A qualidade ‘premium’ alcançada pelo algodão do cerrado baiano na safra 2020/21 nas primeiras amostras certificadas, é resultado de uma série de fatores como clima, trato cultural e variedades plantadas. Embora nesta safra a área tenha sofrido uma redução de 15% por causa do preço no período da semeadura, foram plantados 266.662 hectares (há) nos municípios do extremo oeste do estado, com previsão de colher aproximadamente 520.363 toneladas de pluma até o mês de setembro.
As boas condições para o desenvolvimento das plantas e dos capulhos (onde crescem as fibras), com chuva e sol nos períodos certos, elevaram também a produtividade média (produção por hectare) para 317,3 arrobas por ha (@)/ha) de algodão em capulho, com incremento de 2% sobre a safra anterior. Para o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Luiz Bergamaschi, a redução da área e da produção em 13% nesta safra “sob uma análise conjuntural reflete sustentabilidade e maturidade da nossa matriz produtiva, que é variada e balanceada em função do mercado”.
O cotonicultor lembrou que em pouco mais de duas décadas “o Brasil deixou de ser o segundo maior importador de pluma do mundo, para se tornar o segundo maior exportador. Perdemos em volume de oferta no mercado externo apenas para os Estados Unidos, mas isso é algo que deve mudar dentro de alguns anos”, avaliou. Ele salientou que a qualidade da fibra do cerrado da Bahia é hoje “comparável à (norte) americana e à australiana”, ressaltando que essa conquista é recente “pois, antes, éramos conhecidos pela baixa qualidade do nosso algodão”.
Ao estimar aumento em torno de 5% de área semeada com a cultura na região para a próxima safra, Bergamaschi pontuou que o oeste baiano tem, além do comprometimento dos produtores para atingir o atual estágio, “o mais completo e complexo programa de certificação de sustentabilidade”. O produtor salientou ainda que os cotonicultores da região seguem as normas do programa Algodão Brasileiro Sustentável (ABR), da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o que “é garantia de fibra sustentável, pois é lastreado nas legislações trabalhista e ambiental do Brasil”.
Titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri), João Carlos Oliveira da Silva também citou o programa ABR, “que é uma referência no mercado internacional” assegurando que a produção baiana tenha boa aceitação entre os compradores. Engenheiro agrônomo, ele destacou que o estado e os produtores atuam em parceria com foco na produtividade e produção, mas também na sustentabilidade da região, “garantindo uma boa imagem da nossa fibra no mercado consumidor”, afirmou.
Para João Carlos, a união da classe com trabalho através do associativismo e as lideranças projetadas no meio rural são fundamentais para consolidar a cultura do algodão entre as maiores commodities baianas. Neste aspecto citou que a presidência da Abrapa é ocupada atualmente pelo produtor baiano Julio Busato, que já dirigiu a Abapa e a Aiba. “Vale destacar a importância estratégica do cerrado baiano, líder entre a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”, disse o secretário, enfatizando que o oeste do estado tem um grande potencial a ser utilizado sem comprometer o equilíbrio ambiental.
Produção de Matopiba
A certificação que qualifica a produção da fibra não só da Bahia, mas de todo cerrado do Matopiba é de responsabilidade do Centro de Análise de Fibras da Abapa, localizada em Luís Eduardo Magalhães há 21 anos. Com 12 máquinas dentro da unidade, o centro instalado no oeste baiano é o maior da América Latina. O local faz a testagem com classificação por HVI (High Volume Instrument), equipamento que mede as características da fibra.
“Trabalhamos 24h por dia, sete dias da semana no pico da safra”, disse o coordenador do laboratório, Sergio Brentano, citando que para manter este ritmo emprega uma média de 110 pessoas no período. Ele revelou que para a safra que está em curso a estimativa é testar 3 milhões de amostras, referentes a produção do Matopiba, com previsão de colher nos próximos três meses 587.067 toneladas no cerrado destes quatro estados, conforme levantamento da Abrapa.
De acordo com o Brentano, que é especialista no assunto, nesta classificação são avaliadas além da cor e do brilho, também a resistência, o tamanho e uniformidade das fibras. “Este ano, até o momento, as amostras indicam que temos qualidade premium”, disse, citando que a fibra é a mais valorizada para tecidos especiais pela textura macia obtida com os fios finos, resistentes e extra longos.
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