Segundo o presidente Jair Bolsonaro, o Brasil vive a maior crise hidrológica da história e pode ter problemas com o fornecimento de eletricidade. Falando com apoiadores nesta segunda-feira, o presidente afirmou que o país pode ter um “problema sério pela frente”, em referência à seca. “Vai ter dor de cabeça”, avisou. Na última sexta-feira, o Globo revelou que o governo decidiu acionar todas as usinas termelétricas que estejam disponíveis para garantir o suprimento de energia, diante de uma seca histórica nas regiões das principais usinas hidrelétricas do país.
O governo federal também decidiu importar eletricidade do Uruguai e da Argentina. O Ministério de Minas e Energia (MME) garante que as medidas afastam o risco de racionamento, mas a conta de luz tende a ficar mais cara ao longo do ano. — Nós estamos com um problema sério pela frente. Estamos vivendo a maior crise hidrológica da história. Eletricidade. Vai ter dor de cabeça. Não chove, é a maior crise que se tem notícia — afirmou o presidente.
A conversa com apoiadores ocorreu na chegada de Bolsonaro ao Palácio do Alvorada e foi gravada e editada por um canal na internet simpático ao presidente. O resultado é que o nível dos reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste finalizou abril com o menor valor verificado para o mês desde 2015, quando o país também enfrentou crise hídrica severa. Essa é a principal região para o armazenamento de água do Sistema Interligado Nacional. O setor elétrico reúne essas duas regiões geográficas em uma só região operativa.
— Demos mais um azar aí. E a chuva geralmente é até março. Agora a gente está na fase que não tem chuva. Mas tudo bem, vamos tentar aí ver como a gente pode se comportar aí — disse o presidente. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que, no período entre setembro e abril, foi registrada a pior afluência para os reservatórios da região onde estão as hidrelétricas desde que isso começou a ser registrado, em 1931.
Embora não veja riscos de falta de suprimento ou racionamento, até por causa da baixa demanda decorrente da crise provocada pela pandemia, o chefe do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, diz que o acionamento de usinas térmicas deve aumentar o custo da energia para os consumidores. – Se não tivesse uma pandemia e se a economia estivesse crescendo, talvez a gente tivesse tido problema de (abastecimento) já no ano passado – afirmou Ciocchi à Agência Reuters. A previsão do ONS é que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste cheguem em outubro com apenas 20% da capacidade, considerado muito baixo, mesmo com maior uso de térmicas e a produção de energia de fontes renováveis como eólica e solar.
Especialistas estimam que as contas de luz no país devem se manter mais caras até o fim do ano, com as chamadas bandeiras tarifárias amarela e vermelha para compensar o custo mais alto da geração térmica. Para o chefe do ONS, a pressão sobre as tarifas só deve se reduzir em 2022, com a chegadda do verão e da temporada de chuvas e com a expansão da capacidade de geração e transmissão.
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