Criado com a vocação de ser um estaleiro construtor de todas as embarcações produtoras de petróleo no Brasil, o Enseada, em Maragogipe, está ampliando a sua área de atuação para atuar também no escoamento do minério produzido na Bahia. A expectativa da empresa é de que a nova atividade ocupe em torno de 40% da área do complexo industrial implantado na Enseada do Rio Paraguaçu.
“O Enseada foi o maior investimento da história da indústria de construção naval no Brasil. Já foram investidos R$ 3,2 bilhões”, destacou o presidente da empresa, Maurício Almeida, durante a participação no programa Política & Economia, apresentado ontem pelo jornalista Donaldson Gomes no Instagram do CORREIO (@correio24horas).
O equipamento possui 1,6 milhão de metros quadrados (m²) de área e capacidade de processar 100 mil toneladas de aço por ano. “É uma fábrica de navios e plataformas de grandes proporções”, completa o executivo, lembrando que o Enseada possui ainda com maior guindaste da América Latina, com mais de 150 metros de altura, quatro cais de atracação que somados representam mais de 1 quilômetro de extensão. “É um investimento único no país, fruto de um investimento vultoso, que para ser compreendido precisa ser analisado com base na realidade de dez anos atrás”, ressalta.
“Maragogipe, onde o Enseada está instalado, é uma área única, de calado profundo, ao final da Baía de Todos os Santos, sem incidências de ventos, de correntezas. São águas abrigadas na extensão do Rio Paraguaçu”, destaca Almeida. “Nós definitivamente temos uma localização estratégica para a construção de navios e plataformas, que também vai nos ajudar nesta nova vocação, que é a operação portuária”, diz.
A posição do terminal portuário da Enseada é estratégica para a exportação, acredita Maurício Almeida. Segundo ele, o terminal vai permitir que riquezas produzidas no estado e que eram escoadas por outros portos ou terminais fora do estado passem a ser movimentadas pela Bahia. “Nós passamos a ter uma alternativa muito competitiva para escoar as nossas riquezas”.
O investimento em uma nova atividade foi parte do processo de reestruturação da empresa, conta Almeida. “Tivemos que nos reinventar em todos os aspectos, buscar novos negócios, passamos por uma readequação societária. A partir de 2016, iniciou-se uma readequação da companhia, tivemos que pensar no que faríamos com a estrutura, que já estava pronta”, diz.
Segundo Almeida, o que aconteceu foi que o Enseada agregou um novo negócio. “Não deixamos de ser um estaleiro, agora somos um estaleiro e um porto”, explica. O novo negócio ocupa uma área que seria utilizada para a expansão do estaleiro no futuro. “É um negócio que vai de encontro às necessidades da região, que precisa de mais infraestrutura para escoar as commodities da Bahia, dos nossos clientes, mas também é importante para nos ajudar a superar os ciclos da indústria naval, que tem períodos de alta e de baixa. Atualmente estamos na baixa”, analisa.
Política industrial
Há dez anos, quando diversos estaleiros foram construídos no Brasil, projetava-se que 70% dos equipamentos que seriam utilizados para retirar o petróleo das profundezas no mar, na camada do pré-sal, seriam produzidos no Brasil, lembra o presidente do Enseada Maurício Almeida. “Por isso foram feitos investimentos tão grandes”.
“O Enseada foi criado na verdade para atender a demanda do pré-sal”, lembra. “O projeto âncora do estaleiro foi o contrato com a Sete Brasil, que contratou a construção de 28 sondas de perfuração em território nacional, espalhadas por cinco estaleiros, além de outras 12 no exterior. Era um projeto grandioso”, conta. Almeida lembra que em função das dificuldades da Sete Brasil em obter recursos para a conclusão dos projetos, eles foram paralisados e o setor como um todo sofreu. “Diversos estaleiros nacionais, que estavam em plena construção tiveram grandes prejuízos, entre estes o nosso Enseada”. “Desde 2016, o setor vem sofrendo por falta de encomendas, mesmo que a demanda exista. Infelizmente, por falta de uma política industrial, essas encomendas não estão sendo feitas no Brasil”, afirma.
Acesso ferroviário é o maior gargalo
No ano passado, o Enseada movimentou pouco mais de 100 mil toneladas de minério de ferro produzidas na Bahia. Este ano, a expectativa é de atingir uma movimentação próxima a 1 milhão de toneladas e ampliar este volume para 2 milhões nos próximos anos. Apesar do crescimento previsto, estes números representam aproximadamente 20% da capacidade de operação do terminal portuário, destaca o presidente da Enseada, Maurício Almeida.
Se o minério existe e há um terminal pronto para movimenta-lo, o que falta? “Ainda temos gargalos de infraestrutura grandes, principalmente ferroviários. Somente com uma boa estrutura ferroviária podemos ter uma elevação da capacidade de escoamento”, responde o executivo. De acordo com ele, clientes da Enseada estão tentando buscar um entendimento com a VLI, que administra a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), para viabilizar melhorias na ferrovia, que passa por Cachoeira, a 60 quilômetros de Maragogipe.
Segundo ele, existem conversas para que as melhorias, tanto ferroviárias quanto rodoviárias aconteçam. Almeida lembra que as estradas da região não foram idealizadas para dar acesso a um porto. “O mais difícil foi feito, tem um grande porto, a Bahia é uma terra privilegiada em matéria de commodities, então eu não tenho dúvidas de que essas questões de infraestrutura serão resolvidas”, aposta. “Temos abundância de minério de ferro no estado, então nós temos realmente bastante espaço para crescer com a exportação pela Enseada”, avalia.
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