PIB, um recorde também entre países em desenvolvimento.
NA BAHIA O AGRO É TUDO
De cada real gerado na economia baiana, mais de 1/3 tem origem em atividades do agronegócio. O PIB do setor atingiu R$ 33,8 bilhões no 2º semestre de 2021, correspondendo a 35% do PIB baiano. Anualizado, a riqueza gerada pelo agronegócio na Bahia é maior do que o PIB inteiro de todos os estados do Nordeste, a exceção de Pernambuco, Ceará e Maranhão. No 2º semestre de 2021, o PIB do agronegócio cresceu 8,5% em comparação com 2020, crescimento quase 30% maior que o do restante da economia. Agronegócio é um conceito amplo e envolve não só a produção agropecuária, mas também insumos, a indústria de produtos agro e o transporte e comercialização dos produtos. As informações são da SEI.
Publicado no jornal A Tarde em 27/01/2022