A escassez e o aumento dos custos com insumos seguem como um dos principais problemas da construção civil, mas são os juros altos (Selic) que começam a preocupar os empresários do setor. O receio é que em pouco tempo a pressão inflacionária impacte no preço final de imóveis. As dificuldades foram apontadas em sondagem da Confederação Nacional da Indústria e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), divulgada esta semana. Segundo o levantamento, 54% dos empresários manifestaram inquietação quanto aos preços dos materiais pelo 5º trimestre consecutivo.
A alta acumulada nos últimos 12 meses encerrados em setembro deste ano é de 30%. O aumento da taxa de juros foi o que ganhou maior força na passagem do 2º para o 3º trimestre de 2021: manifestação de 16% dos entrevistados, ante 9,7% no período anterior. Contudo, o setor ainda vive boa fase, devido à demanda crescente e a oferta de crédito. A expectativa da CBIC é que o PIB do setor cresça 5% em 2021. Aqui na Bahia, a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) divulgou anteontem que os lançamentos no estado cresceram 99% no terceiro trimestre, em relação ao anterior. Na capital, aumento de 589%.
Segundo o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon), Alexandre Landim, o aumento dos preços dos materiais atinge toda a cadeia e derruba a previsibilidade de custos, enquanto os juros altos, diz, impacta na capacidade de compra pelo consumidor. “Se continuar nessa escalada, uma hora vai atingir o mercado imobiliário”, afirma. De acordo com Landim, para além da alta na demanda na pandemia e da valorização do dólar, a elevação dos custos dos insumos tem origem “com poucos fornecedores” majorando preços de itens, como cabos e fios, vergalhões e arames, tubos e conexões de ferro, aço e PVC, em 80%, 90%, conta o sócio da Conie Empreendimentos, que, em janeiro, assume a presidência do Sinduscon na Bahia.
Presidente da construtora Prima, Ruben Escartin, que essa semana reuniu a imprensa para anunciar o lançamento de dois residenciais de luxo na capital baiana, com Valor Geral de Vendas (VGV) superior a R$ 350 milhões, toda a conjuntura econômica do país preocupa. “Nos preocupa tudo, a inflação, os insumos, os juros, e a possibilidade de uma recessão. Enfim, a incorporação imobiliária tem sempre uma análise de risco que você tem de medir permanentemente, e tomar decisões adequadas. Eu penso que teremos um 2022 não muito estável. Mas esperamos que o tema dos insumos como a inflação sejam pontuais”.
Espanhol, ele conta já ter “experiência” com os ciclos de crises no Brasil. “Em 2014 lançamos o (empreendimento) Horto Barcelona quando a maioria não estava lançado nada, o mercado estava muito ruim. Fizemos uma aposta séria, com um grande investimento, de R$ 200 milhões de VGV, e foi um êxito de vendas. Lançamos e vendemos tudo em dois meses, no pior momento do mercado. Crise são circunstâncias”, afirma.
Na mesma linha, a CEO da Cavazani Construtora, Cecília Cavazani fala que o mercado imobiliário, contudo, segue “comprador”. Ainda segundo ela, enquanto a Selic não atingir dois dígitos, o mercado de crédito será favorável, “em um comparativo com os juros dos últimos 10 anos”. “Hoje, a nossa principal preocupação é com o mercado de habitação de interesse social. A alta no valor dos insumos, mesmo sem o repasse total do aumento para o preço, faz com que o valor do imóvel passe a desencaixar da capacidade de financiamento das famílias”, diz.
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